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Palavra do ano: "guerra"

por Miguel Bastos, em 05.01.23

"Guerra" é a Palavra do Ano, de 2022. Numa altura de abundância de palavras (ditas, escritas, gritadas, escarrapachadas), em que se usa e abusa das palavras, escolher uma palavra - uma só - por ano, soa a tarefa hercúlea. Quando a iniciativa da Porto Editora começou, perguntei-me se fazia sentido elaborar um "top" de palavras, submetê-las a votação e eleger uma só palavra. Porque a escolha pode refletir, apenas, a espuma dos dias. Mas, também é verdade que pode servir de barómetro, que ajuda a perceber os assuntos que mais preocupam os portugueses. No ano de 2022, marcado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, a palavra escolhida foi "guerra". As palavras relacionadas com a Covid-19, que tinham dominado os dois últimos anos (no ano passado foi "vacina"), desapareceram. Se passarmos por 2017, ano dos grandes incêndios, a palavra do ano foi, precisamente, "incêndios". Em 2011, o ano da chegada da troika, a palavra escolhida foi "austeridade". Uma palavra - uma só - pode dizer muitas coisas. Pode dizer muito.

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Na cabeça de Putin

por Miguel Bastos, em 22.09.22

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O que é que se passa, afinal, "Na cabeça de Putin"? Muitas coisas, contraditórias entre si. Neste ensaio, Michel Eltchaninoff aborda a filosofia, a história e a literatura, que estão na base do pensamento e da ação política de Putin. Recorda a chegada do antigo agente do KGB à presidência, com a aura de um reformista, que iria transformar a velha Rússia, numa democracia moderna, plural, liberal. Mas, com o tempo, Putin foi-se revelando um conservador, quando não um reacionário. Terá mudado? Não sabemos. Como entender que um agente soviético, leal e cumpridor, se tenha tornado um antissoviético feroz? Como entender que promova o regresso dos exilados da União Soviética (aristocratas, intelectuais, artistas), ao mesmo tempo que lamenta a queda da União Soviética?
O que une, afinal, tantas contradições "Na cabeça de Putin"? O poder: Putin quer-se manter no poder, para "devolver" o poder à Rússia. Um poder dominante sobre o mundo, que é, no seu entender, um direito histórico e natural. O ressentimento contra o chamado ocidente, a defesa da religião, da família, dos valores tradicionais, o discurso contra os direitos dos homossexuais ou as críticas à falta de patriotismo dos países europeus (com exceção da Ucrânia), fazem parte de uma narrativa, que é instrumental. Escreve Eltchaninoff: "Para arrastar consigo os seus compatriotas, colocou uma tampa na história, tanto na russa como na soviética, no czarismo como no comunismo, na Rússia pós-soviética, na Ucrânia, na Europa, no Ocidente. Substituiu a sua análise lúcida por uma mitologia fundada no poderio russo frustrado".
Para onde vai, afinal, a "cabeça de Putin"? Não sabemos. Será, sempre, para onde ele quiser. O que a torna muito imprevisível. E perigosa.

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Não dormir

por Miguel Bastos, em 19.09.22

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Andei a dormir mal. Não posso alegar desconhecimento. Afinal, o autor tinha avisado: "Quanto menos soubermos, melhor dormimos". Mesmo assim, quis saber. Comecei a ler o livro (e a dormir mal). Resolvi parar. As férias estavam à porta, havia demasiado cansaço acumulado, e, se andava a dormir mal, passei a dormir pior. Mas, não dá para fechar os olhos, indefinidamente. Voltei ao livro de David Satter, com a queda da União Soviética e tudo o que se levantou a seguir. Nada bonito de se ver: o assalto ao Estado, as expropriações, os monopólios, a corrupção, o crime organizado, as oligarquias, o terrorismo de Estado. A utilização das forças de segurança, como arma política. A guerra, como arma política. A guerra, como projeto político. Se não fosse tão credível, o livro de David Satter era, apenas, um retrato grotesco e apocalíptico. Assim, é só inqualificável. Ainda pensei se, depois de uma leitura tão avassaladora, seria boa ideia passar para o livro seguinte: "Na cabeça de Putin", de Michel Eltchaninoff. Hesitei. Depois, fiz como no poema de Cesariny: "fechar os olhos frente ao precipício e cair verticalmente no vício". A estreia da editora Zigurate, de Carlos Vaz Marques, também se faz à beira do precipício. Com dois livros, que são "livrinhos" por fora", mas muito densos por dentro.

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Queridos!

por Miguel Bastos, em 28.04.22

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Muito gira a versão mexicana do "Querido Mudei a Casa".

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Compreender a guerra

por Miguel Bastos, em 22.04.22

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Compreender não é sinónimo de aceitar, nem de concordar, nem de justificar. Por exemplo, ao longo dos anos, tenho tentado "compreender" como é que foi possível Hitler conquistar tantos países europeus, em tão pouco tempo. Chamar-lhe ditador (que era), louco (sim), racista (claro), criminoso (pois), etc. não explica tudo. A verdade é que Hitler beneficiou do medo de uns e da indiferença de outros, da ingenuidade de uns e da cumplicidade de outros. Quando invadiu metade da Polónia, já tinha acordado, com Estaline, que a União Soviética invadiria a outra metade. Muitos dos países que a Alemanha invadiu, tinham largas fatias de população que simpatizava com o nazismo: fosse em França ou na Ucrânia. A União Soviética só mudou de ideias sobre o pacto de não-agressão, assinado com Hitler, quando já tinha tropas nazis no seu território. Os Estado Unidos só perceberam que tinham de entrar na Guerra, quando a guerra lhes entrou em casa. Nada disto "branqueia" o nazismo. Serve só para lembrar que o mal gosta de silêncios e de andar de mãos dadas.
Olhando para a Ucrânia: cem anos depois, a extrema-direita é um problema, sim; o nacionalismo é um problema, sim; a Rússia é um problema, sim. Na Segunda Guerra, os ucranianos, oprimidos pelos vizinhos de leste, acharam que, talvez, os invasores nazis fossem menos maus. Não eram. Foram agredidos antes, durante e depois da Segunda Guerra, por uns e por outros. O povo ucraniano não devia ser obrigado a escolher entre um mal e outro. Tem sido. Repetidamente.
A Europa democrática está ameaçada por movimentos de extrema-direita: autoritários e iliberais. França, que esteve dividida entre a heroica resistência e o regime colaboracionista de Vichy, vai a votos este fim de semana, dividida ao meio. De um lado, está a candidata, Marine, que herdou o nome e o partido de Le Pen pai - um colaboracionista. Marine é próxima do italiano Salvini, do húngaro Órban, do russo Putin. O russo, que quer "desnazificar" a Ucrânia, apoia líderes, partidos e movimentos conotados com a extrema-direita. Parece que há bons e maus nazis. Não há. Diz-se, muitas vezes, que a "história não se repete". Talvez não. Eu diria, porém, que se imita muito bem a si própria.
[Na fotografia: "A Guerra Fria", de Odd Arne Westad]

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A Guerra na Ucrânia

por Miguel Bastos, em 29.03.22

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- Estás a ler um livro sobre a guerra da Ucrânia?
- Estou.
- A sério, já há livros sobre a guerra na Ucrânia?
- Já, mas não é bem sobre esta guerra.
- É sobre a 2.ª Guerra Mundial?
- Também não. É da altura em que a Rússia invadiu a Crimeia, que é uma região...
- Eu sei onde é.
- Estou a ver, tu sabes muitas coisas.
- O Putin está a tentar refazer a União Soviética, não é?
Nuno, 9 anos de sabedoria. Estudante (de Ciência Política ou Relações Internacionais, presumo).

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Ucrânia

por Miguel Bastos, em 26.02.22

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Estou a ler notícias de ontem e a ouvir notícias de hoje.
São muito parecidas e profundamente tristes.

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São todos iguais?

por Miguel Bastos, em 22.11.16

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"São todos iguais! Querem é tacho! Só pensam neles! Só falam connosco para pedir votos! Eu não voto! Não quero saber! São todos iguais!" Não é verdade. Os políticos não são todos iguais. É verdade que são parecidos. E, às vezes, são tão parecidos, que parecem iguais.

 

O fim do império soviético e da guerra fria, e a vitória do capitalismo, fez-nos dispensar a Política e tornou os políticos ainda mais iguais. Durante um tempo pareceu que se devia tomar decisões, apoiadas, apenas, na técnica. Cresceram os mercados e os tecnocratas. Diminuiu a lei, o Estado e a política. Desapareceu a ideologia.

 

E foi crescendo a demagogia, o populismo, que descamba, facilmente, para o racismo e a xenofobia. Os políticos não são todos iguais. Basta olhar para Trump, Farage, Boris Johnson, Marine Le Pen, Putin, Viktor Orbán. O que me deixa triste é que eu sempre achei que as pessoas mudariam de opinião, com os bons exemplos. Não mudaram. Ao menos, que mudem com os maus.

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No Panamá

por Miguel Bastos, em 07.04.16

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Gostava de falar do caso dos documentos do Panamá. É um problema dos ricos, que são tão ricos, que não sabem o que fazer com o dinheiro. Não sabem onde o gastar. Nem como o gastar. É um problema grave que, a maioria de nós (felizmente!), não vai ter que enfrentar.

 

No dia a seguir ao escândalo ter rebentado, Rui Tavares perguntava no Público: “O que é que têm em comum Vladimir Putin e Petro Poroshenko?” e a resposta era “guardam o dinheiro no mesmo sítio”. Que é como quem diz, são adversários, mas não são parvos. São inimigos, mas não são parvos. São ricos, mas não são parvos.

 

Dinheiro é dinheiro. Pode ser ganho de forma legal ou ilegal; de forma legítima ou ilegítima; à custa de si próprio ou à custa dos outros; cometendo crimes ou sem cometer crimes; ou, mesmo, para cometer crimes. Podem ser democratas ou ditadores; de esquerda ou de direita; artistas ou estrelas do deporto; empresas ou empresários; polícias ou ladrões. É indiferente. O dinheiro, quando é muito, quando é mesmo muito, acaba no mesmo sítio.

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