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Marcelo Rebelo de Sousa teve um resultado histórico. Ganhou, com mais de 60% dos votos. Um resultado muito semelhante à primeira eleição de Ramalho Eanes, em 1976. Melhor, só a reeleição de Mário Soares, em 1991. Marcelo ganhou, em todos os concelhos de Portugal. Todos. O melhor resultado de sempre. Isto não pode, nem deve, ser desvalorizado. Chama-se democracia.
No fundo, eu gosto de livros.. porque a vida dos outros não me interessa nada.
“Querem é tacho!” “Não ligam ao povo!” “Só pensam nos votos!” “Não dão nada a ninguém!” São os políticos: na versão ‘gajo de alfama’, ou na versão ‘homem do norte’. Todos iguais? Claro que não.
Salgado Zenha e Mário Soares. Eram da mesma barricada, da mesma luta, do mesmo partido. E muito diferentes. Zangaram-se por causa de Eanes, dividiram o PS, separaram-se. Zenha era parecido com Eanes. Gostava dele. Soares não. Nas presidenciais de 1986, os dois fundadores do PS concorreram, um contra o outro. Zenha tinha o apoio do, então, Presidente da República. Na biografia de Ramalho Eanes, de Isabel Tavares, a secretária de Eanes, que dirigiu a campanha de Zenha, conta uma história, hilariante.
“Tínhamos uns lenços verdes e vermelhos para trazer ao pescoço. Uma senhora chega perto de senha e pede-lhe o lenço. Ele responde: ‘Não dou, que este é meu.’ Eu vejo aquilo e faço menção de tirar o meu para lho dar. Diz ele: ‘Não, não dá que esse é seu. Olhe, minha senhora, já não há lenços, já não leva nenhum’ Ele era assim. Deve ter perdido muitos votos”. Pois deve. E para alguém, muito diferente, que pensava mais em votos e menos em lenços.
Os políticos não são todos iguais. Mas é verdade: há políticos que não dão nada a ninguém. Normalmente, perdem eleições.
“Eanes é um senhor. Ontem, esteve bem ao falar do ultimato. Sampaio também esteve muito bem. São dois grandes senhores. Continuam a ser. Foram os melhores Presidentes da República. O Soares não foi mau. Esteve bem no primeiro mandato, mas no segundo excedeu-se. Não admira. É um egocêntrico. Só pensava em si. Era ele e ele e a mulher dele… Ainda bem que saiu.”
Não cheguei a saber o que é que a minha amostra de duas senhora na casa dos 60/70 anos, classe media alta, que frequentam a minha pastelaria acharam de Cavaco. De Marcelo, uma tem-lhe simpatia a outra responde “É muito fala barato e, em termos de ego, lembra o Soares”.
É, por isso, que é muito difícil de falar sobre “os portugueses”, atribuindo-lhe características comuns. Mário Soares foi um Presidente extremamente popular. E, no entanto, muita gente que não gostava dele. Como a senhora ao meu lado. A conversa começou com um “Viu o programa sobre o Marcelo?” e com a resposta “Não vi não. Mas também não me interessava muito, queria ouvir o Eanes e o Sampaio”.