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Aula sobre democracia

por Miguel Bastos, em 24.04.23

cravos.jpg 

O presidente da República fez mais de 500 quilómetros para assinalar os quase 50 anos de democracia, em Portugal. Recorreu à sua vocação de professor e aos seus dotes de comunicador, para dar uma espécie de aula sobre democracia, num auditório repleto de jovens. O presidente foi recebido com grande entusiasmo. Os jovens bateram palmas e assobiaram, com a excitação reservada às celebridades. Depois, o presidente começou a falar e a juventude esmoreceu. Quando começou a distinguir a monarquia e a república, a Rita resolveu mergulhar no "Instagram". Quando abordou a guerra colonial, o João decidiu fazer uma guerra "online" com o colega do lado. A reflexão sobre a natureza dos partidos políticos foi ofuscada pelas imagens dos guerreiros de "wrestling" do telemóvel do Hugo. E a emergência do populismo não resistiu ao livro do Harry Potter (na realidade, o Harry Potter também não resistiu ao "TikTok" - pois não, Mafalda?"). Bem sei que estava na fila de trás (local onde se costumam sentar os jornalistas e os maus alunos). Bem sei que, nas filas da frente, havia alunos interessados e participativos. Mas, foi uma espécie de constatação "in loco" de algumas das assimetrias sublinhadas pelo presidente: na política ou na educação "há muito bom e há muito mau". O presidente exortou os jovens: "participem", "envolvam-se", "manifestem-se". Uma parte significativa não respondeu, porque estava demasiado ocupada, a bocejar, no ciberespaço. A dada altura, o presidente contou uma história para ilustrar a importância das pessoas se manterem independentes dos cargos políticos: "Eu tinha colegas meus, jovens, que tinham acabado de sair da faculdade e foram convidados para secretários de Estado. Quando saíram do governo não sabiam o que fazer. Achavam que, depois de terem sido secretários de Estado, só podiam ser ministros ou presidentes de um banco". "O que é que achas que eu devo fazer?", perguntavam-lhe. "Eh, pá! E se fosses trabalhar?", respondia-lhes. A resposta (como é evidente) não é válida, apenas, para ex-secretários de Estado. No final - de novo - as palmas e os assobios, reservados às celebridades. E uma selfie (claro!), para partilhar no ciberespaço.

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Ouve muito jazz?

por Miguel Bastos, em 31.03.23

José Duarte tem uma janela linda, de Siza Vieira, virada para a Ria. Hoje, fui revê-la e conversar com a professora Susana Sardo sobre o espólio que José Duarte doou à Universidade de Aveiro, há cerca 20 anos. Por essa altura, conversei com ele. Comecei por citar as suas palavras: "Jazzé, quem é? Jazzé é de como Jozé vivia o jazz." Pedi-lhe para assistir a uma das suas aulas. "É para viver o jazz?", perguntei. "Talvez sim". E falámos de jazz e de outras músicas e de rádio e de livros. "Ouve muito jazz?", perguntou-me. "Não", respondi, "mas tento muito". "Não desista." José Duarte morreu, aos 84 anos, depois de seis décadas ao serviço do jazz. A conversa, com Susana Sardo, está aqui.

https://www.rtp.pt/play/p1467/e682144/entrevista-tarde-antena-1

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Uma casa para Eugénio 2

por Miguel Bastos, em 22.01.23

 arnaldo saraiva.jpg

Durante vários anos, os amigos procuraram uma casa para o poeta, no Porto. E encontraram uma casa, na Foz, que foi, também, a sede da Fundação.
 
A morte do poeta, há quase 20 anos, fez extinguir a Fundação e o espólio de Eugénio de Andrade deixou de ter casa.
 
"Uma casa para Eugénio" é uma reportagem do jornalista Miguel Bastos, com sonoplastia de Rui Fonseca.
 
Para ouvir: clique na imagem ou no link.

https://www.rtp.pt/noticias/cultura/uma-casa-para-eugenio_a1461353

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Comó Cavaco Silva

por Miguel Bastos, em 29.11.22

barroso soares cavaco.jpg 

A avó não parecia muito convencida.
- Então, mas ela não tinha acabado o curso?
- Já. Mas, agora, vai receber o diploma de doutoramento.
- Mas, ela não era doutora?
- Era. Quer dizer, mais ou menos. Era licenciada.
- Não percebo.
A avó não estava, mesmo, convencida.
- Quando as pessoas tiram o curso, são chamadas de doutora.
- Mas tinha acabado, ou não?
- Acabou. Mas, depois, tirou o mestrado e, de seguida, o doutoramento.
- Não percebo nada.
- Por exemplo, está a ver o Mário Soares?
- O que é que ele tem?
- Tem um curso, uma licenciatura. É, por isso, que dizemos "o doutor Mário Soares".
- Exato.
- Já o Cavaco Silva...
- Ele não fez o curso?
- Fez, mas fez mais do que isso. Depois de fazer o curso - como o Mário Soares - , foi estudar uns anos para o estrangeiro e tirou o doutoramento.
- Hum...
- Por isso, é que lhe chamam "Professor Cavaco Silva" ou, então, "Professor Doutor Cavaco Silva".
- Ahhh...
- Porque é doutor - como o outro - mas está um patamar acima. Para além de doutor, é professor.
Desta vez, a avó pareceu mais convencida. Uns dias depois, ouvi a conversa.
- Então a sua neta, está boa?
- Está. Sabe, ela agora é doutora...
- Sim, senhora. Parabéns!
- Mas não é "comó" Mário Soares, não.
- Ai, não?!
A avó, de peito inchado e dedo em riste.
- Não, ela, agora, é doutora "comó" Cavaco Silva!

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Lar, doce lar

por Miguel Bastos, em 08.10.20

lar.jpg

Chamava-se "Lar do pescador", mas para nós era a "D. Alice". Ficava junto à antiga lota, inaugurada pelo Almirante Américo Thomaz, nos anos 50, e abandonada na euforia do Portugal na CEE, em favor de um local mais perto do mar. Mas, apesar da lota ter partido aos poucos (e já a cair aos poucos) o "Lar do pescador" foi ficando e resistindo. Muitos pescadores, de partida ou a chegar, continuavam a passar na D. Alice: para uma sopa, para um copo de vinho, para uma sandes, para um café. Para dois dedos de conversa, anedotas e disparates. Para abraços e rodadas. Para forrar o estômago e afastar o sono. A D. Alice e os pescadores viram a fauna a crescer e a diversificar-se: homens da construção, operários, guardas noturnos, prostitutas, notívagos, estudantes universitários. Já não sei quando fechou. Mas, antes de fechar, o "Lar do pescador" foi uma casa aberta.

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