Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A Madalena saiu da ginástica. Fez bem. Toda a gente sabia que os russos, comunistas, raptavam os melhores atletas para os levarem aos Jogos Olímpicos. A Madalena não era das melhores. Mas, antes que viesse a ser, levantou-se, de mansinho, do banco sueco e nunca mais voltou. Esperta! Até porque, se fosse malsucedida nos Jogos Olímpicos, não se iria livrar de uma estadia prolongada na Sibéria. Isto, claro, se as coisas começassem por correr bem. Porque, o mais certo, é que fosse, de imediato, comida ao pequeno-almoço. A Madalena era criança, coitada! Pior, nós também. Que arrepio! Tínhamos que agir depressa. Pensámos nas várias hipóteses. Decidimos aplicar a velha máxima: "o ataque é a melhor defesa". Ou seria ao contrário?! Bem, não interessa. O certo é que partimos em bando, para nos podermos proteger. Uns aos outros. Fomos comer russos, para a pastelaria em baixo da sede dos comunistas. Resultou. Afinal, quem é que come quem? Ah, a vingança nunca foi tão doce!
"Não digam 'russos'", corrigiu a professora de geografia. "Mas eles não são russos?", perguntou o Artur. "Não", corrigiu a professora, "são soviéticos." "É a mesma coisa", insistiu o Artur. "Não seja burro. Só é a mesma coisa, para pessoas ignorantes e preconceituosas". A professora de geografia conseguia ser tão assertiva, que nós traduzíamos a designação "assertiva" por "quilhada", ou outras mais... mais... assertivas. Mas, a professora conseguia, também, ser pedagógica. E, antes de mergulhar - com entusiasmo - nos "colcozes" e nos "sovcozes", lá explicou a diferença entre a Rússia imperialista, dos czares, e a União Soviética generosa, dos socialistas. Na altura, achei que tinha percebido. Hoje em dia, não tenho a certeza.