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Respeito

por Miguel Bastos, em 08.03.23

"Tudo o que queres queres, meu doce, tu tens / Tudo o que precisas, filha, tu tens / A única coisa que eu te peço / É um pouco de respeito / Quando eu chego a casa". A canção de, Otis Reading, é de 1965. Fala de trabalho e do respeito por quem trabalha, mas talvez faça franzir o sobrolho quando o cantor diz à pessoa amada que é mais doce do que o mel, para lhe lembrar, logo de seguida, que que lhe dá todo o "seu" dinheiro e pede respeito "quando eu quero, quando eu preciso". Com quem então, uma canção machista?! Se não é, parece.

Otis morreu, dois anos depois. Não teve tempo para se aperceber do rumo que a canção tomou. Um furacão chamado Aretha Franklin gravou "Respect", nesse ano, e a canção tomou um sentido completamente diferente. Aretha começa por manter grande parte da letra, apenas com pequenas intervenções cirúrgicas: o "Tudo o que queres, meu doce, tu tens", passa a "eu tenho" e o "respeito" pedido/exigido Otis ora é suavizado, pelas manas Franklin no coro, com um "just a little bit/ só um bocadinho"; ora é enfantizado, por Aretha, quando soletra R-E-S-P-E-C-T e pergunta "Tenta perceber o que isso significa para mim". A partir daqui, o caldo está entornado: já em "fade" Aretha canta "Estou cansada / Pode ser que chegues a casa / E descubras que eu já me fui embora / Eu preciso de um bocadinho de respeito (só um bocadinho, só um bocadinho)".

Aretha transformou uma simples canção, num hino contra a discriminação racial e de género. RESPECT.

PS: Já agora, também nesse ano, Aretha Franklin gravou "You make me feel like a natural woman", de Carole King. Em 2015, a compositora foi homenageada no Kennedy Center e surpreendida por Aretha, no palco. Carole, em êxtase, ao lado do casal Obama. Para ver e ouvir aqui.

https://www.youtube.com/watch?v=pT4aRd-hCqQ

Vou chorar e já volto.

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Mais ou menos

por Miguel Bastos, em 25.11.22

Gosto mais ou menos de Bruce Springsteen. Peço desculpa, mas é mesmo isso. Gosto (só!) mais ou menos, e sempre foi assim. Foi assim, quando o conheci, em 1984, a fazer concorrência no top de preferências adolescentes aos Bon Jovi, à Madonna e ao Bryan Adams. Gostava mais dele do que dos outros, mas, gostava (só!) mais ou menos. "Tens de ouvir para trás", diziam-me. Ouvi: "The River" (lindo!), "Born to Run" (Que explosão de energia!). Mais ou menos, mesmo assim. À medida que as canções iam correndo nos discos, eu ia perdendo o interesse. "Tens de ouvir o lado mais intimista". Ouvi "Nebraska" (boas letras, boas canções, boa voz). Mas, faltavam-me sempre coisas. Faltava-me um baixo pulsante e uma percussão inventiva. Faltava-me um naipe de metais, um coro de vozes negras, uma secção de cordas, uma guitarra funk. Faltava-me aquilo que Bruce Springsteen me dá no novo disco, tudo de uma só vez - que o homem tem fama de ser generoso. Gosto da versão de "Nightshift", a primeira canção que os Commodores editaram, depois da saída de Lionel Richie. É da altura de "Born in the USA" e é uma homenagem a dois mestres da soul: Jackie Wilson e Marvin Gaye. Representa bem o novo disco de Bruce Springsteen, que é (todo ele) uma homenagem aos grandes nomes da música negra. Pode não ser uma obra-prima, pode irritar alguns fãs, pode não ficar na galeria dos discos fundamentais. Mas, a mim, fez-me sorrir. E é melhor (muito melhor) que o Lionel Richie. Continuo a sorrir. Obrigado, patrão!

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Piar fininho

por Miguel Bastos, em 09.08.21

Os Bee Gees já eram estrelas pop, há vários anos. Mas a coisa só começou a piar fininho (muito fininho), a partir de 1975. Foi, nessa altura, que o falsete de Barry Gibb se revelou. A verdade é que os irmãos Gibb adoravam as grandes vozes da "soul music". Em 1967, chegaram, mesmo, a escrever"To Love Somebody" para Otis Redding, mas o cantor morreu nesse ano. Em1972, outra glória da música negra, Al Green, pegou numa canção (já conhecida) dos Bee Gees e deu-lhe o toque "soul" que a canção pedia. Três anos depois, os Gibb perderam a vergonha e - apesar de serem cantores brancos, ingleses e devotos dos Beatles - decidiram abordar a música negra e emular os seus cantores. Alguns milhares não gostaram, alguns milhões renderam-se. Oficialmente, a mudança deu-se a canção "Jive Talkin'" e o álbum "Main course", mas eu acho que começou aqui. Ora ouçam:

How Can You Mend a Broken Heart

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Fase negra

por Miguel Bastos, em 23.10.20

fase negra.jpg

Acho que estou, novamente, numa fase negra. Mas, não se preocupem: estou a adorar.

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