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- Ó pai, o "Quebra-Nozes" é um bocado música clássica para crianças. Não é?
- É.
- Então, esta música é um bocado Tchaikovsky para jovens. Não é?
- Para jovens como tu ou como eu?
- Como eu, pai.
- Ai sim?
- Sim, tu já és um jovem um bocado cota.
"Espetáculos musicais, sem músicos, sabem-me a pouco", disse David Ferreira, esta manhã, na Antena 1. A afirmação veio a propósito das passagens de Rosalía e dos Pet Shop Boys pelo Primavera Sound. A Rosalía diz-me pouco, porque conheço pouco. Já os Pet Shop Boys dizem-me muito. São das minhas bandas preferidas. E, mesmo assim, não me chamaram ao festival. Nos festivais desfilam-se os sucessos do costume, os Pet Shop Boys praticamente não usam músicos em palco e (convenhamos) Neil Tennant é um cantor muito limitado. Portanto, sem música, sem músicos e sem cantor, ficamos com o quê?
Mais de 40 anos depois, continua a ser difícil apresentar música pop, de pendor eletrónico, em palco. Durante muito tempo, várias bandas optaram por fazer discos, sem os apresentar ao vivo. Depois, com a fiabilidade das tecnologias musicais e com o desenvolvimento das tecnologias visuais (e com o quase fim da venda de discos) fizeram-se à estrada. Vi as imagens do palco dos Pet Shop Boys e (sinceramente) gostei muito do que vi. Esteticamente, os Pet Shop Boys (as capas dos discos, os videoclips, as roupas, os palcos) sempre foram irrepreensíveis. Mas, temo que o apuro estético resulte num ciclo vicioso. As imagens servem para ilustrar a falta de música e vice-versa. Os músicos, os cabos, os "roadies" estragam o cenário. Temos visto isso, todos os anos, no Festival da Canção e da Eurovisão.
Já viram os Pet Shop Boys, ao vivo, com um coro, percussionistas, naipe de metais, orquestra de cordas e com o Johnny Marr, na guitarra? Eu já. Não me soube a pouco, soube-me a tanto. Infelizmente foi, apenas, na minha cabeça.
David Ferreira a contar, aqui:
https://www.rtp.pt/play/p955/e698104/david-ferreira-a-contar
"Achei que essa letra, dramática, fazia mais sentido cantada pela Tina Turner. Mas, nessa altura, ela estava a despedir-se do público, depois de 50 anos de carreira. Acabámos por ser nós a gravar", disse, Neil Tennant, dos Pet Shop Boys. A dupla já tinha escrito para Tina Turner. E, antes, já tinha escrito para outras divas, como Dusty Springfield e Liza Minelli.
Tina teve uma segunda vida quando regressou, no início dos anos 80, com a ajuda de um conjunto de compositores mais novos. A canção-título do álbum "Private Dancer", por exemplo, foi escrita por Mark Knopfler (dos Dire Straits). Apesar de não ter sido escrita para ela, fez todo o sentido: na sua voz, na sua entrega, na sua garra, na sua história, na sua vida. Era ela. Tina era o que cantava. Tudo o que cantava passava a ser dela. Até o que não cantou.
Volto ao início. A canção que Neil Tennant falou chama-se "The way it use to be". A dada altura, diz assim: "Don't give me all your northern pain / Don't sell me New York in the rain / Let's leave our promises behind / Rewind and try again". Tina nunca a cantou, mas é, sempre, a voz dela que eu ouço na minha cabeça.
A canção dos Pet Shop Boys, de que falo, é esta:
https://www.youtube.com/watch?v=cibw8Hsab28
A canção que escreveram para a Tina Turner é esta:
Um facto, talvez, menos conhecido de Morricone. Apesar da ligação intensa ao mundo do cinema, a música de Ennio Morricone não se limitou a ele. Por exemplo, em 1987, Morricone trabalhou com um grupo de música pop: os Pet Shop Boys. A canção foi incluída no segundo disco da dupla e teve o arranjo de Angelo Badalamenti (o criador das paisagens sonoras de David Lynch). E, depois, esta canção deu nome ao filme "It couldn't happen here". É como se não fosse possível afastar Morricone do cinema.