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A Argentina tem um novo Presidente. Javier Milei tem um ar de "Nouvelle Vague" francesa, mas é da velha guarda sul-americana.
Os portugueses foram até ao fim do mundo. Ainda vão. E continuam a deixar fins do mundo, atrás de si. No outro dia, estive num fim do mundo. Foi lá, a sul, numa varanda sobre o rio, que conhecemos Judy (chamemos-lhe assim): a serpentear por entre as mesas, a espalhar sorrisos e a sussurrar sotaque. Perguntamos-lhe pela origem do sotaque. Pergunta-nos pela origem do nosso. Respondemos. "Então, somos todos do norte", diz a sorrir, enquanto nos leva até à dona da varanda, "mas ela é da mesma terra que vocês". E, assim, recordamo-nos que o mundo é uma pequena aldeia. Uma aldeia repleta de fins do mundo.
Em Tóquio, um grupo de jovens quis tirar uma fotografia connosco. Foi em Shibuya - um bairro da moda, onde os jovens se costumam juntar. "You're so exotic", dizia a rapariga japonesa de cabelo cor-de-rosa, top com purpurinas, mini saia leopardo, meias de renda e sapatilhas. "Exotic? Quem, nós?!", perguntámos. Nós, exóticos pela primeira vez. E tirámos uma foto. Uma "purikura" (foto tipo passe, autocolante), que o tempo ainda não era de "selfies" e os telemóveis ainda não eram inteligentes. Eramos exóticos, sim: europeus, do sul - baixos, morenos, cabelos ondulados, narizes grandes. Aos nossos olhos, eles também eram, claro. Olhos que, por sua vez, eles consideravam do mais "exotic" que há. Lembro-me que, nessa noite, fomos dançar para uma discoteca que passava, sobretudo, música de inspiração brasileira: samba e bossa nova, misturada com jazz e música eletrónica de dança. Dançámos, juntos, com os jovens modernos de Shibuya. Eles porque era "exotic". Nós porque - pela primeiro vez, em vários dias - nos sentíamos em casa, estando no centro de Tóquio. O que, também, acaba por ser exótico.