por Miguel Bastos, em 13.06.24
António Variações morreu no dia de Santo António. E de Fernando Pessoa. E cantou Fernando Pessoa, a partir de um poema chamado "Canção". Sempre que ouço a "Canção", sinto um nó, na garganta, e um arrepio, na espinha. Escreve o Fernando e canta o António: "Mal oiço, e quase choro / E porque é que eu choro, não sei". A voz é sofrida, a melodia é fúnebre. É difícil não pensar na morte de Variações. Estaria, ele, consciente da chegada da sua própria morte, quando compôs ou cantou a "Canção"?
Tal como aconteceu com Pessoa, a obra de Variações só começou a ser descoberta, depois da sua morte. É certo que teve canções de sucesso, logo ao primeiro disco. Mas o segundo ("Dar e Receber", com os Heróis do Mar como banda de suporte) passou despercebido. Algo que foi agravado com a sua morte. O disco não foi promovido, o público lançou-se nos braços de outros artistas. Foram precisos vários anos, para que nos pudéssemos aperceber do artista que tínhamos perdido e (pior) continuávamos a perder. Um artista extraordinário e complexo. Sem heterónimos, mas repleto de Variações.