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Saímos do cinema, a meio do filme. "Irreversível", de Gaspar Noé, tinha sido anunciado como um "filme-choque" (coisa que, normalmente, não me agrada), mas estava coberto de boas críticas e de recomendações de amigos. Tentámos a nossa sorte, numa tarde de domingo. O filme avançava, em espiral, praticamente sem imagem, mas explicitando tudo em som: sexo, violência e terror. Confirmou-se: "filme-choque". Saímos, a meio, atordoados, com a cabeça e o estômago às voltas. Saímos para a avenida. Caminhámos, vagarosamente. O ar fresco e o bom tempo foram-nos recompondo. Olhámos um para o outro, à porta do museu: uma retrospetiva de um artista contemporâneo. "Entramos?". Entrámos. "Artista provocador, que aborda a sensualidade e a sexualidade, de forma crua, irreverente e provocadora. Um olhar inquietante e blá, blá, blá, e blá, blá, blá". Instalou-se, de novo, a sensação de enjoo. Voltámos para casa. Comemos em frente à televisão, na companhia de um programa de canções. Parece que um dos concorrentes tem uma burra. "Tens uma burra?", pergunta a Catarina. "Tenho". "Eu também. Podíamos juntar as duas, para ver se acasalavam". Rompemos numa gargalhada. "Ai, que parvoíce", diz a Catarina, "se são duas burras, não podem acasalar". Voltámos a rir. Tanto e tão alto, que (soubemos depois) deixámos a vizinhança preocupada. Não sei se estão a ver o filme: ligar a televisão foi a decisão mais inteligente do dia. Fomos salvos pela burra da Catarina.
[Foto Nelson Garrido]
Conselho do Cardeal Patriarca de Lisboa aos católicos que voltam a casar: abstinência sexual. Eu abstenho-me. Mas, só de comentar...
Há uns anos falava-se muito de temas fraturantes. O termo veio do PS, mas passou a ser associado também (ou, sobretudo) ao Bloco de Esquerda. Desta vez, o tema “fraturante” é a Eutanásia. Discutiu-se hoje, na Assembleia da República. Ou, pelo menos devia-se ter discutido. É que, às vezes, fica a sensação de que nem vale a pena discutir. Toda a gente já sabe tudo. Dentro e fora da Assembleia. Há 10 anos, vimos cartazes com imagens de bebés com mais de seis meses de gestação, a pedirem aos pais para não os matarem nos cartazes. Hoje, tivemos este sinal de STOP. Afinal quem é que fratura?
Para algumas pessoas, parece que se vai começar a matar gente: a torto e a direito; e dentro da legalidade. Vão-se usar os mesmos argumentos de outras batalhas. A interrupção voluntária da gravidez ia acabar com o nascimento de bebés. O casamento de pessoas do mesmo sexo ia acabar com a procriação. A procriação medicamente assistida ia acabar com o sexo. É incrível como é que ainda há gente em Portugal!