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- ... e aquela Mafalda, dona Fátima? Saiu-me cá uma falsa!
- Quem?
- A Mafalda que, agora, anda lá metida com o engenheiro.
- Não estou a perceber.
- A da telenovela... da TVI.
- Ah, deixei de ver novelas. Aquilo é sempre a mesma coisa.
- Mas, a senhora gostava tanto!
- Pois, mas fartei-me. Agora vejo a CMTV.
- A sério? Aquilo é só crimes e desgraças!
- É, eu acho piada àquelas desgraças todas.
Infoentretenimento.
Os especialistas alertam para o aparecimento de uma nova linhagem da variante Ómicron em Portugal. Reparem, não é uma nova variante. É uma nova linhagem. Se fosse na novela "Pôr do Sol" seria "Ómicron Bourbon de Linhaça". Na vida real, não sei. A realeza costuma ter (ainda) mais nomes.
"Esta variante Delta", disse o especialista, "é mais contagiosa, que as anteriores. Mas é preciso perceber que 'delta' é, apenas, a 4.ª letra do alfabeto". O alfabeto grego tem um comprimento parecido com o nosso: 24 letras. A Covid é, portanto, uma mistura de epopeia grega e novela à portuguesa. No episódio de hoje, o governo vai decidir se paramos ou andamos para trás.
Leio esta manhã: "Marcelo Rebelo de Sousa abre a porta à venda de livros". Pelo que percebi, as pessoas não andam a ler, porque a venda de livros tem estado limitada. A partir de hoje, as pessoas vão desligar as novelas e os futebóis, para se dedicarem (finalmente) àquilo que mais gostam: velejar na epopeia grega, desbravar o existencialismo francês, mergulhar no romantismo alemão. Cuidado Cristina, não abordes a lírica camoniana, no programa da manhã, e vais ver as audiências a cair a pique! Ou é isto, ou não estou a ver bem o problema. Excesso de Camões.
Nesta novela, o personagem principal é expulso do castelo de um barão, depois de ter sido apanhado aos beijos com a filha deste. Nessa altura, o barão não sabia que iria ser morto, juntamente com o resto da família. Na verdade, não foi bem assim: porque alguns membros da família morreram mesmo; mas outros vem-se a descobrir que não. Um deles será, mesmo, morto pelo personagem principal depois de o ter reencontrado vivo. Foi, uma vez mais, uma morte que não foi definitiva, já que os dois voltam-se a encontrar quando o protagonista reencontra, também, a filha do senhor barão... também viva. A novela - que parece mexicana, mas não é - está cheia destes encontros e desencontros, em que os personagens passam de desgraçados a senhores de bem e vice-versa, em múltiplas aventuras comandadas pelo destino. A novela podia-se, mesmo, chamar-se "Ai destino" e passar na TVI. Mas chama-se "Cândido" e é uma obra-prima de Voltaire.
Mário Frias é o novo secretário da Cultura do Brasil. O actor entrou na telenovela Malhação. Não conheço. Eu sei que Bolsonaro é um presidente todo moderno e progressista, mas não dava para convidar alguém de uma novela mais antiga? Um coronel da Gabriela ou coisa assim...
Não sei bem quem é Sofia Ribeiro. Sei que é atriz. Sei que é conhecida das novelas. Sei que tem cancro, porque a própria decidiu comunicar, publicamente, a sua sua doença. E sei que, agora, partilhou a sua careca no Facebook. Vi a sua imagem. É uma mulher linda. Claro que já era linda, antes do cancro.
Fiquei a pensar na subjetividade da beleza. Noutro contexto, centrar a atenção na sua beleza poderia ser despropositado ou, mesmo, ofensivo. Imaginemos que Sofia era candidata a um cargo político ou convidada para a administração de uma empresa, ou concorrente a um prémio científico ou literário. Realçar a sua beleza poderia ser visto como uma forma de menorizar a sua experiência, o seu conhecimento, a sua inteligência. Por outro lado, à beleza física das modelos, das misses ou das actrizes, tem-se procurado adicionar outros recursos e atributos, como, por exemplo, a inteligência.
Mas, quando se tem uma doença (grave, como é o caso) ser bela, permanecer bela é muito importante. Para manter a sua dignidade e a sua auto-estima, mas também para atribuir dignidade a qualquer ser humano, face a uma doença como o cancro. O cabelo é só um pormenor. E foi isso que Sofia Ribeiro quis realçar...