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"Vê lá se a Páscoa te sai à segunda-feira", costumava dizer o meu pai. A frase podia ser dita em tom de aviso, de ameaça, ou, apenas, em tom de brincadeira. "Nesta família, a Páscoa é sempre à segunda feira", costumávamos responder. E era verdade. Na Páscoa, mudávamo-nos para a aldeia, visitávamos todas as casas de todos os tios, ajudávamos a preparar tudo para a visita pascal, estreávamos roupas novas. Havia salas que se abriam uma vez por ano: para esse dia, para esse momento. Na mesa, as melhores toalhas recebiam gasosas e laranjadas, vinho do Porto e "Martini", pratinhos de queijos e enchidos, pão e folares, amêndoas e biscoitos. Nunca havia tempo para provar tudo, porque, entretanto, mudávamos para outra casa, que tinha coisas parecidas, e depois para outra e depois para outra. Esse dia, era segunda. Por mais avisos e ameaçadas que o meu pai nos fizesse, a Páscoa era sempre à segunda-feira.
A Páscoa está a chegar. Credo! Está na altura de limpar os cristais, as porcelanas inglesas e as pratas de família. Que trabalheira! Depois, penso: "não tenho cristais, nem porcelanas, nem pratas de família" e fico contente. Veem? E ainda dizem que não há alegria na pobreza...
Tempo de páscoa. Antigamente, mudava-me para a aldeia, para ouvir falar de Jesus. Actualmente, "me quedo" na cidade, para ouvir falar espanhol.