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Orgãos

por Miguel Bastos, em 24.03.23

O primeiro-ministro defende que
cada órgão deve atuar no momento próprio.
O presidente da República entende que
cada órgão escolhe o momento de atuar.
Eu, cliente de casamentos, considero que
às vezes, o homem do orgão é muito irritante.

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Lesboa e Puerto

por Miguel Bastos, em 09.03.23
- Olha, pai, um colega teu acabou de dizer "Lesboa".

- Já falámos sobre isso.

- As pessoas de Lisboa dizem "Lesboa", não é?

- É.

- E as pessoas do Porto dizem "Puarto" e os de Aveiro dizem "Abeiro"...

- São pronúncias.

- ... e os de Coimbra dizem... "Coimbra".

- Pois.

- São os únicos que sabem dizer, bem, o nome da sua cidade.

- Hum.

- Achas que é por ser "a cidade dos estudantes"?

- Por falar em estudantes, não são horas de ires para a escola?

- Tens razão, "bou andándo".

- Então vá, faltam menos de "treuze" minutos.

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Português do mundo

por Miguel Bastos, em 07.03.23

Esta semana, Salvador Sobral vai cantar, pela primeira vez, no Brasil. Caetano Veloso atira: “Para mim, [é] um dos maiores cantores que existem. Salvador Sobral, lisboeta do mundo". Em cheio.
 
Há uns anos, num programa de rádio, falava-se no tratamento desigual que, alegadamente, portugueses e brasileiros davam aos artistas do país irmão: os brasileiros, sempre bem recebidos em Portugal; os portugueses, ignorados no Brasil. Tendo a dar alguma razão ao argumento: nós ouvimos o Caetano, eles ignoram o Godinho. Mas, depois, fui assaltado pelos contra-argumentos do convidado brasileiro: o Brasil é muito grande, tem uma grande riqueza musical e grande parte dessa música não chega a Portugal. Quem chega, então? Os grandes da MPB (como Caetano, que vai regressar em Setembro), a bossa nova, a música de má qualidade ("o nosso pimba", dizia o senhor brasileiro). "Repare", dizia, "o Caetano vem a Portugal, porque é um cantor do mundo inteiro. Ele está a meio de uma digressão europeia, volta a casa e segue para o Japão". Caetano é do Brasil, sim, mas do mundo, também. O mundo - que Caetano atribui, agora, a Salvador.
 
Temos artistas do mundo e nem sempre nos apercebemos disso. Nem, mesmo, no caso mais flagrante: Amália. Amália não foi a maior cantora portuguesa: foi/é das melhores cantoras do mundo. Portuguesa, sim, mas do mundo. Carlos do Carmo foi/é dos maiores cantores do mundo. Mesmo que grande parte do mundo não saiba (falem com mundo, por favor). E temos, vários, casos atuais. Salvador, se ainda não for do mundo, está lá perto. Caetano diz que já é. Veloso é generoso.

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Patrícia de bronze

por Miguel Bastos, em 04.03.23

Sem título.jpg

Saltou, mas não voou.
Patrícia Mamona não conseguiu o ouro, mas chegou ao bronze.
Não é a mesma coisa, claro.
Mas, a ela, qualquer medalhinha lhe fica bem.

https://www.rtp.pt/noticias/atletismo/patricia-mamona-conquista-medalha-de-bronze-do-triplo-salto_d1471077

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Da Turquia, com ouro

por Miguel Bastos, em 03.03.23

dogmo.jpg 

"Espera-se uma tarde de boas notícias, na Turquia", disse a rádio. Afinei o ouvido: "Ainda o sismo?", pensei, "Bem que precisam de boas notícias". "Portugal", continuou a rádio "pode conquistar várias medalhas, nos Europeus de Atletismo". Ah!
A tarde chegou ao fim, com boas notícias da Turquia, para Portugal. Duas medalhas de ouro: uma, para Pedro Pablo Pichardo; outra, para Auriol Dongmo. Bravo!
Que a Turquia possa ter um pouco de normalidade, por estes dias. Depois de alguns dos piores dias da sua história.

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Um urso para Canijo

por Miguel Bastos, em 28.02.23

 canijo.jpg

Este fim de semana, o cinema de João Canijo foi premiado, em Berlim. Hoje, tropecei com este texto, no meu computador.
 
2002 era futuro. 1999 e 2001 também foram. É estranho falar do futuro, com tempos verbais do passado. Mas, de facto, no passado, falava-se mais do futuro. Nos anos 70 e 80 vivemos o futuro com o “Espaço: 1999” ou o “2001: Odisseia no Espaço”. Eu escolhi o 2002, para a minha odisseia: ver o meu primeiro filme no cinema. O Estúdio 2002 tinha aberto, há pouco tempo. Na altura, os cinemas-estúdio eram o futuro. Eram mais pequenos, mais confortáveis, mais modernos. O Estúdio 2002 tinha espelhos no tecto, paredes pretas, carpetes vermelhas, cadeiras brancas. Era o local ideia para ver um filme do James Bond.
 
A cortina (vermelha) abriu-se e os meus olhos deslumbraram-se com o genérico do senhor Bond: tons escuros, ambiente de mistério e uma luz (vermelha) a sair de uma pistola, com o nome dos artistas. O cinema e o filme pareciam maravilhosamente unidos aos meus olhos. A simbiose era perfeita: luxo, charme, elegância e sedução - na tela e fora dela. De tal modo, que tive esperança de encontrar James Bond, ao intervalo, a beber um Martini, ao balcão - “shaken, not stirred”. O 2002 era um local suficientemente requintado para receber o agente secreto mais elegante do mundo. Infelizmente, o senhor Bond não estava no bar e, também, não o vi à saída. Olhei o cartaz de “Octopussy - 007 Operação Tentáculo” e pensei que tinha escolhido o melhor local para ver o filme.
 
Numa das últimas vezes que voltei ao Estúdio 2002, o filme era bem diferente: “Sapatos Pretos”, de João Canijo. O filme conta a história de uma mulher, presa a um homem machista e violento. Canijo já estava especializado em retratos de Portugal. Um Portugal de “faca e alguidar”, em oposição ao “país de brandos costumes”. Um Portugal feio e sórdido, que contraria o “jardim à beira mar plantado”. No filme, a protagonista tenta mudar de imagem: pinta o cabelo, compra roupas novas, aumenta o peito, arranja um amante. Quer mudar de vida e, para isso, pensa matar o marido. Assim contado, podia ser uma história de telenovela ou uma comédia, mas o filme é tudo menos isso. A dada altura, há uma cena particularmente violenta, que chocou muitas pessoas da plateia - ao ponto de ter sido necessário chamar uma ambulância para socorrer uma senhora. Antes da projecção, tinha falado sobre essa cena numa entrevista com o realizador, que, agora, olhava para mim, atónito, surpreendido com as sirenes, os bombeiros e a aflição da senhora.
 
Não sei se foi por influência do filme, mas olhei à volta e o meu 2002 também me parecia velho e gasto. No filme não havia nada de glamoroso na transformação física da personagem principal: aquele louro era de actriz de novela mexicana, as roupas eram mau gosto, o amante era um galã de pacotilha. O Estúdio 2002 estava parecido: as carpetes estavam gastas, as cadeiras encardidas, os espelhos fora de moda. Voltei a sentir uma estranha união entre o cinema e um filme, mas desta vez pelas piores razões. 2002 já era passado.
 

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Mudança de tempo

por Miguel Bastos, em 23.02.23

Ontem, fugi às poeiras do deserto africano.
Hoje, enfrentei uma massa de ar polar.
Uau, a minha vida parece um filme do James Bond.

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Fausto com Ela

por Miguel Bastos, em 06.02.23

fausto.jpg

Uma canção é composta por música e letra. Uma das questões que se coloca, frequentemente, aos escritores de canções, é saber o que é que nasce primeiro. Outra, é saber se a letra pode ser considerada um poema. Se vive sem a melodia. Neste caso, a discussão tende a ser acalorada. Porque vivemos, ainda, com uma concepção de "acima e abaixo" - "cultura erudita" versus "cultura popular". Conheço muitos versos da "cultura popular" que são bem melhores do que alguns versos da "cultura erudita". Não há muito tempo, o tema foi discutido por causa do Nobel da Literatura, atribuído a Bob Dylan. Muitos "da literatura" não gostaram. Os da cultura popular chamaram-lhe "snobs". Não sei quem tem razão, mas não me apaixonei pela discussão. Estranhei, apenas, por uma questão "técnica". Para mim, não se trata de saber se os textos de Bob Dylan são suficentemente bons, para serem premiados com um "Nobel". Mas, antes, saber se as canções, os discos ou os concertos ao vivo podem ser premiados como "literatura". Estranharia um "Grammy" ou um "Brit Award" para Saramago, por exemplo. Um dos escritores de canções mais brilhantes que conheço (música e letra), chama-se Fausto. No "Fala com Ela", da Inês Meneses, diz que não se considera poeta e explica porquê. Não é por ser mais, ou menos. Não é por ser "acima ou abaixo". É por ser outra coisa.

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A Lisboa de Eugénio

por Miguel Bastos, em 23.01.23

Para celebrar os 100 anos de Eugénio de Andrade, a minha rádio andou a passar músicas com as palavras do poeta. Esta foi uma das que ouvi. E lembrei-me que esta foi, talvez, a primeira vez que entrei em contacto com a sua poesia. Os Trovante voltaram, várias vezes, à grande poesia portuguesa. Por vezes, com resultados épicos. Não é o caso desta canção. "Lisboa" é "Descalça e leve": como o poema de Eugénio, como a poesia de Eugénio.
 
LISBOA
 
Alguém diz com lentidão:
"Lisboa, sabes..."
Eu sei. É uma rapariga
Descalça e leve,
Um vento súbito e claro
Nos cabelos,
Algumas rugas finas
A espreitar-lhe os olhos,
A solidão aberta
Nos lábios e nos dedos,
Descendo degraus
E degraus
E degraus até ao rio.

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