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Saudades

por Miguel Bastos, em 24.04.24

chocolate.jpg 

As pessoas gostaram (mesmo!) das amêndoas de chocolate. "Que saudades!", disseram umas. "As melhores amêndoas de chocolate de sempre", disseram outras. "As saudades que eu já tinha destas amêndoas", disseram outras, ainda. As reações foram tão efusivas, que a marca das amêndoas se sentiu na obrigação de emitir um comunicado. Dizia qualquer coisa como "Agradecemos a reação dos nossos clientes, mas a verdade é que nunca tínhamos feito amêndoas de chocolate". É uma daquelas marcas que sofreu com a chegada do "progresso" e que, agora, beneficia (merecidamente) do mercado da "saudade". Lembrei-me desta história, porque, esta manhã, ouvi, na rádio, uma reportagem sobre o encerramento de mais uma loja histórica no centro da cidade. E depois, trocando de estação, ouvi um entrevistado a lamentar o fim do teatro radiofónico. "Mas ainda existe", diz-lhe o jornalista. "A sério?", espanta-se o entrevistado. "Sim". "Ah, não fazia ideia".
 
Andamos, todos, com tantas saudades, que temos saudades do que ainda existe e, até, do que nunca existiu.

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Orçamento

por Miguel Bastos, em 25.10.21

jardim.jpg

O destino é dado a ironias. Esta tarde, apanhou-me num banco de jardim, a ler umas coisa sobre o pântano. Lembram-se do pântano? Foi quando Guterres saiu do governo e Portugal entrou numa fase gloriosa da sua história: um governo de Durão Barroso; uma cimeira com o "George" nas Lajes; uma ida para o Iraque; outra para Bruxelas; um governo de Santana; outro de Sócrates; outro, ainda, mais do mesmo - mas (ainda) mais arrogante; o regresso de Cavaco; uma troika; um governo para além da troika. Ai, saudades do futuro! Esta tarde - dizia eu - estava a ler umas coisas sobre o pântano e o telemóvel alerta-me para a conferência de imprensa do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, para reagir ao chumbo anunciado do Orçamento, depois das tomadas de posição do Bloco e do PCP.

E estou eu a olhar para o telemóvel, quando passa por mim um grupo de jovens ativistas, vestidos de preto da cabeça aos pés. Os tempos estão difíceis e os jovens são o futuro. Ah, os jovens! Gritam, a plenos pulmões, palavras de ordem que não consigo decifrar. Seguem-se outros jovens que, primeiro, dançam a Macarena, e, depois, colocam-se de gatas, porque os tempos são de solidariedade e integração. "O país está de tanga", dizia Durão. Agora está de gatas, mas de máscara. A integração segue as normas da DGS, indiferente ao Orçamento. Os jovens são o futuro, negro. Vai ficar tudo bem. E vamos sair mais fortes. Para onde? Não se sabe, talvez em direção ao pântano. Ai, saudade!

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