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O Tribunal Constitucional (TC) considerou a eutanásia inconstitucional. O texto, defendeu o TC, tem uma "intolerável indefinição". Que "indefinição" é essa, que é tão "intolerável"? Bem, diz o TC, é o "e" .
Concretizando: o texto refere "o sofrimento físico, psicológico e espiritual" - o que levanta, diz o TC, "interpretações antagónicas". E questiona: "A exigência é cumulativa ou alternativa"? É que, diz o TC, no primeiro caso, temos "sofrimento físico, mais psicológico, mais sofrimento espiritual". No segundo, continua a dizer o TC, temos "tanto o sofrimento físico, como o psicológico, como o espiritual". Soa a Kafka? Talvez. Mas soa, sobretudo, a trabalhador da restauração: "Quer um copo de água ou um copo com água"? O meu pai, que trabalhava na restauração, nunca disse essa piadinha. Mas dizia, frequentemente, a expressão: "Nem o pai morre, nem a gente almoça".
Para acabar, de vez, com a pandemia, a guerra na Ucrânia, a crise energética, a inflação, a fome, a mentira e a inveja.
O que pintaria, hoje, Paula Rego? Não sabemos. Nunca saberemos. Sabemos, no entanto, o que pintou Paula Rego, depois de ter visto a lei do aborto ser arrastada para um referendo e depois da maioria dos portugueses ter optado por não votar. Nessa altura, Paula Rego revelou que recorreu ao aborto clandestino quando era estudante de artes, no Reino Unido dos anos 50. Voltou a lembrá-lo, recentemente, quando a reversão do aborto voltou a ser discutida nos Estados Unidos. Hoje, em Portugal, volta-se a discutir a lei da eutanásia. Há quem volte a usar os mesmos argumentos: a discussão foi muito apressada; é preciso convocar um referendo. O marido de Paula Rego morreu, há mais de 30 anos. Viveu 20 anos com esclerose múltipla. Sobreviveu a uma tentativa de suicídio, mas não à doença. Paula Rego morreu, ontem, aos 87 anos. Não sobreviveu, no entanto, à imortalidade.
A notícia: o governo quer que o Parlamento vote o plano de recuperação da TAP. O primeiro-ministro considerou, ontem, que a notícia foi dada por uma má fonte. A má fonte, perdão, o ministro Pedro Nuno Santos reafirmou a intenção. Ambos defendem que é preciso alcançar consensos. Falta-lhes, talvez, a capacidade conciliadora do ministro Cabrita.
O PCP já anunciou que se vai abster. Daqui a pouco, o PAN vai revelar o sentido de voto. A aprovação do Orçamento do Estado parece uma série de televisão. Gostava de seguir o Orçamento com mais atenção, mas o pessoal cá de casa anda mais interessado na Galactica: "By your command!"
Um estudo refere que as pessoas em teletrabalho estão a ver mais conteúdos para adultos. Muitos chegam a usar computadores da empresa para esse fim. "Que horror", pensei. Eu, que tinha pensado em ver o debate quinzenal no Parlamento, fechei logo o computador.
O referendo, diz-nos a Infopédia, é o "instrumento democrático pelo qual os cidadãos eleitores são chamados a pronunciar-se (...) sobre uma ou mais questões de relevante interesse nacional". O "instrumento democrático" deveria permitir dizer "sim", ou dizer "não". A prática demonstra, no entanto, que o referendo tem sido usado como arma de arremesso do "não". Quando alguém está contra pede um referendo. O que me leva a outra definição: "não fazer nada; atrasar; não resolver; demorar; empatar". É a definição de "'Encanar a perna à rã". Encontrei-a no Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
Dois dias para debater o programa do governo não é demais. Afinal, este é o país onde se discutiu, semanas a fio, o programa da Cristina. Já agora, reparem que alguns dos protagonistas são comuns. [Foto: Tiago Petinga - Lusa]