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Um dia inesquecível

por Miguel Bastos, em 26.09.22

dia inesquecivel.jpg 

Antonietta (Sophia Loren) acorda numa casa cheia de filhos. É dona de casa, diríamos nós. Um nome que se dá (ironicamente) a quem não é dono de nada: nem si próprio. Para ela, vai ser mais um dia como os outros. Para a família, que prepara com zelo, será "Um Dia Inesquecível". O dia em que Mussolini irá receber Adolf Hitler, com pompa e circunstância. O filme de Ettore Scola, não vai mostrar, no entanto, a Roma imperial em festa. Adivinham-se paradas militares, banhos de multidão, encontros palacianos. Mas, da festa, chega apenas o som, emitido pelos altifalantes. O som rodeia os únicos personagens que ficam em casa, num prédio, agora vazio: Antonietta e Gabrielle (Marcello Mastroianni). O som vai-se desvanecendo, à medida que os personagens vão mergulhando, um no outro e dentro de si próprios. No final do dia, "inesquecível", Antonietta irá voltar à algazarra que lhe esvazia a vida; Gabrielle irá partir, escoltado pela polícia, para o que, na melhor das hipóteses, será um exílio. Está visto, a história (não vou contar detalhes) não acaba bem. A Itália (sabemos, da história) não acabou bem. A Itália acorda, hoje, com saudades não sei de quê.

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Compreender a guerra

por Miguel Bastos, em 22.04.22

guerra fria.jpg

Compreender não é sinónimo de aceitar, nem de concordar, nem de justificar. Por exemplo, ao longo dos anos, tenho tentado "compreender" como é que foi possível Hitler conquistar tantos países europeus, em tão pouco tempo. Chamar-lhe ditador (que era), louco (sim), racista (claro), criminoso (pois), etc. não explica tudo. A verdade é que Hitler beneficiou do medo de uns e da indiferença de outros, da ingenuidade de uns e da cumplicidade de outros. Quando invadiu metade da Polónia, já tinha acordado, com Estaline, que a União Soviética invadiria a outra metade. Muitos dos países que a Alemanha invadiu, tinham largas fatias de população que simpatizava com o nazismo: fosse em França ou na Ucrânia. A União Soviética só mudou de ideias sobre o pacto de não-agressão, assinado com Hitler, quando já tinha tropas nazis no seu território. Os Estado Unidos só perceberam que tinham de entrar na Guerra, quando a guerra lhes entrou em casa. Nada disto "branqueia" o nazismo. Serve só para lembrar que o mal gosta de silêncios e de andar de mãos dadas.
Olhando para a Ucrânia: cem anos depois, a extrema-direita é um problema, sim; o nacionalismo é um problema, sim; a Rússia é um problema, sim. Na Segunda Guerra, os ucranianos, oprimidos pelos vizinhos de leste, acharam que, talvez, os invasores nazis fossem menos maus. Não eram. Foram agredidos antes, durante e depois da Segunda Guerra, por uns e por outros. O povo ucraniano não devia ser obrigado a escolher entre um mal e outro. Tem sido. Repetidamente.
A Europa democrática está ameaçada por movimentos de extrema-direita: autoritários e iliberais. França, que esteve dividida entre a heroica resistência e o regime colaboracionista de Vichy, vai a votos este fim de semana, dividida ao meio. De um lado, está a candidata, Marine, que herdou o nome e o partido de Le Pen pai - um colaboracionista. Marine é próxima do italiano Salvini, do húngaro Órban, do russo Putin. O russo, que quer "desnazificar" a Ucrânia, apoia líderes, partidos e movimentos conotados com a extrema-direita. Parece que há bons e maus nazis. Não há. Diz-se, muitas vezes, que a "história não se repete". Talvez não. Eu diria, porém, que se imita muito bem a si própria.
[Na fotografia: "A Guerra Fria", de Odd Arne Westad]

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A mocidade

por Miguel Bastos, em 14.02.22

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Vejam lá, como ela é moderna! Que nem precisa "de ver a RTP, a SIC, porque, com o Twitter, ficamos a par do que se está a passar, e com mais rigor do que quando é filtrado por alguém". Portanto, Zita Seabra só lê coisas à roda dos 140 carateres, mas gosta do expor o ego ao Sol, em 6 longas páginas. Um ego fresco e jovem, que anuncia a morte do PCP, do PSD e do CDS. E que exaspera com um Portugal envelhecido, que parece um museu. Zita sabe do que fala, porque ela também já foi muito velha. Lembro-me dela, em comícios e debates, com o seu ar de professora de liceu, de saquinho de cabedal a tiracolo, a apontar o dedo a jovens reformistas, como Mário Soares e Cavaco Silva. Mas, entretanto, Cavaco deu-lhe a mão e Zita aproveitou para fazer um "reset". E, depois, um "restyling" completo, com muito liberalismo e Vox e Chega e Salvini e os tweets de Donald Trump. Que bonita, a mocidade Zita!

Pode ler a entrevista aqui, ou na imagem

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