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António sorria. Revejo imagens suas, nos jornais e nas televisões, e está quase sempre a sorrir. Ele, que era um homem de batalhas. Ele, que era um homem de princípios. Talvez, porque defendesse convicções. Talvez, porque não confundisse adversários com inimigos. A sabedoria da idade, poderia ser uma ajuda. Mas, nas fotografias mais antigas, também o encontramos a sorrir. Coisa rara na política.
António sorria. Mesmo quando alertava para as ameaças à democracia; para os perigos da austeridade; para os ataques ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). Ele, que criou o SNS, em tempos de austeridade, a sorrir. No país do “muito riso, pouco siso”, o sorriso de António era uma benção.
António sorria. Não lhe faltava siso, nem conhecimento, nem experiência, nem trabalho. Trabalhou, de resto, até ao fim da vida. Este ano, editou o livro “Salvar o SNS”, com João Semedo, do Bloco de Esquerda, (outro lutador). Deixou, ainda, uma proposta para renovar o SNS que vai ser discutida e votada no parlamento. E tudo isto, a sorrir.
Não sei bem quem é Sofia Ribeiro. Sei que é atriz. Sei que é conhecida das novelas. Sei que tem cancro, porque a própria decidiu comunicar, publicamente, a sua sua doença. E sei que, agora, partilhou a sua careca no Facebook. Vi a sua imagem. É uma mulher linda. Claro que já era linda, antes do cancro.
Fiquei a pensar na subjetividade da beleza. Noutro contexto, centrar a atenção na sua beleza poderia ser despropositado ou, mesmo, ofensivo. Imaginemos que Sofia era candidata a um cargo político ou convidada para a administração de uma empresa, ou concorrente a um prémio científico ou literário. Realçar a sua beleza poderia ser visto como uma forma de menorizar a sua experiência, o seu conhecimento, a sua inteligência. Por outro lado, à beleza física das modelos, das misses ou das actrizes, tem-se procurado adicionar outros recursos e atributos, como, por exemplo, a inteligência.
Mas, quando se tem uma doença (grave, como é o caso) ser bela, permanecer bela é muito importante. Para manter a sua dignidade e a sua auto-estima, mas também para atribuir dignidade a qualquer ser humano, face a uma doença como o cancro. O cabelo é só um pormenor. E foi isso que Sofia Ribeiro quis realçar...