Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
"Ai, queridos, estou tão triste. O meu Balsemãozinho vai-nos vender a todos!" A nossa camarada tinha todas as razões para estar triste. O último grande patrão dos media preparava-se, na altura, para vender todas as revistas do grupo Impresa. "Sabe-se lá, para quem é que vamos trabalhar..." Esse era, de facto, um grande problema. E continua a ser. Para o melhor e para o pior, sabia-se de quem eram as revistas. Quem era o "patrão". A quem é que se devia dirigir os elogios. A quem é que se podia fazer críticas, pedir responsabilidades e exigir explicações. Os grandes patrões dos media têm vindo a ser substituídos pela mão invisível do capitalismo financeiro. Sem rosto. Cada vez mais, os jornalistas, essenciais para o escrutínio da democracia, trabalham para organizações que são muito pouco escrutinadas e muito pouco escrutináveis. São fundos, que detêm empresas, que controlam outras empresas, que se dizem donos das empresas de media. O que poderão dizer, atualmente, os jornalistas com a vida em suspenso: "Ai, a minha "comparticipadazinha", com capitais de risco, vai-nos vender a todos" ou "Ai, o meu "offshorezinho" vai-me despedir"?
"A rádio dá a ver. Pode parecer obsceno, mas muitas vezes a rádio consegue dar a ver com maior eficácia, com maior verdade, do que a televisão." Fernando Alves, no Público. Estou a ver a rádio, no jornal.
Não sou da TSF. Nunca fui. Mas quis ser. E tentei. Depois de uns telefonemas, fui recebido por um jornalista, da velha guarda: afável, bonacheirão. "Portanto, gostavas de vir para cá trabalhar?", perguntou-me. "Sim", respondi "gostava muito". "Ouvi umas coisas tuas, vi o teu CV, mas temos um problema". "Ai, sim?", disse eu, a adivinhar a resposta. "É que nós não estamos a admitir pessoas, estamos a despedi-las". E, mais à frente, "Gostava de te dizer que isto é uma fase, mas acho que não é. Estes gajos não vão descansar, enquanto não acabarem com esta mer... Desculpa, não te devia estar a dizer estas coisas. És jovem, tens sonhos e tal... " Foi há mais de 20 anos. Tem sido assim, há mais de 20 anos, a pensar que "pior é impossível". Infelizmente, não é. É sempre possível. Só não é surpresa. Devia ser, mas não é.
O líder do PSD responde a uma pergunta. Depois, responde a uma segunda. E, finalmente, responde a uma terceira. Três perguntas feitas, inevitavelmente, por três jornalistas da televisão. Depois, o líder do PSD faz um movimento para trás, em direção ao microfone: "e um bom ano para todos". "Bom ano!", ouço alguém a responder. Reconheço-lhe a voz. É de um camarada da rádio. A rádio: um meio que a generalidade dos políticos teima em ignorar. Mesmo agora, numa altura em que uma delas se está a afundar, perante a estupefação de tantos. Claro que esta é a altura de arregaçar as mangas, pegar num balde e tirar a água do convés. Mas nada nos impede de pensar, como é que chegámos aqui.
O discurso do CDS, na noite eleitoral, foi de vitória. Mas, entretanto, já há vozes a pedir reflexão interna. Um clássico. Como sempre, os pedidos de "reflexão interna" são feitos publicamente.
Coisa rara: a rádio, nas páginas do jornal. O sr. Macedo, no Público, a falar da rádio - do direto e das diretas. Foi a ouvir rádio (Manuel Alegre, na Rádio Portugal Livre), que o jovem António descobriu a política. Antes, também a ouvir rádio, já tinha decidido o que queria ser quando fosse grande. O que foi (e é): um grande homem da rádio.
Sempre que me dizem que o jornalismo português é "muito à esquerda", tendo a sorrir. O jornalismo e os jornalistas podem e devem ser criticados e escrutinados. Mas, tão ou mais importante, é saber quem detém os órgãos de comunicação social. São esses que depois escolhem administradores e diretores, que definem as políticas editoriais. A máxima "follow the money / sigam o dinheiro" - usado nas ciências políticas - aplica-se aqui, em todo o seu esplendor. E os patrões dos media estão, de modo geral, muito longe de serem "muito à esquerda". Recentemente, o setor sofreu muitas alterações: da restruturação dos grupos Impresa e Media Capital; à consolidação do grupo Cofina no setor televisivo; passando pelas transformações recentes com a entrada do grupo BEL, no grupo Global Media. É sobre este grupo (que detém o JN, o DN, O Jogo e a TSF) que o jornalista Miguel Carvalho se debruça, esta semana, na Visão: com uma investigação sobre o novo "tubarão dos media", Mário Galinha. Parece canja, mas não é.