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A situação deste fim de semana foi, realmente, Prigoza ou foi, apenas, Prigozhinha?
"O significa ser pró-russo?", quis saber o repórter Luís Peixoto, na região separatista do Donbass. E sintetizou: "Há os que nasceram na Rússia. Há os que sempre viveram na cultura russa. E os que, sentindo-se ucranianos, guardam mágoa ao país por bombardear o Donbass, há quase 9 anos".
Em Kiev e em Kharkiv, o repórter Nuno Amaral "pintou" a reportagem, com a melodia de uma canção que o ocidente conhece como "Hey, Hey, Rise Up!". A canção dos Pink Floyd (David Gilmour e Nick Mason), com o cantor ucraniano Andriy Khlyvnyuk. Quando saiu, a imprensa ocidental destacou que a canção "fez juntar os Pink Floyd em estúdio, pela primeira vez, em 28 anos". Mas, entretanto, Roger Waters (que foi o principal autor dos Pink Floyd) fez uma série de declarações que foram interpretadas como pró-russas. Depois, David Gilmour e Roger Waters trocaram palavras azedas, em público. Para todos os efeitos, a ideia que ficou foi que a guerra na Ucrânia dividiu os Pink Floyd.
A guerra divide sempre. Quando se fala em união, é, apenas, a união de uns contra os outros. A guerra na Ucrânia começou, há quase um ano. E nem na data, as pessoas conseguem estar de acordo.
"Guerra" é a Palavra do Ano, de 2022. Numa altura de abundância de palavras (ditas, escritas, gritadas, escarrapachadas), em que se usa e abusa das palavras, escolher uma palavra - uma só - por ano, soa a tarefa hercúlea. Quando a iniciativa da Porto Editora começou, perguntei-me se fazia sentido elaborar um "top" de palavras, submetê-las a votação e eleger uma só palavra. Porque a escolha pode refletir, apenas, a espuma dos dias. Mas, também é verdade que pode servir de barómetro, que ajuda a perceber os assuntos que mais preocupam os portugueses. No ano de 2022, marcado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, a palavra escolhida foi "guerra". As palavras relacionadas com a Covid-19, que tinham dominado os dois últimos anos (no ano passado foi "vacina"), desapareceram. Se passarmos por 2017, ano dos grandes incêndios, a palavra do ano foi, precisamente, "incêndios". Em 2011, o ano da chegada da troika, a palavra escolhida foi "austeridade". Uma palavra - uma só - pode dizer muitas coisas. Pode dizer muito.
Andei a dormir mal. Não posso alegar desconhecimento. Afinal, o autor tinha avisado: "Quanto menos soubermos, melhor dormimos". Mesmo assim, quis saber. Comecei a ler o livro (e a dormir mal). Resolvi parar. As férias estavam à porta, havia demasiado cansaço acumulado, e, se andava a dormir mal, passei a dormir pior. Mas, não dá para fechar os olhos, indefinidamente. Voltei ao livro de David Satter, com a queda da União Soviética e tudo o que se levantou a seguir. Nada bonito de se ver: o assalto ao Estado, as expropriações, os monopólios, a corrupção, o crime organizado, as oligarquias, o terrorismo de Estado. A utilização das forças de segurança, como arma política. A guerra, como arma política. A guerra, como projeto político. Se não fosse tão credível, o livro de David Satter era, apenas, um retrato grotesco e apocalíptico. Assim, é só inqualificável. Ainda pensei se, depois de uma leitura tão avassaladora, seria boa ideia passar para o livro seguinte: "Na cabeça de Putin", de Michel Eltchaninoff. Hesitei. Depois, fiz como no poema de Cesariny: "fechar os olhos frente ao precipício e cair verticalmente no vício". A estreia da editora Zigurate, de Carlos Vaz Marques, também se faz à beira do precipício. Com dois livros, que são "livrinhos" por fora", mas muito densos por dentro.
A Madalena saiu da ginástica. Fez bem. Toda a gente sabia que os russos, comunistas, raptavam os melhores atletas para os levarem aos Jogos Olímpicos. A Madalena não era das melhores. Mas, antes que viesse a ser, levantou-se, de mansinho, do banco sueco e nunca mais voltou. Esperta! Até porque, se fosse malsucedida nos Jogos Olímpicos, não se iria livrar de uma estadia prolongada na Sibéria. Isto, claro, se as coisas começassem por correr bem. Porque, o mais certo, é que fosse, de imediato, comida ao pequeno-almoço. A Madalena era criança, coitada! Pior, nós também. Que arrepio! Tínhamos que agir depressa. Pensámos nas várias hipóteses. Decidimos aplicar a velha máxima: "o ataque é a melhor defesa". Ou seria ao contrário?! Bem, não interessa. O certo é que partimos em bando, para nos podermos proteger. Uns aos outros. Fomos comer russos, para a pastelaria em baixo da sede dos comunistas. Resultou. Afinal, quem é que come quem? Ah, a vingança nunca foi tão doce!
George Friedman faz-me lembrar Durão Barroso. A dada altura, Durão disse que iria ser primeiro-ministro - só não sabia quando. Friedman disse que iria haver guerra na Europa - só não sabia onde. Mas deu várias hipóteses. Chamou-lhes "Focos de Tensão". Um dos focos identificados foi "A Rússia e as suas fronteiras", com o autor a descrever uma Ucrânia composta por uma população dividida entre as influências russa e ocidental. Afirma o autor: "Divisões como esta tornam a Ucrânia um terreno fértil para manipulações por parte de quem estiver interessado nela. Os russos estão cientes desta vulnerabilidade porque há muito que eles próprios têm vindo a manipular a Ucrânia. Por isso, os russos interpretarão qualquer envolvimento exterior como manipulação e ameaça potencial aos interesses fundamentais naquele país." Friedman parece que é bruxo. Mas, garantem-me que não é.