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Viagem ao Peru

por Miguel Bastos, em 10.02.25

machu picchu.jpg 

Vou dizer uma banalidade (é uma das minhas especialidades): gosto muito de viajar. Quando eu era mais novo, tinha muitos amigos que trocavam as férias por trabalhos que lhes permitiam pagar as roupas da moda, ou, mais tarde, a entrada para um carro em segunda mão. Eu fiz o contrário: troquei as roupas e o carro, pelas férias e pelas viagens. O dinheiro, curto, dava sempre para qualquer coisa excitante.
 
A Ana Jordão e a Joana Ferraz têm um programa sobre viagens, na RDP Internacional, e convidaram-me para falar sobre uma viagem que me tivesse marcado. Escolhi o Peru. Uma viajem que se previa gloriosa, até ao Machu Picchu. Onde, em vez de chegar como um conquistador, cheguei como um moribundo.
 
A conversa, animada, (obrigado Ana e Joana!) pode ser ouvida aqui:

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Centro Pompidou

por Miguel Bastos, em 22.01.25

pompidou.jpg 

Paris. Lembro-me que chegámos, excitadíssimos, ao Centro George Pompidou. As 10 horas ainda não tinham chegado e a manhã já era quente, luminosa e barulhenta. O edifício revelava-se a escultura pós-modernista das fotografias: vidro, metal, túneis de teletransporte, tubos de todas as cores. E o melhor estava para vir: Kandinsky (eia!), Matisse (hum!), Picasso (uau!), Miró (fuuu!). Depois de uma sanduíche leve, e breve, mais telas, mais esculturas e instalações, e mais "uaus!" de alegria e espanto. As horas foram passando, as pernas começaram a pesar, a barriga a reclamar que a arte não puxa carroça. Já não respondemos, com excitação, às instalações de Yoko Ono e bordejámos, exaustos, o urinol de Duchamp. Saímos, cilindrados, da nave espacial - a sentir os efeitos do "jet leg" no corpo. Eram, novamente, 10 horas. Só não eram da noite, como nesta fotografia, porque estávamos no verão. O Pompidou foi uma experiência do outro mundo. Creio que ainda é.

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Paris, sempre

por Miguel Bastos, em 14.03.23

paris.jfif 

Gosto muito destes dois vizinhos: tão diferentes, tão iguais. Comecemos pelas capas. Parecem daqueles discos baratinhos, que se vendiam nas margens do Sena, a turistas apressados, na cidade dos clichés: "a cidade luz", "a capital do amor". "Ah, Paris!"; "Ah, o Arco do Triunfo!"; "Oh, a Torre Eiffel!". Na realidade, o disco original de Michel Legrand chama-se "I Love Paris" e não tem esta capa. Começa com o tema-título, o clássico de Cole Porter, e equilibra-se, ao longo do disco, entre visões "de fora" e "de dentro" sobre Paris. Os compositores vão de Jerome Kern a Offenbach. As orquestrações, de Legrand, respiram "jazz" e "chanson", em doses generosas.
 
Se a Paris, de Legrand, é moderna e cosmopolita, a Paris, de Dimitri from Paris, é pós-moderna. Não rejeita um só cliché. Pelo contrário, assume-os todos: absorve-os, acentua-os e devolve-nos os clichés, de forma diletante e divertida. Inventa um personagem: o sargento Bill T. Hawthorne que terá desembarcado na Normandia, para libertar Paris, onde uma tal Monique lhe prendeu o coração, em Montmartre. Mostra o "Monsieur Dimitri", na sua "pied à terre", na Riviera francesa. A música, entrecortada por vários interlúdios, mistura rimos latinos, "house" e "funk", com música de bar de hotel e filmes de espiões. Uma delícia. No final, ouve-se alguém a dizer: "Ah, Paris sera toujours Paris". Será. Paris será o que cada criador quiser. Será o que cada um de nós quiser.

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Terroristas

por Miguel Bastos, em 07.02.23

turquia.jpg

- Ai credo, que ainda vamos num avião cheio de terroristas!
De capacetes, coletes e calças com bolsos laterais, botas militares, e um conjunto de artefactos: pistolas, martelos, cordas, arneses, lanternas, ferramentas diversas. Um sem-fim de objetos e acessórios.
- Devem ir num avião à parte.
Não foram. A minha amiga voltou a arrepiar-se, quando os viu a entrar no avião. No nosso avião. O jornal, acabado de distribuir, sossegou-a e desassossegou-a, ao mesmo tempo: "sismo na Turquia". Os "terroristas" (japoneses, pelo aspeto) chegavam à Europa, para participarem em operações de resgate. Os "terroristas" mudaram de aspeto. Eram, agora, generosos, valentes, solidários. Tão diferentes dos outros: imaginados.

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Peru

por Miguel Bastos, em 21.12.22

peru.jpg 

- Olha, um peru!
- Como é que lhe chamaste?
- Peru. Em português, este animal tem o nome do teu país.
- Não acredito!
- Acredita, que é verdade.
O Peru volta a estar em crise. Estou chateado que nem um peru.
A Consuelo não vai perceber a expressão, mas, talvez, acredite.

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No fim do mundo

por Miguel Bastos, em 06.09.22

pomarao.jpg

Os portugueses foram até ao fim do mundo. Ainda vão. E continuam a deixar fins do mundo, atrás de si. No outro dia, estive num fim do mundo. Foi lá, a sul, numa varanda sobre o rio, que conhecemos Judy (chamemos-lhe assim): a serpentear por entre as mesas, a espalhar sorrisos e a sussurrar sotaque. Perguntamos-lhe pela origem do sotaque. Pergunta-nos pela origem do nosso. Respondemos. "Então, somos todos do norte", diz a sorrir, enquanto nos leva até à dona da varanda, "mas ela é da mesma terra que vocês". E, assim, recordamo-nos que o mundo é uma pequena aldeia. Uma aldeia repleta de fins do mundo.

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Exóticos

por Miguel Bastos, em 25.07.22

Em Tóquio, um grupo de jovens quis tirar uma fotografia connosco. Foi em Shibuya - um bairro da moda, onde os jovens se costumam juntar. "You're so exotic", dizia a rapariga japonesa de cabelo cor-de-rosa, top com purpurinas, mini saia leopardo, meias de renda e sapatilhas. "Exotic? Quem, nós?!", perguntámos. Nós, exóticos pela primeira vez. E tirámos uma foto. Uma "purikura" (foto tipo passe, autocolante), que o tempo ainda não era de "selfies" e os telemóveis ainda não eram inteligentes. Eramos exóticos, sim: europeus, do sul - baixos, morenos, cabelos ondulados, narizes grandes. Aos nossos olhos, eles também eram, claro. Olhos que, por sua vez, eles consideravam do mais "exotic" que há. Lembro-me que, nessa noite, fomos dançar para uma discoteca que passava, sobretudo, música de inspiração brasileira: samba e bossa nova, misturada com jazz e música eletrónica de dança. Dançámos, juntos, com os jovens modernos de Shibuya. Eles porque era "exotic". Nós porque - pela primeiro vez, em vários dias - nos sentíamos em casa, estando no centro de Tóquio. O que, também, acaba por ser exótico.

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Igrejas

por Miguel Bastos, em 08.06.22

bucarest.jpg

- E, ali, é uma igreja.
- Ali, onde? - pergunto.
- Ali, do lado esquerdo.
- Não vejo nada.
- Ali, no meio dos prédios.
- Mal se vê - insisto.
- Era aí que eu queria chegar. Durante muitos anos, os comunistas tentaram que as pessoas abandonassem a religião.
- Sim...
- Mas, como não conseguiram, mandaram esconder as igrejas no meio dos prédios.
- Isso é tão surreal.
- É, mas é muito romeno.
[Fotografia: Daniel Mihailescu / AFP]

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Sierra Nevada

por Miguel Bastos, em 23.04.22

gelo.jpg

Limpar o congelador. A Sierra Nevada dos pobres.

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