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As bibliotecas são locais de memória, de partilha e generosidade. Dão-nos acesso a um património de séculos, a lugares distantes e inacessíveis e são, elas próprias, lugares. Gosto de visitar bibliotecas, de percorrer os corredores, de afagar lombadas, de me sentar a folhear livros e a pensar que o tempo nunca será suficiente para os ler. As bibliotecas não só nos deixam ler os seus livros, como nos deixam levá-los, de empréstimo, para casa. Algumas, chegam, até, a dar livros. Como este: uma biografia de Stravinsky, editada pela francesa Hachette, em 1968. Tem belíssimas fotografias (das "escandalosas" coreografias da "Sagração da Primavera"; do próprio Stravinsky, ao longo dos anos; ou de Stravinsky, acompanhado por outros génios da música como Debussy ou Benny Goodman). Tem ilustrações maravilhosas (Picasso, Cocteau, Modigliani). Tem cheiro a coisa preciosa. Tem um carimbo a dizer "Oferta". Só para não me esquecer de dizer "obrigado". Não esqueço (como poderia esquecer?) Obrigado. Muito obrigado.
Segunda fase de desconfinamento. Hoje, reabrem museus, cafés e restaurantes. Que angústia! Como decidir entre uma pintura moderna e um bom copo de tinto? Ó Picasso, não dá para juntar dois prazeres?
Para que não restem dúvidas: este título foi retirado de uma canção pop dos anos 80, de gosto duvidoso. A canção era uma referência a Amadeus Mozart, transformado em estrela pop, pelo filme de Miloš Forman. Gostava que um músico pop português fizesse algo parecido com o nosso Amadeo. E, se possível, que a música fosse boa.
Amadeo (como Amadeus, em tempos) é um génio a precisar de reconhecimento internacional. Nasceu em Amarante; viveu em Paris; conviveu com os maiores pintores da altura; teve uma carreira de cerca de 6 anos; morreu com 30 anos. E, no entanto, deixou uma obra importantíssima. Profundamente portuguesa, a sua obra está “sintonizada” com as vanguardas do seu tempo. Foi contemporâneo de Picasso e Kandinsky, companheiro de Modigliani e do casal Delaunay. Mas, fora de Portugal, permanece desconhecido.
É, por isso, que a exposição de Amadeo de Souza-Cardoso, no Grand Palais, em Paris, é tão importante. Amadeo chegou a expor naquele espaço, que há pouco tempo recebeu a obra de Picasso, e que recebe visitantes do mundo inteiro. Já disseram que Amadeo é o segredo mais bem guardado do mundo. Está na hora de deixar de ser. Os segredos, ensinou-me a minha mãe, dizem-se alto. Rock me Amadeo.