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Tinha havido uma alteração de agenda e Carlos do Carmo não poderia falar comigo. Expliquei que a entrevista já tinha sido anunciada e que tínhamos de ter um plano b. Acabámos por marcar uma entrevista telefónica, com a promessa, da minha parte, de que não poderia ser muito longa. O Carlos, explicaram-me, não gostava de falar muito tempo ao telefone. Respondi que precisava apenas de 10 minutos ao telefone. Gravámos 12 e dei a entrevista por concluída. "Foi uma conversa muito agradável, sabe?", disse-me o charmoso do outro lado da linha, "Porque se sente que gosta de ouvir. Que idade tem?". "Menos de quarenta", respondi. "Interessante. Estava a tentar perceber a sua idade e não estava a conseguir". "E posso saber, porquê?", perguntei. "Porque, geralmente, as pessoas mais novas não têm paciência para ouvir e as mais velhas já não tem curiosidade para perguntar. Você parece que tem as duas coisas". E, depois, ficámos a conversar mais de meia hora. Carlos do Carmo, o cantor que não gostava de falar ao telefone, acabou a perguntar-me "Estou-lhe a roubar muito tempo, não estou?". Eu disse-lhe que não e ele atalhou "De certeza que tem mais que fazer. Deixe-me pedir-lhe que nunca perca a curiosidade e o gosto por conversar". Desligámos o telefone. A entrevista durou os 10 minutos programados. O melhor ficou para mim. Obrigado.
Há um ano, estava em Madrid, a acompanhar a Cimeira do Clima. Foram dias (e noites!) tão intensos que, tendo recebido uma boa notícia, nem tempo tive para a celebrar. O programa "Só neste país", dedicado ao pinheiro, tinha sido premiado na categoria de jornalismo florestal. Na reportagem que fiz, acompanhei Pedro Mónica Ribeiro - um vigilante apaixonado pelas questões ambientais - numa ação para recuperar um espaço florestal em Lousada, no distrito do Porto. A reportagem acabou por se alargar ao grupo de voluntários, dinamizado pela bióloga Milene Matos - pessoas que dão parte do seu tempo livre, para ajudar a criar um mundo melhor. Como tantos outros ali, em Madrid, onde me encontrava.
O programa pode ser ouvido aqui. (Reportagem ao minuto 26).
Ljubomir Stanisic é um cozinheiro que enriqueceu a cozinhar, para ricos; e a fazer televisão, para pobres. Há uma semana, resolver estacionar à porta da Assembleia da República para fazer uma greve de fome e insultar os representantes da República, com a cobertura dos media, que adoram pessoas "fora da caixa". Hoje, depois de ter sido atendido pelo SNS (que, coitados, andam com pouco que fazer) resolveu comparar o primeiro-ministro português a Milošević. Algumas pessoas acharão graça à comparação com o ex-presidente sérvio, esquecendo, talvez, que este foi preso pelo Tribunal Penal Internacional, sob a acusação de crimes contra a humanidade e crimes de guerra. Esta manhã, disse à imprensa que "há 17 anos, passámos 21 dias de fome e derrubámos o filho da p***". Não disse que está em Portugal, há 23 anos.
"Essa já foi fora do tempo", diz Jerónimo de Sousa, a sorrir. O secretário-geral acusa o toque, mas dá a vantagem ao infrator. Faz parte do jogo. A editora de política da Antena 1, Natália Carvalho, tinha acabado de fechar a entrevista com um "Obrigado pela entrevista que, espero, não seja a última como secretário-geral do PCP". Jerónimo sorriu. Antes, tinha respondido à pergunta "Onde é que vai estar nos dias 3, 4 e 5 de Setembro de 2021?" com um "Espero que na Festa do Avante". "No palco, a discursar?", insistiu a jornalista, "Veremos quem será o secretário-geral". Jerónimo de Sousa acha que o atual Presidente da República quer impor um bloco central e admite votar contra o próximo Orçamento do Estado. Assume convicções firmes e posições que poderão ser contestáveis. Mas fá-lo sem gritar, com respeito pelos adversários. E sorri, quando podia fazer fita e atirar-se para o chão.
O telefone tocou. Do outro lado, a pergunta: "Sabes quem é que é o Luís Filipe Costa?" "Que Luís Filipe Costa?", perguntei, "O jornalista, o homem do comunicados do MFA?". "Esse mesmo", respondeu o meu chefe de então, "Preciso que me faças um perfil alargado, sobre ele, para um programa de homenagem que vamos fazer este fim de semana". "Mas, porque eu?", continuei a perguntar. "Porque, até agora, foste o único que soube logo de quem é que estamos a falar". Foi por essa altura, que fiquei a saber que o jornalista não foi "só" a voz da revolução na rádio, ele já tinha revolucionado a própria rádio. Luís Filipe Costa morreu, hoje, tinha 84 anos.
Durante semanas e semanas, preparei o escritório cá de casa para que uma pobre e honesta televisão me convidasse para uma videochamada. Espanei paredes, dei brilho às estantes, aconcheguei os livros. Mas, depois, veio a rádio: rica, poderosa e sedutora. A rádio: vestida para matar, com os seus fios e os seus cabos. Eu sei que devia resistir, mas não consigo. A rádio é fraca.
“Temos de preparar-nos para o pior, desejando que aconteça o melhor”, avisou o primeiro-ministro, no início da epidemia. O "optimista irritante" recorreu à antítese: uma figura de estilo que ilustra bem estes tempos - que são de luta, mas (também) de esperança. E ter esperança não é conversa dos livros de auto-ajuda. É (mesmo!) uma questão de sobrevivência. Por estes dias, o jornalista Tiago Alves tem trabalhado com a antítese: relatando, vivamente, a vida dentro da cerca sanitária de Ovar; contando, com sobriedade, histórias que nos fazem ter esperança nos seres humanos, ameaçados por um vírus com um nome ridículo, que lembra a pior ficção científica.
Hoje, no programa "Um mundo melhor", em parceria com Ana Rita Ramos, o Tiago conta a história de um casal de refugiados sírios, donos de um restaurante em Lisboa, que está a servir refeições gratuitas, aos profissionais de saúde. Foi a forma, que o casal encontrou, de retribuir a ajuda que recebeu ao chegar a Portugal. É uma história com um final feliz? Não, é uma história em que o "melhor" vem de quem passou pelo "pior". Mas a história está longe de ter chegado ao fim...
Pode ouvir clicando na imagem.
Hoje, é Dia Mundial da Rádio. As pessoas da Rádio vêm para aqui partilhar coisas. É compreensível. Mas eu decidi que, hoje, não vou partilhar nada. A minha relação com a Rádio é muito íntima. E eu não vou estar para aqui a expôr vergonhas!