Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Um dia destes, vou expor, aqui, a minha vida glamorosa. Só estou à espera de inspiração. Ou, então, de uma vida glamorosa.
“Durão Barroso deixa de ter tratamento VIP”. “Durão Barroso perde o direito a Passadeira Vermelha”. Os títulos poderiam ser sexy, mas são só hilariantes. Tratar o antigo presidente da Comissão Europeia como uma estrela de Hollywood (ou como uma estrela de reality shows) é ridículo. Diz muito da situação em que Durão Barroso se colocou , mas também diz muito do quadro de análise dos media.
O que se passa é que, ao deixar a Comissão Europeia, Durão Barroso optou por ir trabalhar para o banco de investimento Goldman Sachs. E o actual presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, diz que, por isso, Durão Barroso vai ser tratado enquanto funcionário da empresa e não como ex-presidente. Parece razoável. E óbvio. Devia ter sido óbvio, para Durão Barroso, que a sua entrada para Goldman Sachs iria levantar muitas questões: sobre as instituições europeias; sobre as relações entre a política e o poder económico; sobre incompatibilidades e conflitos de interesses; e sobre o seu papel, no meio de tudo isto. A forma como é recebido é uma questão lateral.
E reduzir a situação a uma questão de “passadeira vermelha” é deixar a política nas mãos da imprensa cor de rosa.
“Sempre pensei que as pessoas que apareciam nas revistas não trabalhavam.” O Ricardo ficou espantado, quando lhe disse que o bar onde estávamos era do Gil do Carmo. O Gil estava a tirar finos, ao balcão. Na altura, o filho do Carlos do Carmo aparecia muito nas revistas, com a sua namorada Nayma. Depois, as revistas voavam até aos Estados Unidos, onde o Ricardo as folheava, em casa da mãe.
Hoje, vi um personagem das revistas: o Tino de Rans. O Tino entrou num congresso do PS. Depois, entrou num Big Brother VIP - um programa em que cada pessoa protagoniza uma caricatura. Com o Tino, é difícil saber onde acaba uma e começa a outra. Tratam-no como um cromo e ele joga com isso, o que revela só revela a sua inteligência.
Mas, chamar VIP, ao Tino, causa estranheza. O Tino é calceteiro e, quando o vi, estava a trabalhar. Um trabalho duro, a partir pedra, ao sol. É o oposto do glamour. E, no entanto, estava a fazer um trabalho Very Important.
Ainda pensei em dizer-lhe alguma coisa, mas, entretanto, o Tino desapareceu. Perdi o Tino. Tenho pena.
Temia-se um lista extensa: políticos, empresário, artistas, caras da televisão.
Mas, o DN vem agora dizer que a lista VIP só tinha quatro nomes. Vou repetir, quatro nomes: Cavaco, Passos, Portas e Núncio. Esta é a convicção do presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos.
Fui apanhado de surpresa. Temia uma lista extensa, com tantos nomes que, depois, diríamos: “Isto é que são os VIP?”. Mas não, parece que são quatro.
Tenho, então, quatro perguntas:
Alguém colocou Paulo Núncio à frente de 13 ministros (entre eles, a sua chefe: a ministra das finanças) e à frente de 37 secretários de Estado.
Parece que nunca ouviram falar de protocolo de Estado. Parece que nunca leram Paula Bobone. E deviam.
Quatro nomes não é uma lista. Não é, sequer, um memorando interno. É um post-it. A Lista VIP evaporou-se. É o VIP Vaporub.
O que é isso de ser VIP? Já vi muitas reportagens sobre o assunto: às vezes nas variantes “famosos”, “figuras públicas”, “jet set” ou “socialite”. Nestas categorias, encontramos membros da aristocracia ou da alta burguesia, alguns políticos, empresários, gestores, artistas, caras da televisão, profissionais do croquete, concorrentes de “reality shows”.
O VIP perdeu prestígio, mas ficou.
Há cartões VIP, entradas VIP, clientes VIP, tendas VIP, e agora, Contribuintes VIP. O que ganhamos quando estamos numa lista VIP de contribuintes? Um acesso especial nas finanças? Tem porta exclusiva, passadeira vermelha? Acumulam-se milhas? Atendem-nos mais depressa? Oferecem-nos vales de desconto? Tem flutes e canapés? Emprestam roupa de costureiro?
Uma lista VIP para os impostos é uma coisa bizarra. São VIP os que pagam muito, ou os que pagam pouco? Quem é que faz a lista? Onde é que se colocam os seguranças corpulentos?
Os Vistos Gold já davam um ar suficientemente pindérico do país. Não precisávamos de mais coisas VIP.