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Foi o encore mais original de sempre. Laurie Anderson entra em palco, para uma citação budista e uma aula de Tai Chi. Lou Reed, lembra Laurie, era um fervoroso praticante daquela arte marcial. De tal forma que, na China, era mais conhecido como praticante de Tai Chi, do que como músico. A plateia sorriu, antes de acompanhar a aula de Tai Chi, de Laurie. Aos 78 anos, a artista realizou movimentos elegantes e precisos, no palco; com o público (atabalhoado) a tentar seguir os movimentos, na plateia - chocando mãos, braços e ombros.
Laurie já tinha evocado Lou, passou por "Big Science" e, até, cantou "Beautiful Red Dress": uma canção tão pop, tão pop, que, na altura, colocou a artista - geralmente acompanhada de etiquetas a dizer "avantgarde", "pós-coiso", e "ciber-cena" - a dançar na MTV. E, agora, a dançar, também, no Rivoli. Não se pense, contudo, que foi uma viagem nostálgica ao passado futurista. Laurie tem um olhar no presente - atento, empático, acutilante. Fala do avó sueco, para abordar o tema dos migrantes e dos refugiados. Fala de Nova Iorque, para dizer que as cidades são um posto avançado no combate ao nacionalismo. Fala de Trump, para falar de Mamdani. Fala do mestre budista, para dizer que é preciso estar atento ao mundo e lutar - com consciência - mas sem entrar em depressão. Isto, numa noite em que depressão Cláudia insistiu em descarregar água sobre os manifestantes. Mas estes seguiram estrada fora, serenos, depois de uma aula de Thai Chi.
Os dois juntos, aqui: https://www.youtube.com/watch?v=t3SYR-ENPMM
A dada altura, chamaram aos Depeche Mode “a maior banda alternativa de estádio”. Bem apanhado. Antes deles, só me lembro dos U2 e dos Simple Minds. Mas, os U2 cresceram de tal forma, que se tornou difícil pensá-los como “alternativos”. Já os Simple Minds foram muito grandes, mas durante muito pouco tempo.
Há 40 anos, estavam no topo do mundo, com um disco “blockbuster”, que tinha tantos sucessos, que mais parecia um “best of”. Era uma vez…
https://www.rtp.pt/noticias/pais/gnr-celebram-45-anos-nos-coliseus_n1691945
Esta semana, por causa dos 80 anos de Debbie Harry, andei a ouvir os Blondie no computador. E a ter problemas com o algoritmo. Eu a pedir "Bota aí o 'Heart of Glass', 'fachabôr'!". E ele "Com certeza". Mas, logo a seguir, "Tomei a liberdade de lhe sugerir a 'Serenata para cordas', de Dvořák". E eu "Pois, mas não quero. Quero o 'Call me', ok?". E ele "A sua solicitação foi atendida. Agora, sugiro a suíte 'Os Planetas', de Holst". E eu “Mas pensas que estás na Gulbenkian, ou quê? Tens aí o 'Atomic'?". E ele "Tenho". E, depois, "Também tenho 'O Barbeiro de Sevilha', de Rossini". E eu, "Ai, o caraças...".
Portanto, cuidado, meus amigos. O algoritmo tem a mania que é esperto. Ou, então, tem a mania que somos espertos. O que, ainda, é pior.
Debbie Harry faz 80 anos... e eu regressei aos anos 80.
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Passaram mais de 15 anos, desde o último disco, e quase 35, desde "Desintegration" - o último disco relevante dos The Cure. Depois de várias aventuras sonoras (umas mais bem sucedidas do que outras), o álbum "Desintegration" foi encarado, na altura, como um regresso à sonoridade de Faith (1981) e Pornography (1982) - com músicos mais competentes, em termos técnicos, e arranjos mais sofisticados. Por sua vez, o novo disco dos The Cure ("Songs of a Lost World ") tem sido comparado a "Desintegration". Desta vez, porém, a maior diferença está no quase alheamento da estrutura tradicional da canção pop. Neste disco, não há canções que se aproximem de "Lullaby", "Pictures Of You" ou "Lovesong". Em compensação, os temas são muito bem cuidados, em termos instrumentais, podem estender-se para lá dos 10 minutos e parecem condensar o melhor dos The Cure, ao longo dos anos, e dos grupos ao seu redor. As letras sobre perda e abandono remetem para os Joy Division; a tensão e raiva, para Siouxie and The Banshees; a sonoridade melancólica para os Cocteau Twins ou Durutti Column. "This is the end", canta Robert Smith no início do disco - que termina com "It's all gone" (...) "Left alone with nothing". Sim, “tudo isto é triste", "tudo isto existe" e, até, parece fado. Bem bonito, este "Songs of a Lost World".
Vá lá, meninos, ponham-se aí… um chorozinho para a fotografia. Já está, obrigado.
"Desalmadamente", foi o disco que trouxe de volta Lena d'Água. O disco é maravilhoso e a história é encantadora. Vou resumir. Lena nasceu cantora, num país de bigodes e camisas de flanela. Era jovem, linda e fresca e teve um sucesso arrebatador, nos anos 80. Nos anos 90, o sucesso começou a desvanecer-se, até que Lena quase desapareceu. Nos últimos anos, foi sendo - aqui e ali - (re)descoberta por uma geração de músicos mais jovens. Até que um compositor (Pedro Silva Martins, da Deolinda - admirador de Lena, desde criança) resolveu escrever-lhe um disco inteiro. O disco foi bem acolhido, mas não foi um fenómeno - como os Humanos ou o Buena Vista Social Club. A pandemia terá desajudado.
Cá em casa, gostámos tanto de "Desalmadamente" que, quando chegou o Natal, comprámos dois exemplares do sucessor - o igualmente maravilhoso "Tropical Glaciar". Tem boas canções (música e letra), bons arranjos e bons músicos (gente da Deolinda, do Godinho, dos Ornatos, dos Clã). A voz de Lena teima em não envelhecer e está tão à vontade nos temas mais introspectivos ("O que fomos e o que somos" ou "Metaversão") como nas canções mais enérgicas ("Carne Vegan" e "Pop Toma"). Numa evocação de Bordallo, Lena atira "Queres pop, toma". Quero, tomo e pago já. Que, isto, nunca fiando.
Para ouvir, aqui: