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A D. Helena era uma crente fervorosa do PSD. Mas afirmava, entre duas vassouradas, que não gostava do Marcelo. Porque não percebia nada do que ele dizia. “Olhe que não, D. Helena!", repetia-lhe eu, "Olhe que não”. Mas ela não cedia. Gostava do Santana, que, ainda por cima, era mais giro. Estávamos, ainda, na ressaca do cavaquismo. Rebelo de Sousa liderava o PSD, mas não o coração das donas helenas. Nessa altura, difundiu-se a ideia que, sendo um intelectual, Marcelo não chegava ao povo.
E, de facto, Marcelo chegava, com facilidade, às páginas dos jornais; aos microfones da rádio; aos corredores do poder; às mesas dos pensadores e dos conspiradores. Mas não conseguia “subir ao povo”, como diz o Carlos do Carmo. Isso mudou, claro.
Hoje, Marcelo bate recordes de popularidade. O Presidente da República tem uma avaliação positiva de 97% dos inquiridos pela sondagem da Católica (para a Antena 1, a RTP, o JN e DN). A popularidade de Marcelo coincide com uma altura em que se fala de populismo. São coisas bem diferentes. Estou, até, convencido que ser popular pode ser um antídoto contra o populismo.
A noite era de legislativas, mas a TVI resolveu falar de presidenciais. Uma sondagem (mais uma!) dizia que Marcelo Rebelo de Sousa poderá ser o próximo Presidente da República. Marcelo, o comentador, estava a comentar as eleições e foi desafiado a comentar-se, uma vez mais. “Não vou comentar”, disse o professor, “ainda mais em noite de eleições”. José Alberto Carvalho insistiu. Marcelo pareceu incomodado, mas não cedeu.
No dia seguinte, Marcelo comentava “o dia seguinte”. José Alberto insistiu que gostaria que o professor comentasse a sondagem da TVI, sobre presidenciais, uma vez que “já não estamos em noite de eleições”. Marcelo recusou. Quando tiver que falar do assunto, não será na TVI.
A candidatura presidencial de Marcelo é um segredo de polichinelo. Marcelo joga com isso, divertido. Mas, a TVI podia ser mais discreta a tentar vender um presidente. Não lhe fica bem. Emídio Rangel disse que uma estação de televisão, com mais de 50% de share, vende um Presidente da República. Pode ser que sim. Pode, mas não quer dizer que deva. Marcelo sabe disso.