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Portugal "é uma "nação independente há quáse [isso mesmo, com acento] oito séculos. Mesmo durante a dominação filipina não perdeu a independência. Apenas a autonomia, o que é coisa diversa".
Hoje, dei de caras com um Dicionário Corográfico de Portugal, de 1952. Foi lá para os lados da minha rádio. É uma alegria trabalhar na Emissora Nacional.
Para que não restem dúvidas, acho que Carlos Paião era um génio. Muitos concordarão, muitos não. O próprio, creio eu, teria muita dificuldade em aceitar esta classificação. Paião não se levava muito a sério. E, talvez por isso, nunca tenha editado um disco à altura do seu talento, como referiu David Ferreira no texto que acompanha a compliação "Letra e Música - 25 Anos Depois". Amália foi a primeira a perceber o potencial de Paião e gravou o "Senhor extraterrestre", que Gisela João voltou, agora, a cantar.
David Ferreira conta, hoje, que Ricardo Camacho começou a produzir discos, com a ideia de semear os Joy Division em Portugal. A primeira experiência foi a canção "Foram cardos, foram prosas": letra de Miguel Esteves Cardoso, música de Ricardo Camacho, voz de Manuel Moura Guedes. Tocam Vítor Rua e Toli, dos GNR. A beleza da coisa é que, apesar de soar a Joy Division, a canção tem uma melancolia, profundamente portuguesa. Ricardo Camacho iria explorar e aperfeiçoar a sonoridade com Né Ladeiras, António Variações e a Sétima Legião. O Ricardo era um génio. Era mesmo.
https://www.rtp.pt/play/p955/e355229/david-ferreira-a-contar
Eu: Dr. Ricardo Camacho obrigado pelos seus esclarecimentos.
Ricardo Camacho: Ora essa, não sei se gostava de fazer mais alguma pergunta...
Eu: Gostar, gostava... mas era sobre a Sétima Legião.
Ricardo Camacho: Presumo que tenha que ser noutra altura.
Eu: Sim, terá que ser noutra oportunidade.
Não houve outra oportunidade. Que pena.
“Portugal vive de costas para o mar”, dizia o orador. “Basta andar meia dúzia de quilómetros, para o interior, e vemos os portugueses agachados, a cavar a terra”. Aquilo estava-me a irritar. “Aliás, nem é preciso tanto. Os próprios pescadores têm que cavar umas batatinhas e umas couves no quintal, para compensar a falta de rendimento”. A sério, senhor orador? E o que me diz, por exemplo dos nosso valentes do bacalhau? “São excepções”, respondeu o antropólogo encartado. Teria razão?
A Carolina não me interessa. Entrou no Ídolos. Cantou com o filho do Tony Carreira. Lançou um disco meias tintas, em português. E um disco a-armar-ao-pingarelho, em inglês. A Carolina escarrapacha a sua vida no Facebook e põe fotos intimas no Instagram. E tem muito seguidores. E é assunto: nas páginas da imprensa cor-de-rosa e nos programas rosa choque da televisão. Provoca críticas e responde às críticas. A Carolina tem umas tatuagens esquisitas. E exibe sardas e óculos e estrias e celulite e filhos. A Carolina diz e faz dislates.
Mas, a Carolina é "três mulher numa só", como na canção do Godinho, "ar de menina, sapiência de avó". Carolina usou a sua vida para criar um disco terno, intimista, simples e sofisticado. Fala de amor, dos filhos, da família. Chama-se "Casa" e é uma maravilha. Carolina tem talento, muito talento. Canta bem (isso eu já sabia); escreve boas letras e excelentes melodias; tem arranjos maravilhosos e uma produção irrepreensível. Faz uma bela dupla com Diogo Clemente.
"Casa" é das melhores coisas que ouvi nos últimos tempos. E, afinal, quem diz dislates sou eu.
"Que nação queremos ser?", pergunta a jornalista no artigo. "Uma startup nation? Uma green nation? Ou uma innovative nation?” Uma nação, respondo eu, é isso que queremos ser. Eu sei que o conceito provoca comichão. Porque o nacionalismo volta a assustar. Porque o conceito tem vindo a mudar. Porque diferentes etnias ou religiões convivem, cada vez mais, numa nação. Mas há uma base comum: território, tradições, valores ou língua.
O Sporting é campeão de voleibol. Quebra um jejum de 24 anos. Nessa altura, em que ganhava coisas, o Sporting tinha um atleta chamado Miguel Maia. Agora, mais de 20 anos depois, voltou a ser campeão, com o mesmo atleta. Miguel Maia, tem 47 anos e uma carreira surpreendente. Foi campeão, pela primeira vez, com a equipa que ajudou a subir à primeira divisão (Académica de Espinho). Mudou-se para o Sporting e foi tricampeão. Voltou à sua terra natal e conquistou mais 11 campeonatos (pelo Sporting de Espinho). De regresso ao Sporting, volta a ser campeão (e vão 16!).
Miguel Maia brilhou, ainda, no voleibol de praia, com João Brenha. Estiveram nos Jogos Olímpicos de Atlanta (1996), Sydney (2000) e Atenas (2004). Chegaram, por duas vezes, à beira do pódio (4º lugar). A dupla acabou, porque João lesionou-se. Miguel teve mais sorte. Mas a sorte, não retira o mérito a Miguel Maia.
Na canção de José Barata-Moura, a bola do Manel foi-se embora, fugiu. A bola do Miguel não fugiu, que ele não deixou. Não sei se o desporto é isto. Mas, sei que devia ser.
"Tipo" é tique de linguagem, que passou dos jovens adolescentes aos velhos "tipo" moderno. Mas "tipo" é também cópia, imitação, pechibeque: "tipo azeitão", "tipo serra". Há um tom de comédia, de circo, de farsa, na canção "Tipo Contrafacção". Letra precisa (Godinho), música arrojada (Nuno Rafael), arranjo certeiro (Filipe Melo). Pim, pam, pum.
O novo disco de Sérgio Godinho é de uma economia de meios notável. O mestre assina duas canções e divide autorias com outros compositores nas restantes, escrevendo as letras depois. Há uma excepção: "Delicado", uma canção de Márcia. Grande parte das canções tem um ou dois músicos, que tocam todos os instrumentos, o que lhe dá uma sonoridade mais artesanal, mas também mais original. Em pouco mais de meia hora, Godinho divide créditos e junta talentos: de "Grão da mesma mó" (David Fonseca) a "Até já, até já" (Pedro da Silva Martins, dos Deolinda).
"Nação valente" fala de nós todos, em geral, e de cada um, em particular, num universo só dele. E não é "tipo". É mesmo genuíno. É mesmo Godinho.
"Quando o teu corpo oscila no meu/ Quando é já carne o que era só céu". É por esta e por outras (muitas outras!), que o novo disco de Godinho não me sai da cabeça.