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Era uma vez Morricone, num texto com 4 anos.
Vi o seu nome e a sua fotografia no Sapo: “Ennio Morricone…”. Pensei de imediato: “Não me digam que ele…” e continuei a ler apressadamente “Ennio Morricone vai receber o seu Globo de Ouro em Roma”. “Ufa!”, suspirei de alívio. Morricone é velhinho: tem de 87 anos. Há gente que dura mais. Mas, muita gente dura menos.
Ennio Morricone compôs algumas das minhas bandas sonoras favoritas. A sua música foi parceira e protagonista dos filmes de Sergio Leone. Mas também de filmes como A missão, Cinema Paradiso ou Malèna. Algumas destas composições receberam a voz da nossa Dulce Pontes, num disco a meias que, mesmo sendo desigual, devia ter recebido outra atenção e estima em Portugal. Em 2009, Morricone trabalhou com Quentin Tarantino. O compositor achou que o realizador não respeitou a sua música e jurou para nunca mais. Felizmente, os dois voltaram a entender-se e o trabalho conjunto no filme "Os Oito Odiados”, que estreia esta semana em Portugal, foi premiado.
Diz-se que os génios nunca morrem. Mas, mesmo assim, gosto mais deles vivos. Por isso, não me morras Morricone!
Quando morre um humorista, o mundo fica com menos graça.
Há uns anos falava-se muito de temas fraturantes. O termo veio do PS, mas passou a ser associado também (ou, sobretudo) ao Bloco de Esquerda. Desta vez, o tema “fraturante” é a Eutanásia. Discutiu-se hoje, na Assembleia da República. Ou, pelo menos devia-se ter discutido. É que, às vezes, fica a sensação de que nem vale a pena discutir. Toda a gente já sabe tudo. Dentro e fora da Assembleia. Há 10 anos, vimos cartazes com imagens de bebés com mais de seis meses de gestação, a pedirem aos pais para não os matarem nos cartazes. Hoje, tivemos este sinal de STOP. Afinal quem é que fratura?
Para algumas pessoas, parece que se vai começar a matar gente: a torto e a direito; e dentro da legalidade. Vão-se usar os mesmos argumentos de outras batalhas. A interrupção voluntária da gravidez ia acabar com o nascimento de bebés. O casamento de pessoas do mesmo sexo ia acabar com a procriação. A procriação medicamente assistida ia acabar com o sexo. É incrível como é que ainda há gente em Portugal!
Quando ouvi “Lazarus” e “Blackstar”, as novas canções de David Bowie, fiquei assombrado. São duas canções densas e soturnas. Os vídeos agravam, ainda mais, o negrume. Blackstar, o álbum, é um Requiem, percebemo-lo agora. Apesar de ter piscado o olho ao “mainstream”, nos anos 80, Bowie nunca nos facilitou a vida. Muito menos agora, depois da sua morte. O seu último disco é doloroso de se ouvir.
A morte de Bowie lembrou-me Amadeus, a peça de Peter Shaffer levada ao cinema por Miloš Forman. Na peça/filme, Mozart, moribundo, escreve uma missa fúnebre, que deixa inacabada. A encomenda de um Requiem, a Mozart, foi um prenúncio da sua própria morte, envolta em mistério. Só que, ao contrário de Mozart, Bowie sabia que ia morrer. E preparou a sua morte. E escreveu, conscientemente, a música da sua morte.
O Requiem, de Mozart, é uma música avassaladora. Mas, Mozart é um personagem histórico. Morreu muito antes de termos nascido. Bowie não. E isso, deixa-me com arrepios na espinha.
Maria Barroso disse que a fé lhe trouxe “força para viver e força para morrer”. A frase inquietou-me, por acentuar a proximidade entre a vida e morte. Falou-se muito da morte na entrevista de Fátima Campos Ferreira: a morte dos pais, dos sogros, de Salgado Zenha e a quase morte do filho João Soares. Foi nessa altura, que reencontrou a fé. Agora, encontrou a morte. A sua morte.
A jornalista da RTP tinha pedido uma entrevista a Maria Barroso, a propósito dos seus 90 anos. Senti esses anos na entrevista - pelo percurso e pela experiência. Mas, ao mesmo tempo, não pareciam 90 anos: no timbre, no ritmo, no discurso, no pensamento. Ouvir Maria Barroso é, talvez, ainda melhor do que vê-la. A sua voz está no cinema, na poesia, na política. A sua voz límpida e afirmativa está na entrevista, inédita (Antena 1, RTP).
Num dia estava assim, num outro caiu e morreu. Foi, por isso, que a frase de Maria Barroso me inquietou. Para quem tem fé, vai reencontrar os que ama. Para os outros, apagou-se, simplesmente. Viver, morrer. ON/OFF.
PS: A Anabela Mota Ribeiro republicou uma entrevista maravilhosa com Maria Barroso. Está no seu blog.
A morte de um escritor é sempre notícia. Günter Grass morreu, esta manhã. Ouvi na rádio e, depois, li nos jornais on-line.
Geralmente, conhecemos a vida e obra de um escritor nos obituários dos media. Raramente, um escritor é notícia. O lançamento de um livro, não é notícia. Uma entrevista de um escritor, não é notícia. Mas a sua morte é. E é nessa altura, com o corpo ainda quente, que (ironicamente) se começa a falar da sua vida.
Não será, apesar de tudo, o caso de Günter Grass. O escritor foi distinguido com o prémio Nobel, em 1999. E isso é notícia. Quando alguém recebe um Nobel, os media tentam perceber porquê.
Entretanto, esta tarde morreu outro escritor: Eduardo Galeano. Verifico que o tom das notícias é semelhante: um parágrafo para dizer quem é, outro para realçar as obras mais importantes, um breve resumo da sua vida familiar, o contexto político em que viveu.
Depois, nada. Volta-se à política e ao futebol. Até que morra um escritor de vulto, que não conhecemos, mas que lamentamos a sua morte.