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“Temos de preparar-nos para o pior, desejando que aconteça o melhor”, avisou o primeiro-ministro, no início da epidemia. O "optimista irritante" recorreu à antítese: uma figura de estilo que ilustra bem estes tempos - que são de luta, mas (também) de esperança. E ter esperança não é conversa dos livros de auto-ajuda. É (mesmo!) uma questão de sobrevivência. Por estes dias, o jornalista Tiago Alves tem trabalhado com a antítese: relatando, vivamente, a vida dentro da cerca sanitária de Ovar; contando, com sobriedade, histórias que nos fazem ter esperança nos seres humanos, ameaçados por um vírus com um nome ridículo, que lembra a pior ficção científica.
Hoje, no programa "Um mundo melhor", em parceria com Ana Rita Ramos, o Tiago conta a história de um casal de refugiados sírios, donos de um restaurante em Lisboa, que está a servir refeições gratuitas, aos profissionais de saúde. Foi a forma, que o casal encontrou, de retribuir a ajuda que recebeu ao chegar a Portugal. É uma história com um final feliz? Não, é uma história em que o "melhor" vem de quem passou pelo "pior". Mas a história está longe de ter chegado ao fim...
Pode ouvir clicando na imagem.
Ouvi o realizador belga, a dizer que, na Síria, o som é muito importante. A pessoas habituaram-se a ter os ouvidos alerta, para perceber se há guerra nas redondezas. Para perceber a que distância podem estar os tiroteios, os carros de combate, os bombardeamentos. Se podem sair de casa, ou se é melhor abrigarem-se.
As pessoas podem tentar ver pela janela. Mas serve de pouco. Os olhos pouco alcançam. Talvez a rua, os vizinhos da frente, o parque das traseiras. E se virem gente aos tiros e bombas a cair, é porque já é tarde de mais. O ouvido é, portanto, fundamental.
Ora, eu, que sou todo ouvidos, a viver numa sociedade dominada pelas imagens, achei isto muito curioso. E deixei-me ficar a ouvir, deliciado, a reportagem sobre o filme "Na Síria", de Philippe Van Leeuw. E, depois, o programa inteiro. O Cinemax, da Antena 1, com edição de Tiago Alves, é um programa sobre cinema feito, apenas, com sons. Sons que nos fazem ver, por antecipação. Por antecipação, como na Síria.