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Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto
"No filme 'A Lista de Schindler'", recorda o compositor John Williams, "há uma cena em que um violinista, judeu, entretém um grupo de oficiais nazis. Então, eu disse ao Steven 'seria bom termos um violinista' e pensei, logo, no Itzhak. Ele veio ter connosco e viu uma parte do filme, mas começou a ficar tão emocionado que disse 'eu não consigo ver mais, o melhor é começarmos a tocar'". E tocou. E, desde então, não parou de tocar. Onde quer que vá - da América do Norte, ao Extremo Oriente; do Norte da Europa à África do Sul - pedem sempre a Itzhak Perlman que toque esta peça.
Aqui, tocou-a num concerto de homenagem a John Williams, com a Orquestra Filarmónica de Los Angeles, dirigida pelo maestro Gustavo Dudamel. Aqui, ele toca-nos. Uma vez mais.
Umas das coisas que sempre me impressionou nos filmes da Segunda Guerra Mundial é a forma como as pessoas continuam a viver: afogadas nas pequenas coisas do quotidiano, indiferentes ao nazismo - mesmo quando ele já se materializa em guerra. Até que, de repente ficam sem trabalho, sem casa, sem direitos, sem filhos, sem pais, sem vida. É sempre inquietante para nós, que já sabemos o fim da história, assistirmos ao comportamento daquela gente. No caso de Else - mulher, alemã, judia, casada com um cristão da alta burguesia - nada conseguia abalar a sua vida burguesa, boémia e frívola: com direito a festas, vestidos, espectáculos e amantes. Mesmo quando teve que abandonar a Alemanha e instalar-se na Bulgária, continuou a ter uma vida irreal: vivia numa casa com empregada, passava férias na praia. Até que o cerco apertou e ela foi perdendo tudo: uma coisa de cada vez.
O livro “Tu não és como as outras mães”, de Angelika Schrobsdorff, fala desta mulher (Else, a mãe da autora) que, apesar de ter abandonado a fé judaica, será sempre considerada uma judia e sofrer, na pele, as consequências da sua condição. Mas, o que achei mais chocante é que o livro não acaba com o fim da Segunda Guerra Mundial, com o habitual direito à vitória da justiça, à catarse, à felicidade. E, ao estender-se no pós-guerra, assistimos, através dos olhos de Else - mulher profundamente transformada pela guerra - à repetição dos mesmos comportamentos, da mesquinhez, dos vícios que existiam antes da guerra. Como se os seres humanos (todos nós) fossemos incapazes de aprender a viver, apenas para sobreviver.
O presidente da Turquia anda, por aí, a chamar nazis e fascistas aos governos europeus. Ele que, como toda a gente sabe, está a lutar para reforçar a democracia no seu país. Mas, para isso, precisa de mais poderes e está em campanha para os conquistar. E, como é um europeu convicto, a campanha não tem fronteiras. Quer fazer campanha em países estrangeiros, com ministros do seu governo, para que toda a gente possa manifestar-se, enchendo as praças das cidades dos ditadores, e votando em massa no seu grande projeto. Toda a gente. Mesmo os que emigraram para os países totalitários da União Europeia. Mas, infelizmente, os fascistas e os nazis não deixam Erdogan cumprir a sua emissão humanitária. Primeiro foi a Alemanha, agora a Holanda.
Talvez seja por isso, que Erdogan tenha tanta simpatia pelo Império Otomano. Se ele existisse, seria mais fácil divulgar a sua mensagem de paz, democracia e modernidade. Foi sempre assim: os impérios estão ao lado dos pobres e oprimidos. Só os fascistas é que não veem. E o pior facho é o que não quer ver!