Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Foi há muitos anos, mas podia ter sido hoje. Dezenas de emigrantes e descendentes de emigrantes portugueses desfilavam, pelas ruas de Paris, contra a imigração - numa manifestação convocada pela Frente Nacional. Foram interpelados pelos jornalistas: "Não acha estranho, ser emigrante e estar numa manifestação contra a imigração?" "Não", respondiam. E, depois, as justificações atenuantes: "O Le Pen gosta dos portugueses"; "Não é contra os imigrantes"; "Só é contra os que não querem trabalhar"; "Os que nos vêm tirar os empregos"; "os magrebes e os pretos, que vêm para cá". Estes portugueses - tão seguros da sua capacidade de trabalho, da sua condição europeia, da "pureza" da sua pele - ignoram, talvez, que muitos franceses não os consideram brancos. Estes portugueses são incapazes de se colocarem no lugar do outro, mas, também de se aperceberem do seu próprio lugar. Será sempre mais fácil votar contra os "pretos", se não pensarmos que os "pretos" podemos ser nós.
Versalhes. Acho ridículo terem posto o nome de uma pastelaria a uma cidadezinha nos arredores de Paris. Enfim, só mesmo os franceses. Ah, já agora, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou a recandidatura a Belém.
Um tango argentino, de Piazzolla; na voz de uma jamaicana, modelo em Paris e cantora em Nova Iorque. Diz que são precisos dois, para dançar Libertango.
We'll Always Have Paris. Entre o Casablanca e a Casa Branca há mais do que a troca de uma consoante.
Atordoado pelos acontecimentos em Nice, resolvi publicar de novo um texto que escrevi em Novembro. Chama-se "Terroristas vencem sempre". Aqui vai ele. Acho que está actual. Infelizmente.
"O problema com o terrorismo, é que os terroristas vencem sempre. Vencem, quando falo do assunto. Venceriam, se o ignorasse. Vencem quando matam. Mas, também, quando falham. Matar (ou tentar matar) uma pessoa (uma só) - no sítio certo, à hora certa - é motivo para colocarem os media, do mundo inteiro, a falar sobre o assunto. Com imagens contínuas, em “slow motion” ou “fast foward”. Com notícias e reportagens em direto. Com comentários de especialistas. Com fóruns de ouvintes e espectadores. Com capas de jornais e revistas. Com o tráfego da solidariedade e indignação online. Os terroristas vencem sempre.
Vencem com o crescimento da extrema direita e da intolerância. Vencem com os discursos “compreensivos”, que evocam o passado colonialista do ocidente ou a falta de políticas de integração. Vencem com as acções militares contra o inimigo. Vencem com o medo, com a raiva, com a violência.
Costuma-se dizer, por graça, que o futebol são 11 contra 11 e no final ganha a Alemanha. Com o terrorismo é a mesma coisa. Só que, neste caso, não tem graça nenhuma."
Para que não restem dúvidas: este título foi retirado de uma canção pop dos anos 80, de gosto duvidoso. A canção era uma referência a Amadeus Mozart, transformado em estrela pop, pelo filme de Miloš Forman. Gostava que um músico pop português fizesse algo parecido com o nosso Amadeo. E, se possível, que a música fosse boa.
Amadeo (como Amadeus, em tempos) é um génio a precisar de reconhecimento internacional. Nasceu em Amarante; viveu em Paris; conviveu com os maiores pintores da altura; teve uma carreira de cerca de 6 anos; morreu com 30 anos. E, no entanto, deixou uma obra importantíssima. Profundamente portuguesa, a sua obra está “sintonizada” com as vanguardas do seu tempo. Foi contemporâneo de Picasso e Kandinsky, companheiro de Modigliani e do casal Delaunay. Mas, fora de Portugal, permanece desconhecido.
É, por isso, que a exposição de Amadeo de Souza-Cardoso, no Grand Palais, em Paris, é tão importante. Amadeo chegou a expor naquele espaço, que há pouco tempo recebeu a obra de Picasso, e que recebe visitantes do mundo inteiro. Já disseram que Amadeo é o segredo mais bem guardado do mundo. Está na hora de deixar de ser. Os segredos, ensinou-me a minha mãe, dizem-se alto. Rock me Amadeo.
“A vida sem viver é mais segura”, cantava, a partir de Paris, José Mário Branco. A canção chama-se “Perfilados do medo” (poema de Alexandre O’Neil). Foi registada, em 1971, num disco chamado “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Mudaram-se os tempo, é certo, mas o medo ficou. Ou, pelo menos, vai e volta. Paris tem medo. Bruxelas tem medo. Berlim, Londres e Madrid também têm medo. Toda a Europa tem medo.
Por isso, escrevi, aqui, que os terroristas vencem sempre. Não precisam de disparar. Basta meterem medo. Ouvi, esta manhã, na Antena 1 a descrição de Bruxelas, uma cidade paralisada. E ouvi soluções mágicas de ouvintes. Com voz de homem e atitude de macho, ditaram: é preciso bombardear o Estado Islâmico, na Síria. Pode ser uma acção necessária. Mas, não percebo como é que isso impede os terroristas de atacar Paris ou Bruxelas. É que os terroristas estão cá. Muitos deles, são de cá. Portanto, o assunto, não se resolve “lá”. Nem se resolve, passando de “Rebanho pelo medo perseguido” a fera que ataca sem sentido.
O problema com o terrorismo, é que os terroristas vencem sempre. Vencem, quando falo do assunto. Venceriam, se o ignorasse. Vencem quando matam. Mas, também, quando falham. Matar (ou tentar matar) uma pessoa (uma só) - no sítio certo, à hora certa - é motivo para colocarem os media, do mundo inteiro, a falar sobre o assunto. Com imagens contínuas, em “slow motion” ou “fast foward”. Com notícias e reportagens em direto. Com comentários de especialistas. Com fóruns de ouvintes e espectadores. Com capas de jornais e revistas. Com o tráfego da solidariedade e indignação online. Os terroristas vencem sempre.
Vencem com o crescimento da extrema direita e da intolerância. Vencem com os discursos “compreensivos”, que evocam o passado colonialista do ocidente ou a falta de políticas de integração. Vencem com as acções militares contra o inimigo. Vencem com o medo, com a raiva, com a violência.
Costuma-se dizer, por graça, que o futebol são 11 contra 11 e no final ganha a Alemanha. Com o terrorismo é a mesma coisa. Só que, neste caso, não tem graça nenhuma.