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Antes de vos falar do John, do Paul, do George e do Ringo, deixem-me falar-vos do Tó. O Tó era amigo da minha irmã e fã dos outros quatro. E queria converter-nos à religião dele. Mas, nós não estávamos para aí virados. Tínhamos acabado de descobrir as viagens cósmicas dos Pink Floyd e as transgressões musico-poéticas dos Doors. Os Beatles pareciam-nos demasiado antigos e bem comportados. "I wanna hold your hand" ou "Yellow submarine" pareciam-nos canções inocentes e infantis. Que contraste com o "Shine On You Crazy Diamond", dos Pink Floyd, ou com o "Light my fire", dos Doors! Mas o Tó não desarmava e queria-nos oferecer o seu disco preferido dos Beatles. Acabámos por chegar a uma solução de compromisso. Emprestou-nos o "Abbey Road": se não gostássemos, podíamos devolvê-lo; se gostássemos ficávamos com o disco. Gostámos. O "Abbey Road" tem 50 anos e mora em minha casa, há mais de 30. É maravilhoso e está cada vez mais novo.
Quando eu era mais novo, tinha amigas que decoravam o quarto e os cadernos com fotos dos Wham!. "Coitadas!", pensava eu. Depois, o George fez-se homem e começou a gostar de homens. Coitado! Com tantas gajas boas à volta e deu-lhe para aquilo. Não nos encontrávamos. Quando o George estava nos Wham!, eu ouvia Pink Floyd. Quando deixou crescer a barba à homem, eu ouvia Cure e Joy Division.
Em 1990, perdi o pé. George fez um disco do caraças e eu fiquei sem saber o que fazer à minha vida. Deveria eu sair do armário, onde guardava os meus trajes negros urbano-depressivos? Sim, ou não? Saí. "Ouçam-me sem preconceitos", gritava, baixinho, George Michael. Eu ouvi. Afinal, George tinha música boa. "Listen Without Prejudice Vol.1" é um grande disco. George é um grande músico.
Pois, caso não se tenham apercebido, o George fazia música. E boa. Muito boa.