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10 de Junho

por Miguel Bastos, em 11.06.25

Uma cerimónia de família afastou-me, ontem, da cerimónia do 10 de Junho. Ouvi, com atraso, o discurso do "aqui ninguém tem sangue puro", de Lídia Jorge. Belíssimo discurso. Infelizmente, a seguir, tive de ouvir o "vai para a tua terra", na cerimónia aos antigos combatentes - com direito a saudação nazi - e a notícia da agressão ao ator Adérito Lopes, à porta do teatro A Barraca, por um grupo de "portuguezes" com z. "Ninguém tem sangue puro". Ninguém. Muito menos quem tem sangue nas mãos.

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Gouveia e Melo

por Miguel Bastos, em 14.05.25

Gouveia e Melo é candidato à presidência da República.
Eu sei, é uma grande surpresa. Ninguém estava a contar.
Ninguém, ninguém, ninguém.

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Primo Basílio

por Miguel Bastos, em 18.02.25

primo.jpg 

Presidenciais de 91. Depois de ter vencido Freitas do Amaral, Mário Soares voltava a enfrentar um nome histórico do CDS. Nessa noite, Basílio Horta iria fazer um comício na minha terra. Eu e o Carlos passámos pela casa do Afonso. "O Afonso não está", diz-nos o irmão, a sorrir, "foi ver o primo Basílio". Os dois irmãos eram muito diferentes. O Renato vivia com o pai e era todo "Soares é fixe!". O Afonso vivia com a mãe e tinha sido todo "Prá frente, Portugal!". Já o Carlos, ao meu lado, era todo "Quero lá saber!". Disse o Carlos: "É um tipo fixe, o Renato. Só não percebi a do primo Basílio". Tentei explicar-lhe que Basílio era o candidato às eleições presidenciais, mas ele interrompeu logo: "Ah, então é isso. Eu não tenho pachorra nenhuma para política". "Nota-se", respondi. "Mas porque é que ele disse 'primo'? Eles são primos?". "Por causa do livro do Eça de Queiroz", respondo. "Ah, não tenho pachorra para ler". "Também se nota", respondo. "Ai sim?" (de repente, o Carlos mostrou-se zangado) "Por acaso está escrito na minha cara?!". "Não. Mas, se estivesse, também não ias ler, pois não"?

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Soares: 100 anos

por Miguel Bastos, em 05.12.24

soares serralves.jpg

 
Nos 100 anos de Mário Soares, "O sal da democracia": uma exposição com livros autografados, primeiras edições, correspondência, pintura, escultura e muitas cumplicidades. Com destaque para a relação entre Mário Soares e Júlio Pomar. A partir de amanhã, em Serralves. 
 
Para ouvir, aqui.
 
https://www.rtp.pt/noticias/cultura/mario-soares-em-exposicao-na-casa-de-serralves_a1619668

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TV Rural

por Miguel Bastos, em 29.04.24

Em 1960, o eng. Sousa Veloso criou o "TV Rural". O programa de televisão durou 30 anos; atravessou a ditadura e a democracia; a direita e a esquerda; o "orgulhosamente sós" e o "ai, os senhores da Europa"; a televisão a preto e branco e a cores. Passados mais de 60 anos (e 50 do 25 de Abril) o que mudou? Pelos vistos, pouco.

O presidente da República considera que o primeiro-ministro é lento, porque é rural. Estão a ver o estereótipo? Urbano é rápido. Rural é lento. Urbano anda de carro. Rural anda de trator. Urbano é sofisticado. Rural é arcaico. A autarca de Espinho (terra de Montenegro) não gostou do que ouviu. Disse que a cidade tem pouco de "rural", que é um destino de verão de pessoas endinheiradas e que até tem um casino (ena, ena!). Convidou, depois, o presidente a visitar Espinho. "Para quê?", pergunto eu, "Para ver um casino?!" O presidente mora perto de um, não precisa de ir a Espinho. Sem querer (presumo), a autarca de Espinho - ao querer contrariar o presidente - acaba por partilhar o mesmo estereótipo.

Por mim, gostava mais que tivesse dito "Quem diz é quem é" (viram o nível de sofisticação?!) e se despedisse "com amizade até ao próximo programa".

 

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Aula sobre democracia

por Miguel Bastos, em 24.04.23

cravos.jpg 

O presidente da República fez mais de 500 quilómetros para assinalar os quase 50 anos de democracia, em Portugal. Recorreu à sua vocação de professor e aos seus dotes de comunicador, para dar uma espécie de aula sobre democracia, num auditório repleto de jovens. O presidente foi recebido com grande entusiasmo. Os jovens bateram palmas e assobiaram, com a excitação reservada às celebridades. Depois, o presidente começou a falar e a juventude esmoreceu. Quando começou a distinguir a monarquia e a república, a Rita resolveu mergulhar no "Instagram". Quando abordou a guerra colonial, o João decidiu fazer uma guerra "online" com o colega do lado. A reflexão sobre a natureza dos partidos políticos foi ofuscada pelas imagens dos guerreiros de "wrestling" do telemóvel do Hugo. E a emergência do populismo não resistiu ao livro do Harry Potter (na realidade, o Harry Potter também não resistiu ao "TikTok" - pois não, Mafalda?"). Bem sei que estava na fila de trás (local onde se costumam sentar os jornalistas e os maus alunos). Bem sei que, nas filas da frente, havia alunos interessados e participativos. Mas, foi uma espécie de constatação "in loco" de algumas das assimetrias sublinhadas pelo presidente: na política ou na educação "há muito bom e há muito mau". O presidente exortou os jovens: "participem", "envolvam-se", "manifestem-se". Uma parte significativa não respondeu, porque estava demasiado ocupada, a bocejar, no ciberespaço. A dada altura, o presidente contou uma história para ilustrar a importância das pessoas se manterem independentes dos cargos políticos: "Eu tinha colegas meus, jovens, que tinham acabado de sair da faculdade e foram convidados para secretários de Estado. Quando saíram do governo não sabiam o que fazer. Achavam que, depois de terem sido secretários de Estado, só podiam ser ministros ou presidentes de um banco". "O que é que achas que eu devo fazer?", perguntavam-lhe. "Eh, pá! E se fosses trabalhar?", respondia-lhes. A resposta (como é evidente) não é válida, apenas, para ex-secretários de Estado. No final - de novo - as palmas e os assobios, reservados às celebridades. E uma selfie (claro!), para partilhar no ciberespaço.

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Teatro

por Miguel Bastos, em 21.04.23

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Ouço-me, nos arredores da cidade, com vista para um campo plantado com galinhas, sanitas e pneus. O encenador Ricardo Pais regressa ao Teatro Nacional de São João, casa que dirigiu durante 10 anos. O assunto é notícia. O trabalho de reportagem teve dois atos, com um longo interlúdio com o Presidente da República, no dia em que vetou a lei da eutanásia. Só retomei o trabalho sobre a peça de teatro, já cansado, ao final do dia. Daí a vontade de verificar, no dia seguinte. Será que ficou bem? Aparentemente, sim. No regresso a casa, puxo a emissão da Antena 2 atrás e ouço a voz de Ricardo Pais a abrir e, depois, a trespassar a manhã. Descanso, finalmente.

[Fotografia: Teatro Nacional de São João]

Para ouvir aqui (Reportagem aos 7'40''):

https://www.rtp.pt/noticias/noticiario-antena1/10h00-edicao-de-miguel-soares_a1_1480832?fbclid=IwAR1vnfpYx6tIMQYDve7hBSmyCDQoH4FLaBbFP-5eliQUQv13g89O1JHcZzM

 

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Orgãos

por Miguel Bastos, em 24.03.23

O primeiro-ministro defende que
cada órgão deve atuar no momento próprio.
O presidente da República entende que
cada órgão escolhe o momento de atuar.
Eu, cliente de casamentos, considero que
às vezes, o homem do orgão é muito irritante.

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A democracia

por Miguel Bastos, em 29.12.22

pns.jpg 

Há uns anos, uma jornalista muito habituada a ser notícia queixava-se - em direto, na televisão - de ser alvo de censura e de haver falta de liberdade de expressão, em Portugal. Apresentou argumentos, vitimizou-se, apontou o dedo a vários políticos, atacou. Um comentador, em estúdio, discordou. Se havia censura, como é que a jornalista estava a ter tantos minutos de "tempo de antena", num jornal televisivo, em horário nobre? É preciso usar as palavras, com cuidado. A democracia faz-se com palavras. Que as palavras sejam usadas: para elogiar, para criticar. E, "com cuidado" não significa "com cuidadinho". Significa ter algum rigor na sua utilização. Ser alvo de censura e falar em direto no telejornal das oito é uma contradição evidente.
 
Os acontecimentos políticos, dos últimos dias, trouxeram os discursos populistas da praxe, com críticas à democracia e alusões, mais veladas ou mais explicitas, a outras formas de regime. Ora, o que está a acontecer é a democracia: com os seus defeitos, com as suas virtudes. Uma secretária de Estado tinha saído da administração da TAP, com uma indeminização que chocou a generalidade das pessoas. O presidente da República fez perguntas e declarações públicas. A oposição pediu responsabilidades e a cabeça de responsáveis. As demissões sucederam-se. Os partidos multiplicam-se em declarações e iniciativas, entre elas, uma moção de censura e o pedido de eleições antecipadas.
 
Os portugueses podem e devem criticar o governo: este governo, qualquer governo. É isso, a democracia. Felisberto Desgraçado, personagem inventado por Herman José, defendeu que “A democracia foi feita para ter um único partido. Se Deus quisesse que a gente tivesse mais partidos tinha-nos feito aos bocados”. Winston Churchill afirmou que "A democracia é o pior dos sistemas, com exceção de todos os outros.” Desculpa, Desgraçado, mas vou pelo segundo.
 
[Fotografia: António Cotrim/LUSA]

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