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- Ó pai, eu comecei a falar muito cedo, não foi?
- Sim.
- Lembras-te qual foi a primeira palavra que eu disse?
- Não tenho a certeza. Talvez, "etimologia".
- Isso quer dizer o quê, pai?
- Não sei. Tens de ir à origem da palavra.
- Ok, depois eu vou.
- Não queres ir já?
- Não. Primeiro tenho de ir lanchar.
- Olá, pai, já cheguei!
- Olá, querido!
- Como é que correu o teu dia?
- Correu bem. E o teu, filho?
- Ainda correu melhor do que o teu.
- Ah, sim?! Porquê?
- Porque eu sou mais bonito!
"Cabeça de abóbora", costumava chamar-me o meu pai, sempre que eu me esquecia de alguma coisa. Não percebia a ligação entre as abóboras e a minha cabeça: distraída e sem juízo. Lembro-me de lhe perguntar o significado da expressão, mas não me lembro da resposta. "Comes muito queijo", diria o meu pai. Provavelmente, não valeria a pena insistir na pergunta. Correria o risco de ouvir outra das suas expressões: "Abóbora, que arroz é água". Abóbora, no dia dela.
- Tens os papéis, para entregar ao treinador?
- Tenho, pai.
- Como é que ele se chama?
- Não sei.
- Não sabes?
- Não, pai, é novo. Nós chamamos-lhe "mister".
- Mas, aqui, são todos "mister" .
- Todos, pai?!
- Todos, não. O teu pai é um "senhor".
- Ó pai, gostas das sapatilhas que te oferecemos?
- Gosto, são muito confortáveis.
- Calculei, são para pessoas como tu.
- Como eu... ?
- Sim, pai. Não sabias que essa marca é para senhores velhinhos?