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- Olha, um peru!
- Como é que lhe chamaste?
- Peru. Em português, este animal tem o nome do teu país.
- Não acredito!
- Acredita, que é verdade.
O Peru volta a estar em crise. Estou chateado que nem um peru.
A Consuelo não vai perceber a expressão, mas, talvez, acredite.
Aprendi, no Peru, que os Incas não conseguiam perceber a obsessão dos espanhóis com o ouro. Vejamos, eles também gostavam. Usavam ouro, em adornos e objetos. O ouro brilhava e estava associado ao deus sol, que veneravam. Mas daí até perseguir, massacrar, destruir, escravizar um povo e arrasar um império inteiro, vai uma grande distância. Contaram-me que os Incas chegaram a colocar a questão: será que os espanhóis comem ouro? Antes comessem. Mas não. Era só para tirar, roubar, acumular, transportar, vender, enriquecer. Depois inventavam-se umas coisas como “civilizar os povos” ou “converter as almas”.
Quando alguém já não precisa de mais dinheiro para comer, para comprar casa ou carro, para educar os filhos, ou para se educar a si próprio. Quando alguém ganha o que nenhum cidadão comum ganha. Quando tem uma ou mais reformas. Quando tem cargos, estatuto e papel; lugares em assembleias e conselhos gerais; comendas, presidências honorárias e doutoramentos honoris causa. Porque é que, mesmo assim, precisa de mais ouro Inca?
Para o comer. Só pode ser…