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- Por aqui tão cedo, Miguel?
- É. Esta manhã, edito a Antena 3.
- Não fizeste noticiários da Antena 2, este mês?
- Fiz e da Antena 1.
- Então, este mês fazes o pleno.
- Não, falta-me a RDP África e a RDP Internacional.
A aproveitar o sol, para tratar da roupas dos indígenas, enquanto ouço bons programas de rádio. Claro que, se fosse um serviço público a sério, punham uns tipos a ajudar na lida da casa. Aposto que a BBC nos vem dobrar as meias. Mas, enfim, é o país que temos.
Timor-Leste a caminho dos 20 anos. A jornalista Rita Colaço a fazer (belíssimas) reportagens, na Antena 1. Esta manhã, entrevistou José Ramos-Horta que, amanhã, toma posse como presidente da República. Releio este parágrafo, sobre o golpe de Estado na Indonésia, que, em 1965, instalou Suharto no poder: "Ao todo, foram mortas pelo menos 500 mil pessoas (...) Numa zona do país, os rios ficaram tão repletos de cadáveres que a água deixou de correr." Não é de admirar que um governo, que nasceu com esta violência, não tenha tardado a impor essa mesma violência aos vizinhos mais próximos. 20 anos, Timor. Foi quase um milagre. É quase um milagre.
A entrevista pode ser ouvida aqui: https://www.rtp.pt/play/p517/e618147/espaco-das-10
O parágrafo pertence ao livro "A Guerra Fria", de Odd Arne Westad.
Os meus amigos andavam doidos com o Sporting. Com os golos do Jordão e do Manuel Fernandes. Eu bem tentava, mas não conseguia partilhar o entusiasmo.
- Não gostavas de ir ao Estádio de Alvalade? - perguntava-me o João Manuel.
- Claro que sim - respondia.
Punha-me a pensar na viajem, longa; na cidade, esmagadora; no estádio, monumental. Uma aventura, que fazia com que o jogo, em si, me parecesse menos penoso. E, com um bocado de sorte, haveria tremoços e pevides.
- Se calhar, vou com o meu pai. E tu podes vir connosco.
- Uau, isso é que era!
Eu tentava mostrar entusiamo, quando fui surpreendido pelo anúncio: o Júlio Isidro ia trazer os Fischer-Z a Portugal, ao Estádio de Alvalade. Encontrei o João Manuel:
- Olá Jomané, como é que está aquilo de irmos ao Estádio?
- O meu pai diz que está à espera de um jogo que valha a pena.
- Achas que dava para irmos ver os Fischer-Z?
- Quem?
- É uma banda de rock.
- O meu pai gosta é do Jordão!
- Isso é porque nunca viu os Fischer-Z, ao vivo!
Acho que nunca chegou a ver. Nem eu. Mas fui ao Estádio de Alvalade, ver concertos de rock. E, vendo bem, não me importava de ter visto um golo do Jordão, ao vivo. Desde que houvesse tremoços e pevides.
Roubaram as sapatilhas a Fabrice. Caminhou seis horas, até à fronteira. Chegou à Polónia, descalço, com os pés inchados, com fome e sinais de hipotermia. Fábrice é congolês. Foi observado por Fernand, médico israelita. A história é contada por um português: Luís Peixoto, jornalista da Antena 1. A humanidade: no seu pior; e no seu melhor.
"Seis crianças, dois cães, oito adultos e um microfone". O repórter Nuno Amaral a enviar retratos, num "bunker" improvisado, na cidade de Rivne, a 300 km de Kiev: "um presépio pobre. Paupérrimo". Jornalismo.
[Um minuto e meio de rádio. Para ouvir aqui, https://www.rtp.pt/noticias/pais/abrigos-improvisados-sao-solucao-para-fugir-a-bombardeamentos-na-ucrania_a1388357 ou carregando na imagem]
Humorista, Ricardo Araújo Pereira gosta de fazer rir as pessoas, sem lhes tocar. O humor, defende, deve ter a capacidade de provocar uma reação física involuntária, usando, apenas, palavras. Na rádio, usamos muitas referências visuais. Dizemos "pintar uma reportagem", "tirar retratos", "fazer o filme", "levar ao local". A rádio cria imagens. É os olhos do ouvinte. A televisão também faz isso? Claro que sim, mas usa imagens. Que é como fazer rir, fazendo cócegas.
Em 1981, os Heaven 17 lançaram "(We Don't Need This) Fascist Groove Thang". A canção fazia alusões a Margaret Thatcher e referências diretas a Ronald Reagen, e alertava para os perigos do racismo e do fascismo. A banda vinha da eletrónica de laboratório, mas adorava "soul" e "funk" e, na melhor tradição da cultura negra norte-americana, fez uma música que apelava à dança, com uma letra que recorria ao calão da rua. "Thang" é "thing", mas eu sempre gostei de pensar que era "tanga". Traduzindo: "Nós não precisamos desta tanga fascista". A difusão da canção esteve proibida pela BBC. A mesma BBC que, 30 anos depois, os convidou para esta interpretação enérgica de "Fascist Groove Thang". Entretanto, passaram 10 anos. A música continua irresistível. A letra continua atual. Demasiado, até. Dancemos, então.