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"Shakira, Shakira!", dizia o rapper de gosto questionável, num tema de gosto questionável. "Devem ser duas", pensei. São duas. A primeira, conhecia-a algures nos anos 90 e achei-lhe graça. A segunda, não gostei nem um bocadinho. Era a cantora de "Whenever, Wherever". A canção pingava, várias vezes por dia, numa rádio inundada de azeite - que eu era obrigado a ouvir, por motivos profissionais. Uma dessas Shakira entrou, depois, na banda sonora do filme "O Amor nos Tempos de Cólera". Terá sido uma proposta do próprio Gabriel García Márquez. Na altura, o escritor afirmou que Shakira era uma das grandes cantoras da atualidade e um símbolo da nova sensualidade colombiana. "Coitado", pensei, "está velhinho"! Fui ouvir a banda sonora e... o velhinho tinha razão. Esta Shakira, é maravilhosa. A outra, não me interessa. Terá sido essa, que se separou do jogador de futebol e fez uma música sobre isso ("Fraquinha, fraquinha!"). Não gosto dessa, gosto desta. Ele há gostos... e Hay amores.
Coisas que se encontram no lar da minha mãe. Saúde e Lar. Saudinha é o que é preciso.
No fundo, no fundo, um livro é um conjunto de letras pretas imprensas em papel branco. Claro que precisa de conteúdo. Claro que precisa de ser bem escrito. E de ser revisto e paginado. E de (...), e de. Mas, se compararmos com o cinema, por exemplo, necessita de recursos muito escassos. Quando vou ao cinema, gosto de ver a ficha técnica para ver a quantidade de pessoas envolvidas: realizador, atores, produtores, figurantes, aderecistas, caraterizadores, carpinteiros, eletricistas, iluminadores, câmaras, iluminadores, engenheiros de som, sonoplastas... São dezenas e dezenas - às vezes, centenas e centenas - de pessoas. Eu fico, ali, a ver: por respeito e curiosidade, e, também, porque a banda sonora vem sempre no fim. Mas, há livros que parecem filmes de Hollywood, como "A Guerra Fria", de Odd Arne Westad. O livro é uma obra de fundo com mais de 700 páginas, divididas por mais de 20 capítulos. É uma grande produção espalhada pelos vários continentes, com investigadores, tradutores ou revisores de texto nesses/desses países. O autor precisou de 5 páginas, para agradecimentos, 15 para índice remissivo, mais de 30 para acomodar cerca de 600 referências. Claro que li tudo até ao fim, como no cinema. E (também aqui) a banda sonora chegou no fim. A última referência do livro é a citação de uma canção dos Depeche Mode - "Two Minute Warning" - que é, também, o título de um filme de Hollywood. Já agora, a canção - marcada pela ameaça da guerra nuclear - é das poucas canções que Alan Wilder escreveu nos Depeche Mode (uma banda que escolheu o nome de uma revista de moda francesa). Acho que já tinha feita a referência: gosto de fichas técnicas.
Melhor do que pobre e feio, é ser bonito e rico. É o caso de David Walliams, famoso pelos namoros com modelos, pelos programas de talentos, pelas revistas sociais. David é uma espécie de Ricardo Araújo Pereira: só que mais rico, mais elegante, mais famoso, mais popular, mais talentoso. O comediante genial de "Little Britain" é, também, um escritor de livros infantojuvenis. E é nessa qualidade, que é apreciado aqui em casa. David não escolheu o caminho mais fácil: no primeiro livro, aborda questões de género; no segundo, a amizade entre uma criança e um sem-abrigo, num outro um velho com demência. Em vários, foca a relação especial que pode existir entre os mais novos e os mais velhos, com uma graça e uma ternura invulgares. Não são os temas mais habituais, no universo da literatura infantil. Temas que ele aborda, de forma, simultaneamente, desconcertante e divertida.
Estou, aqui, a olhar para a capa da Visão. Está uma riqueza. Estão várias, até.
O estrangeiro, dizia alguém, é o país onde todos gostariam de viver. "No estrangeiro", dizem uns, "paga-se menos impostos". Talvez, se esse país for os Estados Unidos. "No estrangeiro", dizem outros, "temos melhores hospitais". Talvez, na Suécia. "No estrangeiro", acrescentam outros ainda, "as mães podem ficar com as crianças, em casa, até aos três anos". É verdade, na Alemanha. É verdade, e pode ser bom. Para quem gosta. A ex-ministra Constança Urbano de Sousa, descobriu, por experiência própria, que na Alemanha não havia creches. E não gostou. Está na entrevista da Notícias Magazine, deste fim de semana.
Na Alemanha (esse país estrangeiro e avançado!), a maioria das mulheres casadas deixa de trabalhar quando engravida. Como em Portugal, nos anos 40. O reverso de estar em casa com filhos, nos primeiros 3 anos, é não ter creches, nem carreira profissional. Nos Estados Unidos, os impostos são baixos, mas a qualidade da saúde pública também. E se a Suécia tem saúde, na hora de pagar impostos os suecos têm todas as razões para ficarem doentes.
Essa é a vantagem do estrangeiro. Podemos escolher o estrangeiro que quisermos, de acordo com as conveniências de cada momento. Só há um problema: o estrangeiro não existe. Mas, é melhor.
No ano passado, Mario Vargas Llosa foi notícia por se ter envolvido numa relação extra conjugal, com Isabel Preysler. Isabel é uma senhora que aparece nas revistas sociais. Foi casada com Julio Iglesias. É mãe de Enrique. É gira. Mario é um escritor, premiado com o Nobel. Foi candidato à presidência do Perú, mas perdeu para Alberto Fujimori, que transformou o regime numa ditadura. Mario tinha um casamento com 50 anos, que acabou depois do romance com Isabel ter saído na capa de uma revista. Mario estava habituado a ser capa das revistas: mas eram literárias ou de referência, não eram cor-de-rosa.
O novo romance de Vargas Llosa, Cinco Esquinas, mistura as coisas do primeiro parágrafo: sexo, revistas de escândalos, dinheiro, política, Perú, Fujimori. Imediatamente, a leitura torna-se apaixonada e compulsiva. Passamos, rapidamente, do lixo ao luxo; dos jogos eróticos aos jogos de poder; da penthouse ao bairro da lata. A escrita virtuosa de Vargas Llosa trespassa pelo novo livro do mestre. A dada altura, o escritor opta por uma espécie de polifonia. A cada parágrafo muda o protagonista, o discurso, a linguagem. Aumentando, ainda mais, o ritmo da história. Mas, no final, sabe a pouco. Porque será? Será demasiado parecido com a realidade?
“Quem vê TV, sofre mais que no WC”. Assim dizia a música dos Táxi, nos idos anos 80. Passados mais de trinta anos, o que é que as pessoas veem? TV, precisamente. O tema TV WC passava em revista a programação televisiva de então. Dois canais RTP, hino da TV a abrir, hino nacional a fechar. Desenhos animados, novelas, noticiários, concursos e variedades. Não mudou muito, pois não?
Durante anos, a salvação da televisão passava por… mais televisão. Primeiro era necessário criar a televisão privada; depois multiplicar canais; finalmente, segmentar, de acordo com o mercado. Durante este tempo todo, falou-se da morte da televisão. Pois, a notícia da sua morte foi sempre exagerada. Quase 100% das pessoas vê televisão, diz o estudo da Universidade Católica. Surpresa? Nenhuma.
A rádio, que “ninguém ouve”, é, afinal ouvida por 73% das pessoas. E uma maioria significativa lê jornais e revistas. Ao pé destes dados, ter 60% de pessoas como utilizadoras de internet é uma percentagem “mixuruca”.
Podemos discutir estes números? Podemos e devemos. Discutir mesmo. E não andar a reboque de propagandas pseudo-modernistas. Houve um autor que, há muitos anos, perguntava: “Não acham estranho que a morte do livro seja sempre anunciada em livro?”. Eu sempre achei. Ainda acho. Mas eu, levo os livro para o WC.
“Sempre pensei que as pessoas que apareciam nas revistas não trabalhavam.” O Ricardo ficou espantado, quando lhe disse que o bar onde estávamos era do Gil do Carmo. O Gil estava a tirar finos, ao balcão. Na altura, o filho do Carlos do Carmo aparecia muito nas revistas, com a sua namorada Nayma. Depois, as revistas voavam até aos Estados Unidos, onde o Ricardo as folheava, em casa da mãe.
Hoje, vi um personagem das revistas: o Tino de Rans. O Tino entrou num congresso do PS. Depois, entrou num Big Brother VIP - um programa em que cada pessoa protagoniza uma caricatura. Com o Tino, é difícil saber onde acaba uma e começa a outra. Tratam-no como um cromo e ele joga com isso, o que revela só revela a sua inteligência.
Mas, chamar VIP, ao Tino, causa estranheza. O Tino é calceteiro e, quando o vi, estava a trabalhar. Um trabalho duro, a partir pedra, ao sol. É o oposto do glamour. E, no entanto, estava a fazer um trabalho Very Important.
Ainda pensei em dizer-lhe alguma coisa, mas, entretanto, o Tino desapareceu. Perdi o Tino. Tenho pena.