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E eis que chega a primavera. Tempo de amor e poesia. Um casal de adolescentes passa por mim: ele, de calções de moletão e camisola de manga cava; ela, de top e minissaia, muito, muito mini. São ultrapassados, por outro jovem, de passo estugado, sapatilhas de corrida e tronco nu. Calma, malta. Eu sei que está bom tempo e que apetece tirar a roupa. Mas, ainda não chegámos: nem à Madeira, nem aos 20 graus, nem ao verão. Aliás, quando chegarmos ao verão vão tirar o quê? O apêndice?
Uma canção é composta por música e letra. Uma das questões que se coloca, frequentemente, aos escritores de canções, é saber o que é que nasce primeiro. Outra, é saber se a letra pode ser considerada um poema. Se vive sem a melodia. Neste caso, a discussão tende a ser acalorada. Porque vivemos, ainda, com uma concepção de "acima e abaixo" - "cultura erudita" versus "cultura popular". Conheço muitos versos da "cultura popular" que são bem melhores do que alguns versos da "cultura erudita". Não há muito tempo, o tema foi discutido por causa do Nobel da Literatura, atribuído a Bob Dylan. Muitos "da literatura" não gostaram. Os da cultura popular chamaram-lhe "snobs". Não sei quem tem razão, mas não me apaixonei pela discussão. Estranhei, apenas, por uma questão "técnica". Para mim, não se trata de saber se os textos de Bob Dylan são suficentemente bons, para serem premiados com um "Nobel". Mas, antes, saber se as canções, os discos ou os concertos ao vivo podem ser premiados como "literatura". Estranharia um "Grammy" ou um "Brit Award" para Saramago, por exemplo. Um dos escritores de canções mais brilhantes que conheço (música e letra), chama-se Fausto. No "Fala com Ela", da Inês Meneses, diz que não se considera poeta e explica porquê. Não é por ser mais, ou menos. Não é por ser "acima ou abaixo". É por ser outra coisa.
Olá, Tom! Tinha saudades tuas. E nem sabia.
Se quiserem saber mais sobre Tom Verlaine, leiam aqui o Nuno Galopim, que ele explica estas coisas muito bem.
https://www.rtp.pt/noticias/cultura/uma-casa-para-eugenio_a1461353
Nesta altura, Arnaldo ainda era jovem e os poetas ainda eram vivos: Herberto Helder, à esquerda; Eugénio de Andrade, ao centro; Arnaldo Saraiva, à direita, que dedicou grande parte da sua vida ao segundo. Recebeu-me em sua casa, para começarmos a celebrar o centenário de Eugénio. A reportagem passa esta quinta-feira, depois das 10 da manhã, na Antena 1. Chamei-lhe "Uma casa para Eugénio". Obrigado Arnaldo Saraiva, Fernanda Ribeiro, João de Mancelos e João Rapagão, pela generosidade. Obrigado, António Jorge, pelo desafio. Obrigado, Rui Fonseca, pelo talento.
Vivemos num tempo de especialização - continua e progressiva. Ser (realmente) bom numa coisa, implica (geralmente) abdicar de tudo o resto. São poucos aqueles que são verdadeiramente bons, em várias coisas: simultânea ou alternadamente. Enciclopédico, Mega Ferreira foi jornalista, escritor, gestor, sonhador, fazedor: na RTP, no JL, na Ler, na Expo, no CCB. Há muito, que o tempo não está de feição para os homens da renascença. Mega Ferreira foi contra o tempo e renasceu várias vezes. Hoje, morreu.
O amor tem altos e baixos. Às vezes, dou por mim arrebatado, inebriado, embevecido. Outras vezes, recuo e vacilo. Lamento-lhe a pobreza, a decadência, o desleixo. Nessa altura, dá-me para ouvir esta música. "Morro de amor", diz o primeiro verso do "Fado Moliceiro", que faz renascer a minha paixão. Hoje é dia de festa e de amor. Na minha terra. Pela minha terra.
[O Fado Moliceiro junta três génios: Ary dos Santos, Carlos do Carmo e Carlos Paredes]