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Morreu Vargas Llosa

por Miguel Bastos, em 14.04.25

Vargas_Losa_Göteborg_Book_Fair_2011b.jpgRoger Casement partiu para o Congo Belga, cheio de sonhos. Só que - em vez do poder civilizador do rei Leopoldo II, que se vendia na imprensa internacional - deu de caras com a colonização mais selvagem de um país europeu, em África. Durante vários anos, Roger denunciou a política belga e mudou a opinião pública britânica e internacional. Ao regressar ao Reino Unido, foi armado cavaleiro. Mas, Roger era irlandês e começou a questionar se o império britânico não fazia com os irlandeses, como ele, o mesmo que o rei dos belgas fazia com os congoleses.

A questão colonial tornou-se uma questão identitária. Roger começou a estudar a história e a cultura da irlanda. Tentou aprender gaélico, mas nunca conseguiu dominar uma língua que devia ser a sua. O que o levou, também, a questionar que raio de irlandês era ele, que não conseguia falar a língua dos irlandeses e que sonhava em inglês - a língua do colonizador. E há, ainda, uma outra dimensão identitária que o aflige: a sua sexualidade - que vai transformar O sonho do celta, num pesadelo.

 
É um dos livro da minha vida. Lembrei-me dele, no dia em que o seu autor, Mario Vargas Llosa, se despediu da sua.

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Quincy Jones

por Miguel Bastos, em 05.11.24

IMG_1123.jpeg 
Quincy Jones morreu, hoje, aos 91 anos de uma vida cheia. A partir de um tronco com raízes no jazz, ramificou a sua música: soul, funk, disco, pop, hip-hop. Trabalhou com músicos de várias gerações e estilos musicais. Mas, apesar de até ter chegado a colaborar com Sinatra, vai ser lembrado, sobretudo, como o produtor de “Thriller”, o disco “blockbuster” de Michael Jackson. Por mim, que nem simpatizo muito com o disco, acho uma pena. Mas isto sou eu. Cada um tem o direito a celebrar o Quincy Jones de que mais gosta. E há tanto por onde escolher! Hoje, escolhi este.

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Namoro x 3

por Miguel Bastos, em 02.07.24

trovante.jpg 

Por norma, não gosto de sequelas. Mas desta gostei. O "Namoro II", dos Trovante, é uma sequela do "Namoro", do Fausto, que eu conhecia dos concertos, do Godinho. "Aí, Benjamim", gritávamos nós, da plateia, para que o Sérgio, no palco, nos ouvisse. Para perceber melhor a letra do "Namoro II", ouvi, vezes sem conta, o "Namoro" que o Godinho gravou (com o Fausto na guitarra, curiosamente) no álbum "De pequenino se torce o destino". Finalmente, 3 anos depois do "II", eis que Fausto grava, finalmente, o "seu Namoro", no álbum "A preto e branco" - o mais africano dos seus discos. Em vez de escolher um namoro, em vez de afirmar que não há amor como o primeiro, fico com os três. Fico com um tríptico, ao gosto de Fausto.

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Fausto, há um ano

por Miguel Bastos, em 01.07.24

FAUSTO.jpeg 

No dia da morte de Fausto, recupero este texto, com cerca de ano e meio.

"Não se deve confundir", diz a expressão, "a obra-prima do mestre, com a prima do mestre-de-obras". "Por este rio acima" é uma obra-prima e acaba de fazer 40 anos. Baseado nas viagens de Fernão Mendes Pinto, as letras do disco são um mergulho nas profundezas dos descobrimentos. Por vezes, o mergulho exige apneia: cheira a morte, a doença, a carne queimada e esventrada. Não há, aqui, qualquer exaltação ao lado bravo, guerreiro e conquistador - apenas, o lado escuro dos descobrimentos. A riqueza das letras é tão grande que acabou por secundarizar, involuntariamente, a riqueza das canções, dos arranjos, dos instrumentos. As percussões tradicionais portuguesas, mas também as tablas e as baterias; a guitarra portuguesa e o cavaquinho, tal como o alaúde e a viola de gamba; o piano acústico e os sintetizadores; as cordas e os instrumentos de sopro. Tantos instrumentos que acompanham a voz e a viola acústica de Fausto, omnipresentes, que, ora nos levam para paisagens exóticas e longínquas; ora nos trazem de volta a Portugal, com ritmos e melodias que nos são familiares. Obra-prima.

"Por este rio acima" é um álbum duplo, denso, conceptual, com um pequeno "libreto" ilustrado no interior. A viagem cresceu para trilogia, de forma tão avassaladora que (porventura) acabou por se sobrepor à obra integral de Fausto, que pode/deve ser (re)descoberta. Estamos perante um caso em que não se confundiu "a obra-prima do mestre, com a prima do mestre-de-obras", mas em que, por causa da obra-prima, se poderá ter deixado de reconhecer, devidamente, o mestre que a criou.

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Adeus, Fausto

por Miguel Bastos, em 01.07.24

 

Foi um sonho lindo, Fausto. Foi sim.
Fausto morreu, aos 75 anos.

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Seiji Ozawa

por Miguel Bastos, em 09.02.24

ozawa.jpg 

Morreu Seiji Ozawa. O maestro japonês tinha 88 anos. Estudou com Herbert von Karajan, em Berlim; foi assistente de Leonard Bernstein, em Nova Iorque; dirigiu algumas das maiores orquestras do mundo, pelo mundo.
Esta tarde, na Antena 2, recordei a cerimónia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno do Japão, em 1998. Primeiro, começou por dirigir o coro e a orquestra, no palco. Depois, apercebemo-nos que havia milhares de cantores, nas bancadas do estádio. Finalmente, juntaram-se vários coros, espalhados pelo mundo: na Ópera de Sydney; na Porta de Brandemburgo, em Berlim ou na Sede das Nações Unidas, em Nova Iorque.
Foram milhares de vozes, a cantar Beethoven. E milhões de olhos, a acompanhar Seiji Ozawa, de ouvido.

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Mai frei

por Miguel Bastos, em 12.12.23
- E como é que se diz "meu amigo", em inglês?

- My friend.

- Mai frei?

- Não, avô, "my friend".

- Foi o que eu disse: "mai frei".

Sai de cena e regressa, de óculos escuros e com uma boina escocesa, que lhe trouxemos, enterrada na cabeça.

- Ei, "mai frei", acabo de chegar de Inglaterra...

- Da Escócia, avô.

- Ou isso. E estou com uma sede... ah, já não me lembro!

- De quê?

- Como é que se diz "filho da puxa", em inglês, mas bem explicado?

- Son of a b...

- Isso. E estou com uma sede "sana biche".

Rimo-nos todos, durante vários anos. "Mai frei" e "sana biche" entraram para o léxico da vida familiar. Uma vida boa, "mai frei". Já a morte (convenhamos) é um bocado "sana biche".

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Um plano para morrer

por Miguel Bastos, em 11.12.23

- Mas, vamos todos morrer, pai?
- Vamos, filho.
- Mas isso não é justo
- Pois não, mas são as regras do jogo.
- E não dá para mudar?
- Não. Mas temos um plano.
- Qual é?
- Mais cedo ou mais tarde, vamos todos morrer, não é? Portanto, o plano é... mais tarde.
- É, esse, o plano?
- É. Eu sei que não parece grande coisa, mas é o que temos. Tentar ter uma vida boa, com os que mais amamos: ter cuidado com a saúde, comer poucos doces, fazer ginástica, ir à escola, ser um bom menino, fazer amigos, amar a família... é por aí.
- Ah... mesmo assim, estou triste.
- E deves estar, filho. Ficamos tristes, quando nos morre alguém tão especial.
- E já não volta?
- Não. Mas não te esqueças do plano. Já que, mais cedo ou mais tarde, vamos todos morrer, vamos fazer tudo para que seja... mais tarde.

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Shane MacGowan

por Miguel Bastos, em 01.12.23

Esta foi, talvez, a canção que mais vezes ouvi dos Pogues. Não é um hino, como "Dirty Old Town". Não provoca a exaltação de "Fiesta". Nem nos visita, todos os natais, como "Fairytale of New York" - o "Last Christmas" dos "alternativos". "Summer In Siam" combinava com o meu verão de 1990. Alimentou o meu imaginário, com um cenário de bar de hotel decadente, num oriente longínquo. Na rádio, com o seu piano elegante, a percussão subtil e o saxofone envolvente (credo, tantos clichés!), era a canção ideal para eu passar do Godinho à Aretha Franklin, do Caetano ao Marvin Gaye, do Nick Cave ao Sakamoto. Que canção! Ontem - depois de ter sido conhecida a notícia da morte de Shane MacGowan - celebrou-se a música celta, o espírito punk , a rebeldia e, também, a embriaguez (que sempre me deixou triste). Sim, percebo a homenagem. Mas, a mim, apeteceu-me recato. Apeteceu-me casa. Apeteceu-me "Summer in Siam".

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Sara Tavares

por Miguel Bastos, em 19.11.23

sara.jpeg 

A viagem, de regresso à consciência, foi lenta e dolorosa. Primeiro, ruídos que, afinal, eram vozes. Depois, melodias de vozes, ainda sem palavras. De seguida, palavras desconexas, sem significado. E, finalmente, começaram-me a chegar palavras, palavras mesmo, que eu juntava em frases, mentalmente, dando-lhes sentido. Sara Tavares. Falavam de Sara Tavares. Uma das enfermeiras tinha ido vê-la, ao vivo, e apercebe-se do meu interesses na conversa. "Gosta da Sara Tavares, Miguel?" Digo que sim, com a cabeça. "Já a viu, ao vivo?" Volto a dizer que sim. "Ela é extraordinária". "As pessoas continuam a pensar na Whitney Houston e no Festival da Canção, mas ela está noutra fase. Sentada, com a sua viola, a cantar em criolo..." Sorrio. "Que pena não termos aqui a música dela, senão ouvíamos os dois". Voltei a sorrir. Sentia, de resto, que a vida começava a sorrir-me de novo.

Regressei a casa, depois de quase um mês no hospital. Ouvi Sara Tavares. A cantora que passei a associar ao meu caminho de regresso à vida. Custa-me aceitar que ela, hoje, fez o caminho, na direção contrária.

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