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Teste de português

por Miguel Bastos, em 14.01.25

- Tu não tens de estudar, filho?
- Não.
- Mas sabes que tens teste de português?
- Sei.
- E então?
- Aquilo é chegar lá e inventar uma “escrevinhatura” qualquer.
- Sabes que “escrevinhatura" não existe, não sabes?
- Sei. Estava só a ser “engraçoso”.

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Fausto, há um ano

por Miguel Bastos, em 01.07.24

FAUSTO.jpeg 

No dia da morte de Fausto, recupero este texto, com cerca de ano e meio.

"Não se deve confundir", diz a expressão, "a obra-prima do mestre, com a prima do mestre-de-obras". "Por este rio acima" é uma obra-prima e acaba de fazer 40 anos. Baseado nas viagens de Fernão Mendes Pinto, as letras do disco são um mergulho nas profundezas dos descobrimentos. Por vezes, o mergulho exige apneia: cheira a morte, a doença, a carne queimada e esventrada. Não há, aqui, qualquer exaltação ao lado bravo, guerreiro e conquistador - apenas, o lado escuro dos descobrimentos. A riqueza das letras é tão grande que acabou por secundarizar, involuntariamente, a riqueza das canções, dos arranjos, dos instrumentos. As percussões tradicionais portuguesas, mas também as tablas e as baterias; a guitarra portuguesa e o cavaquinho, tal como o alaúde e a viola de gamba; o piano acústico e os sintetizadores; as cordas e os instrumentos de sopro. Tantos instrumentos que acompanham a voz e a viola acústica de Fausto, omnipresentes, que, ora nos levam para paisagens exóticas e longínquas; ora nos trazem de volta a Portugal, com ritmos e melodias que nos são familiares. Obra-prima.

"Por este rio acima" é um álbum duplo, denso, conceptual, com um pequeno "libreto" ilustrado no interior. A viagem cresceu para trilogia, de forma tão avassaladora que (porventura) acabou por se sobrepor à obra integral de Fausto, que pode/deve ser (re)descoberta. Estamos perante um caso em que não se confundiu "a obra-prima do mestre, com a prima do mestre-de-obras", mas em que, por causa da obra-prima, se poderá ter deixado de reconhecer, devidamente, o mestre que a criou.

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Ao fim do dia

por Miguel Bastos, em 20.06.24

alo alo.jpg

Há uma expressão que eu, até há pouco tempo, desconhecia: "ao fim do dia" ou "no final do dia". Parece-me uma tradução direta, do inglês, de "at the end of the day". Em português, temos, pelo menos, duas expressões com um significado semelhante: "ao/no fim de contas" ou "ao fim e ao cabo". Mas, pelos vistos, nem uma, nem outra, são capazes de traduzir o tempo - moderno e cosmopolita. Conseguem imaginar os ingleses a dizer "in the end of the bills" ou "at the end of the cable"? Bem, talvez no "Alô, alô".

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Sede própria

por Miguel Bastos, em 11.04.24

sede.jpg 

A decisão em "Sede própria". A denúncia em "Sede própria". O processo em "Sede própria". "Sede própria" é expressão usada no "politiquês", no "juridiquês", no "futebolês. É jargão.
Mas, neste caso, é orgulho. Não vá alguém pensar que esta coletividade tem sede num clube vizinho ou numa casa emprestada pela junta. Não. Esta sede é "Sede Própria". Mesmo. Pumba!

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À porta do liceu

por Miguel Bastos, em 04.04.23
- "Lo".

- Não, "lho".

- Cárálo.

- Não é "lo", o som é "lho", "lho".

- Nam cansigo.

- Tens que praticar.

Português para estrangeiros, à porta do liceu.

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Condomínio

por Miguel Bastos, em 23.03.23

Ah, as reuniões de condomínio! A gente, ali, na entrada do prédio... a falar do tempo, do barulho, do elevador. Uma chatice, bem sei. Mas pior, ainda, é quando a reunião se atrasa, por falta de cloro.

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Um urso para Canijo

por Miguel Bastos, em 28.02.23

 canijo.jpg

Este fim de semana, o cinema de João Canijo foi premiado, em Berlim. Hoje, tropecei com este texto, no meu computador.
 
2002 era futuro. 1999 e 2001 também foram. É estranho falar do futuro, com tempos verbais do passado. Mas, de facto, no passado, falava-se mais do futuro. Nos anos 70 e 80 vivemos o futuro com o “Espaço: 1999” ou o “2001: Odisseia no Espaço”. Eu escolhi o 2002, para a minha odisseia: ver o meu primeiro filme no cinema. O Estúdio 2002 tinha aberto, há pouco tempo. Na altura, os cinemas-estúdio eram o futuro. Eram mais pequenos, mais confortáveis, mais modernos. O Estúdio 2002 tinha espelhos no tecto, paredes pretas, carpetes vermelhas, cadeiras brancas. Era o local ideia para ver um filme do James Bond.
 
A cortina (vermelha) abriu-se e os meus olhos deslumbraram-se com o genérico do senhor Bond: tons escuros, ambiente de mistério e uma luz (vermelha) a sair de uma pistola, com o nome dos artistas. O cinema e o filme pareciam maravilhosamente unidos aos meus olhos. A simbiose era perfeita: luxo, charme, elegância e sedução - na tela e fora dela. De tal modo, que tive esperança de encontrar James Bond, ao intervalo, a beber um Martini, ao balcão - “shaken, not stirred”. O 2002 era um local suficientemente requintado para receber o agente secreto mais elegante do mundo. Infelizmente, o senhor Bond não estava no bar e, também, não o vi à saída. Olhei o cartaz de “Octopussy - 007 Operação Tentáculo” e pensei que tinha escolhido o melhor local para ver o filme.
 
Numa das últimas vezes que voltei ao Estúdio 2002, o filme era bem diferente: “Sapatos Pretos”, de João Canijo. O filme conta a história de uma mulher, presa a um homem machista e violento. Canijo já estava especializado em retratos de Portugal. Um Portugal de “faca e alguidar”, em oposição ao “país de brandos costumes”. Um Portugal feio e sórdido, que contraria o “jardim à beira mar plantado”. No filme, a protagonista tenta mudar de imagem: pinta o cabelo, compra roupas novas, aumenta o peito, arranja um amante. Quer mudar de vida e, para isso, pensa matar o marido. Assim contado, podia ser uma história de telenovela ou uma comédia, mas o filme é tudo menos isso. A dada altura, há uma cena particularmente violenta, que chocou muitas pessoas da plateia - ao ponto de ter sido necessário chamar uma ambulância para socorrer uma senhora. Antes da projecção, tinha falado sobre essa cena numa entrevista com o realizador, que, agora, olhava para mim, atónito, surpreendido com as sirenes, os bombeiros e a aflição da senhora.
 
Não sei se foi por influência do filme, mas olhei à volta e o meu 2002 também me parecia velho e gasto. No filme não havia nada de glamoroso na transformação física da personagem principal: aquele louro era de actriz de novela mexicana, as roupas eram mau gosto, o amante era um galã de pacotilha. O Estúdio 2002 estava parecido: as carpetes estavam gastas, as cadeiras encardidas, os espelhos fora de moda. Voltei a sentir uma estranha união entre o cinema e um filme, mas desta vez pelas piores razões. 2002 já era passado.
 

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Dentes pretos

por Miguel Bastos, em 20.01.23

terror grande.jpg 

Depois do papel higiénico preto, eis que inventaram a pasta de dentes preta. Muito giro. Deixa os dentes pretos, para brincar aos filmes de terror. Deixa o lavatório preto, para brincar aos mecânicos da Marateca. Depois, é brincar às lavadeiras de Caneças, na Aldeia da Louça Branca: "Água fria, da ribeira..."   

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Palavra do ano: "guerra"

por Miguel Bastos, em 05.01.23

"Guerra" é a Palavra do Ano, de 2022. Numa altura de abundância de palavras (ditas, escritas, gritadas, escarrapachadas), em que se usa e abusa das palavras, escolher uma palavra - uma só - por ano, soa a tarefa hercúlea. Quando a iniciativa da Porto Editora começou, perguntei-me se fazia sentido elaborar um "top" de palavras, submetê-las a votação e eleger uma só palavra. Porque a escolha pode refletir, apenas, a espuma dos dias. Mas, também é verdade que pode servir de barómetro, que ajuda a perceber os assuntos que mais preocupam os portugueses. No ano de 2022, marcado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, a palavra escolhida foi "guerra". As palavras relacionadas com a Covid-19, que tinham dominado os dois últimos anos (no ano passado foi "vacina"), desapareceram. Se passarmos por 2017, ano dos grandes incêndios, a palavra do ano foi, precisamente, "incêndios". Em 2011, o ano da chegada da troika, a palavra escolhida foi "austeridade". Uma palavra - uma só - pode dizer muitas coisas. Pode dizer muito.

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Peru

por Miguel Bastos, em 21.12.22

peru.jpg 

- Olha, um peru!
- Como é que lhe chamaste?
- Peru. Em português, este animal tem o nome do teu país.
- Não acredito!
- Acredita, que é verdade.
O Peru volta a estar em crise. Estou chateado que nem um peru.
A Consuelo não vai perceber a expressão, mas, talvez, acredite.

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