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As bruxas

por Miguel Bastos, em 16.03.23

bruxas.jpg 

A Segunda Guerra terminava e começava uma nova. A Guerra Fria fez crescer o medo do comunismo e trouxe um clima de paranóia, vigilância e perseguição para o interior dos Estados Unidos. Os mais afetados foram, sobretudo, os intelectuais e os artistas. Este período ficou conhecido como "macarthismo". O processo como a "caça às bruxas". Foi neste contexto, que o dramaturgo Arthur Miller voltou ao caso das Bruxas de Salém. A história, verídica, remete para o século XVII, quando várias pessoas de uma pequena povoação foram perseguidas e julgadas por bruxaria. Arthur Miller descreve bem o ambiente de intimidação e horror, em que uns acusam outros, em que uns são jogados contra os outros, num processo irracional e autodestrutivo.
 
Numa altura em que a qualidade da democracia é ameaçada pelo crescimento do populismo, pelo poder desregulado das redes sociais, pela nova cultura do cancelamento, por novas caçadas a bruxas, o encenador Nuno Cardoso leva a peça As Bruxas de Salém, ao palco do Teatro Nacional São João, no Porto. Arrepiante. Inquietante.
 
[Fotografia: TNSJ]

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Rádio, intimista

por Miguel Bastos, em 13.02.23
A entrevista foi por Skype, que os tempos eram de pandemia.

- Não vai precisar de recolher imagem, pois não? - diz-me a voz do entrevistado, do outro lado.

- Não, só preciso do áudio.

- Ótimo - diz-me ele a aparecer no enquadramento - é que tenho estado na nossa casa da aldeia e aqui está calor do caraças.

Olho para o ecrã: os pelos brancos, a saírem-lhe do peito; os pelos pretos, a saírem-lhe dos calções de licra. Desvio o olhar, por pudor, enquanto penso se devia tentar uma carreira na televisão.

A rádio, dizem, é o meio de comunicação mais intimista. Vamos celebrar o dia dela, o nosso dia. Vestidinhos.

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Albiceleste

por Miguel Bastos, em 19.12.22

20221219_100635.jpg

Para quem adorou o uso e abuso da designação "albiceleste".

adjectivo

2. [Desporto] Que ou quem pertence a uma equipa ou a um clube cujas cores habituais são o branco e o azul-celeste.

in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/albiceleste [consultado em 19-12-2022].

Saudações aurinegras, deste membro do clã Aveiro.

(O trocadilho poderá exigir uma nova visita ao dicionário. As minhas desculpas.)

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Está tudo doido?

por Miguel Bastos, em 16.12.22

caminho.jpg 

À semelhança de milhares de portugueses, também eu fui levantando os olhos em direção aos ecrãs de televisão. Presumo, no entanto, que, enquanto muitos procuravam imagens de Mourinho, eu procurei Santana Lopes. Lembram-se? Eu vou recordar. Há uns anos, Santana Lopes foi à televisão, falar do futuro do país e do PSD, mas foi interrompido para um direto. Mourinho estaria a chegar a Portugal, a bordo de uma aeronave, vindo do planeta Chelsea. Fez-se o direto e voltou-se à entrevista. Quer-se dizer: tentou-se. Porque Santana aproveitou a deixa, para ensaiar uma postura de Estado. "Está tudo doido?", perguntou. E perguntou bem. Enquanto ex-primeiro-ministro, impunha-se essa pedagogia. Eu próprio tentei esquecer-me que, antes de ser primeiro-ministro, Santana foi presidente... do Sporting. E que evitou (sempre e com todas as suas forças!) a mediatização da política. E nunca permitiu que a imprensa cor-de-rosa invadisse o seu coração cor-de-laranja.

Entretanto, o mundo mudou muito. As televisões deixaram de interromper ex-primeiros ministros, porque optaram por transmitir interrupções, ininterruptamente. Olho para os ecrãs e vejo tudo aos quadradinhos (as televisões, agora, têm mais quadradinhos do que a banda desenhada): imagens de comentadores no estúdio, em casa e no carro; imagens dos jornalistas em estúdio e no exterior; imagens do selecionador em ação e a sair de cena; imagens de carros e autocarros e aviões. Muitas, ao mesmo tempo. Sabemos que, na modernidade, o salvador não vem numa manhã de nevoeiro; vem num jato privado. "É assim que o país anda para a frente?", perguntava Santana Lopes. Bem perguntado. Santana, que, entretanto, voltou à Figueira da Foz, devia fazer a pergunta, de novo. Eu acho, sinceramente, que o país anda para a frente. Tem andado: sempre ou quase sempre. O problema é que somos demasiado bons a andar às voltas. E isso, nem sempre ajuda.

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Seleção Natal

por Miguel Bastos, em 12.12.22

portugal marrocos.jpg 

Portugal. Não tive tempo para lamentar o afastamento da seleção. As responsabilidades do pai, sobrepuseram-se aos desejos do adepto. Não vi o jogo. Ouvi-o, em intermitência, até à morte. O mais velho gemia e suspirava no banco de trás. Percebi que tudo estava perdido, quando juntou as mãos em sinal de oração. Quando nos resta a vontade divina, para resolver um jogo pagão, estamos perdidos. Perdemos. Entrámos, cabisbaixos, na casa de Deus. Que diferença! "A igreja estava toda iluminada", como na canção, com dezenas de crianças e jovens à nossa espera. Tinham um concerto de Natal para nos oferecer. Muitos deles, gostariam de ter estado a ver o jogo. Mas não viram, por nossa causa. Enquanto a comunicação social debatia os méritos e deméritos da seleção, os meninos cantavam canções de Natal. Enquanto as redes sociais se incendiavam, com acusações ao selecionador e aos jogadores, o acordeonista bailava Piazzolla e um quarteto de cordas seguia o ritmo do tango. Enquanto Portugal se vestia de luto, as flautistas - andorinhas penduradas no coro alto - faziam esvoaçar melodias barrocas. Portugal perdeu na mesma. Eu também. Mas não perdi tudo, longe disso. Muito longe disso. 

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Força

por Miguel Bastos, em 06.12.22

Hoje, o grande objetivo de Portugal é chegar aos quartos.
O meu também. E o dia mal começou.
Força Portugal!
Força eu

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Gira, a seleção!

por Miguel Bastos, em 24.11.22

pauleta.jfif 

- Portanto, vamos ver futebol...
- O que é que achas? Hoje, é a seleção!
- Jogamos em casa?
- Isto é o Mundial, Ana, ninguém joga em casa! Só a equipa organizadora.
- Certo, certo. Somos os de vermelho?
- O que é que achas?
- Sei lá! Às vezes, jogamos de outra cor.
- Isso é quando jogamos com o equipamento alternativo.
- E como é que eu sei se estamos com o equipamento normal ou o alternativo?
- Sabes, conhecer os jogadores ajuda!
- Então, ajuda-me.
- Aquele é o Sérgio Conceição...
- Giro, não conhecia! E este?
- Vítor Baía. É o guarda redes.
- Hum, interessante... Aquele é o Figo...
- Estás a ver? Afinal, conheces alguns jogadores.
- A minha mãe compra a Caras, Manel. E ele é giro...
- Pois, diz que sim...
- E não é o único, o que é que se passa com os nossos jogadores?
- Como assim?
- Eram horríveis, com aqueles bigodes e as cabeleiras...
- Nem todos.
- Tu não tinhas bigode, mas aquele cabelinho atrás...
- Mas, depois, cortei. E fiquei todo giro!
- Mais ou menos. Desde que deixaste o futebol, ganhaste uns 20 quilos.
- Nunca estás satisfeita.
- Podias ser como aquele.
- Quem, o Pauleta? Não joga nada.
- Isso não sei. Mas é giro que se farta!
- Adoro ver futebol contigo, Ana.
- Eu também, amor.

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O mais rico

por Miguel Bastos, em 22.11.22

calouste.jpg 

Deve ser por causa do mundial e coiso, mas está-me a apetecer ler coisas sobre "o mais" isto e aquilo. É altura de "rankings", dos "mais" do mundo: o "mais caro", o "mais rápido", o "mais famoso". Neste caso, optei por o "mais rico". Não sei se é por causa dos relvados - lá da casa dele, em Lisboa - mas, sempre fui "à bola" com o senhor Calouste.

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Guerra fria

por Miguel Bastos, em 11.05.22

telefone vemelho.jpg

Leitura, com acessório de época.

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Dia da língua portuguesa

por Miguel Bastos, em 05.05.22

palavras.jpg

Palavras, no dia da língua.
 
"Tu tens de aprender a guardar as coisas de pensar. Se souberes escrever, as folhas de papel serão caixinhas onde podes arrumar com palavras tudo aquilo que não queres esquecer. E as folhas de papel, tão planas e aparentemente vazias, adquiriam fundura, uma dimensão inesperada, porque se eu soubesse escrever pirilampo, para sempre um pirilampo estaria ali, talvez até de cauda acesa, à minha espera. Meu, sem ir embora. Eu disse: é a minha palavra preferida. A minha mãe respondeu: eu sei."
 
Valter Hugo Mãe, Contra mim, 2020

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