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- Vais trabalhar?
- Vou.
- Dou-te boleia?
- Não vale a pena.
- Deixa-te de coisas. Cantamos pelo caminho.
- Obrigado, boss.
Queridos pés,
Peço desculpa por interromper, mas acabam de me dizer que está na hora de dar corda aos sapatos.
Obrigado
Miguel
De peito cheio e olhos a cintilar, o senhor Lemos e a dona Conceição mostram-nos o carro novo. É um SUV alemão, de vários milhares de Euros. Marca a venda do negócio e a chegada da reforma. O corolário de uma vida, inteira, de trabalho e sacrifício. O SUV irá levá-los à terra, com todo o conforto; e ao Algarve, com todo o estilo. Uma vida, inteira, num carro alemão. Arrisco a pergunta, retórica: "Ainda estiveram uns anos fora, não foi?" "Sim", responde o senhor Lemos, "estivemos 11 anos em França". "E, antes disso", acrescenta a dona Conceição, "estivemos 11 anos em Lisboa". "Que engraçado", digo,"11 anos, em cada lado". Afinal, penso, a vida pode ser como no futebol. São 11 contra 11. No final, ganha a Alemanha.
"No outro dia, estive na estalagem." A tia arqueou as sobrancelhas. "Na estalagem, onde trabalhou." Acenou com cabeça. "É muito bonita. A entrada, com aqueles azulejos, pequeninos, pintados à mão." Sorriu. "A salinha do café, com aquelas cadeiras de pele, baixinhas." Sorriu, de novo. "Não cheguei a ir à sala de jantar." Silêncio. "É bonita?" Encolheu os ombros. "A sala de jantar", insisti. "Nunca lá entrei", respondeu. "A sério? Trabalhou lá tantos anos!" "O pessoal da cozinha", disse, num fio de voz "não podia ir à sala." "Nem quando estava vazia?" Abanou a cabeça. Não. A nenhuma sala. Era, assim, o Portugal dos pequeninos. Dos pobrezinhos, do respeitinho. Gostava de ter ido à estalagem, com a tia. Não fui. Fecharam, as duas, há vários anos.
Os bares e as discotecas vão reabrir. As "reuniões de trabalho" (é uma daquelas designações estrangeiras da moda) voltam a ser legais.
Entusiasmado pelo calor da campanha, António Costa resolveu criticar o desempenho dos autarcas do PCP, dizendo: "Nós estamos aqui para trabalhar. Nós não estamos aqui para reivindicar que os outros trabalhem, por conta de nós". Eu, que tenho muito respeito pelos trabalhadores por conta de outrem, estranhei o tom. Fez-me lembrar o "deixem-me trabalhar", exigido por um antecessor de Costa. Ele há tiques...
[Foto: Tiago Petinga / Lusa]
Um estudo, apresentado esta semana, indica que o teletrabalho mudou o paradigma do mundo laboral. Mais importante do que cumprir um horário, é cumprir objetivos. Ontem, por exemplo, tinha um objetivo traçado e cumpri-o, na íntegra: não fiz nadinha.