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Um dia destes, farei um texto espetacular sobre a dignidade no trabalho. Será uma coisa como deve ser: bem pensada, bem escrita, com citações eruditas e notas de rodapé. Infelizmente, agora não tenho tempo. Tenho que pôr estas almofadas na cama, coitadas!
https://www.rtp.pt/noticias/cultura/uma-casa-para-eugenio_a1461353
Nesta altura, Arnaldo ainda era jovem e os poetas ainda eram vivos: Herberto Helder, à esquerda; Eugénio de Andrade, ao centro; Arnaldo Saraiva, à direita, que dedicou grande parte da sua vida ao segundo. Recebeu-me em sua casa, para começarmos a celebrar o centenário de Eugénio. A reportagem passa esta quinta-feira, depois das 10 da manhã, na Antena 1. Chamei-lhe "Uma casa para Eugénio". Obrigado Arnaldo Saraiva, Fernanda Ribeiro, João de Mancelos e João Rapagão, pela generosidade. Obrigado, António Jorge, pelo desafio. Obrigado, Rui Fonseca, pelo talento.
"Vejam, era aqui que elas guardavam as 'samsonites'", disse, apontando para o pequeno espaço, junto ao catre. Estávamos dentro de uma cela, num antigo mosteiro, na américa latina. Vitória, com o seu ar de tia, revelava-se uma excelente camarada de viagem e era dotada de um surpreendente sentido de humor: "A julgar pelo espaço, não traziam muita bagagem, coitadas!" Dedicámos alguns minutos (poucos, que o tempo em viagem voa, ainda, mais rápido) a imaginar a vida daquelas religiosas. O que levaria alguém a deixar tudo, para se dedicar a uma vida de clausura, ali, longe de tudo e de todos? Que vida teriam tido aquelas mulheres até aí? E que vida passaram a ter? Teriam, todas, o mesmo tipo de motivações? Ou foram parar ao mesmo local, por diferentes motivações? Questões parecidas terão estado na origem desta reportagem sobre um conjunto de monjas, que deixaram Itália para uma vida nova, na Aldeia de Palaçoulo, em Trás-os-Montes.
https://www.rtp.pt/noticias/pais/grande-reportagem-antena-1-a-fe-do-silencio_a1309846
[Foto: Paulo Nuno Vicente]
No livro "Barroco Tropical", José Eduardo Agualusa descreve-nos uma Luanda em decadência. O protagonista é um escritor, casado com a filha de um militar do regime. Vivem no topo de um arranha céus. Mas o prédio está inacabado. No topo, vivem os ricos. Nos andares enterrados no solo, vivem os indigentes, os traficantes, as prostitutas, os marginais. Normalmente, não se cruzam. Mas vivem debaixo do mesmo tecto. "Que alegoria tão forte", pensei. Angola deve ser isto.
O livro lembrou-me uma canção de Caetano Veloso e Gilberto Gil chamada "Haiti". Na altura, o Haiti tinha sido arrasado por um furação. Um dos muitos que, regularmente, assolam o país, demasiado habituado a furacões e miséria. E, perante as miséria do Brasil, a dupla canta "O Haiti é aqui". O Haiti pode ser ali, no Brasil; ou ali, em Angola. E pode ser aqui, em Portugal? Pode.
A Rita Colaço foi à Jamaica. Não foi em lua de mel. Não foi em cruzeiro. Foi em reportagem. O bairro da Jamaica, fica no Seixal, às portas de Lisboa - a antiga capital do império. É um conjunto de esqueletos de betão abandonados por um construtor falido. As pessoas - sem casa, sem terra, sem emprego - foram ocupando os prédios, piso a piso. Preencheram-nos de tijolos e gente. Abaixo do solo não está gente, como no livro de Agualusa. Mas estão dejectos de gente, a corroer a saúde da gente e do prédio. As fundações estão em perigo e um dia, enquanto as entidade discutem a solução para o problema, a casa vem abaixo.
Jamaika também é Portugal, diz Rita Colaço. Pois é, Rita. E "o Haiti é aqui".