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- Como é que é, Leonardo, vamos trabalhar?
- Vamos lá!
- Como é que fazemos com a condução?
- O costume.
- Ok, eu conduzo o carro.
- E eu conduzo o Tchaikovsky.
- Gostas muito de vestir de preto, não é?
- Gosto. Mas, também, gosto de cores.
- Não tens um padrão?
- Não, tenho vários.
É claro que não está em causa a liberdade de cada cidadão. Apenas não se pode fumar nem dentro, nem à porta, nem ao ar livre. De resto, pode-se fumar onde se quiser. Mas, tudo isto é transitório, porque vamos criar uma geração sem tabaco, até 2040. As experiências estão a correr bem. Estamos só a acabar os laboratórios.
O Portugalex faz 17 anos. A minha primeira reação foi "Uau, incrível"! A segunda foi "Credo, para o ano faz 18 anos! Será que vai ganhar juízo?" Espero que não. Aqui estão eles a celebrar, com humor e inteligência. Mas, também, com uma inquietação: "Fizemos coisas, há 17 anos, que, hoje, não seriam possíveis", diz a Patrícia Castanheira. O riso continua a ser considerado perigoso, não é William de Baskerville?
Para ouvir aqui:
https://antena1.rtp.pt/video/equipa-do-portugalex-festeja-aniversario-na-antena-1/
"Celebrar o quê? Não há planeta B!", disseram os jovens que mostraram as nádegas (bué original!) escritas com a palavra "ocupa". Ocupa, quem? Ocupa o quê? Ocupemo-nos da rima. Formalmente, é melhor do que a chamada rima pobre - com verbos, no infinitivo, a acabar em "ar" ou "ir". Mas não resiste à análise de conteúdo. "Celebrar o quê?", perguntam. "A democracia", respondemos. "Não há planeta B!", exclamam. "Nem democracia B", afirmamos. Em rima: "A alternativa existente, não dá bom ambiente" ou, ainda, "Calças para cima, em nome do bom clima". Não são rimas excecionais, mas é um começo...
A dada altura, os discos de vinil começaram a rarear. O CD é que era. Era moderno, era "cool" e era caro. O vinil já era. Aproveitei para comprar alguns discos adiados, que, agora, estavam abandonados nas prateleiras. Aproveitei para experimentar outros géneros musicais adiados, como o jazz. Mas, por onde começar? Comprei este disco, sem ouvir. Algo que não costumava fazer. Mas, a papelaria não tinha gira-discos. Não conhecia Ahmad Jamal, mas já conhecia Gary Burton. E conhecia a "Manhã de carnaval", de Luiz Bonfá, que abre o disco. E já sabia que o amor entre o jazz e a música brasileira dava bons filhos. Levei a dupla para casa. A papelaria já faleceu, há uns anos. Ahmad Jamal morreu, há dois dias.
Morreu o poeta Joaquim Pessoa. Gostava de conhecer melhor o seu trabalho poético. Vou adiando para "um dias destes", que é um local habitado por muitos poetas e escritores. Conheço Joaquim Pessoa, das canções. A rádio e os jornais destacam (bem) a "Amélia dos olhos doces" (Carlos Mendes) e "Lisboa, menina e moça" (Carlos do Carmo). Mas é curto. Ele tem tantas canções! Só no disco "Uma canção para a Europa", que corresponde às canções do Festival de 1976, Carlos do Carmo canta três poemas seus: "Lisboa Menina e Moça" (em parceria com Ary dos Santos), Cantiga de Maio (não confundir com a canção de José Afonso) e "Onde é Que Tu Moras?" (uma das canções da minha vida). Só essa, já era muito. Mas há mais, muitas mais.
"A tua vontade, justiça, igualdade / Não chega aqui dentro de casa", canta a Mariazinha, que se vai tornar Marta, numa das melhores criações de José Mário Branco. Sempre foi das minhas canções preferidas. Fala da mulher, dos direitos da mulher, esquecidos na agenda do homem que, por mais de esquerda que fosse, tinha outras preocupações e prioridades. "E fico à espera que me socializes", canta Maria (zinha), já em transformação para Marta. Lembro-me de ouvir a canção a pensar nas mulheres. Como é que é possível que alguém que se queixa do patrão, que luta pelos seus direitos, não se aperceba que, em casa, reproduz o que lhe fazem fora de casa? Sim, muitas vezes, o socialismo fica à porta de casa. Porque não sai de nós próprios, não sai para os outros, é um socialismo só para nós. O que é, obviamente, a negação do socialismo. Pensei, muitas vezes, nesta canção. Extrapolei-a, para pensar que todos nós, explorados, somos, tantas vezes, exploradores dos que nos rodeiam. Mas, hoje, apetece-me voltar a fechar o foco. Porque há um homem, visto como farol da esquerda, que está a enfrentar um processo de assédio sexual em praça pública. Não sei (não sabemos, ainda) se as suspeitas têm fundamento. Mas sei que, em 1972, José Mário Branco já escrevia sobre mulheres que se transformaram em Martas. Martas que cantam: "Sei aquilo que fui e que jamais serei".
Canção aqui: https://youtu.be/Av-bxaTtkYs