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Seiji Ozawa

por Miguel Bastos, em 09.02.24

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Morreu Seiji Ozawa. O maestro japonês tinha 88 anos. Estudou com Herbert von Karajan, em Berlim; foi assistente de Leonard Bernstein, em Nova Iorque; dirigiu algumas das maiores orquestras do mundo, pelo mundo.
Esta tarde, na Antena 2, recordei a cerimónia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno do Japão, em 1998. Primeiro, começou por dirigir o coro e a orquestra, no palco. Depois, apercebemo-nos que havia milhares de cantores, nas bancadas do estádio. Finalmente, juntaram-se vários coros, espalhados pelo mundo: na Ópera de Sydney; na Porta de Brandemburgo, em Berlim ou na Sede das Nações Unidas, em Nova Iorque.
Foram milhares de vozes, a cantar Beethoven. E milhões de olhos, a acompanhar Seiji Ozawa, de ouvido.

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Mai frei

por Miguel Bastos, em 12.12.23
- E como é que se diz "meu amigo", em inglês?

- My friend.

- Mai frei?

- Não, avô, "my friend".

- Foi o que eu disse: "mai frei".

Sai de cena e regressa, de óculos escuros e com uma boina escocesa, que lhe trouxemos, enterrada na cabeça.

- Ei, "mai frei", acabo de chegar de Inglaterra...

- Da Escócia, avô.

- Ou isso. E estou com uma sede... ah, já não me lembro!

- De quê?

- Como é que se diz "filho da puxa", em inglês, mas bem explicado?

- Son of a b...

- Isso. E estou com uma sede "sana biche".

Rimo-nos todos, durante vários anos. "Mai frei" e "sana biche" entraram para o léxico da vida familiar. Uma vida boa, "mai frei". Já a morte (convenhamos) é um bocado "sana biche".

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Um plano para morrer

por Miguel Bastos, em 11.12.23

- Mas, vamos todos morrer, pai?
- Vamos, filho.
- Mas isso não é justo
- Pois não, mas são as regras do jogo.
- E não dá para mudar?
- Não. Mas temos um plano.
- Qual é?
- Mais cedo ou mais tarde, vamos todos morrer, não é? Portanto, o plano é... mais tarde.
- É, esse, o plano?
- É. Eu sei que não parece grande coisa, mas é o que temos. Tentar ter uma vida boa, com os que mais amamos: ter cuidado com a saúde, comer poucos doces, fazer ginástica, ir à escola, ser um bom menino, fazer amigos, amar a família... é por aí.
- Ah... mesmo assim, estou triste.
- E deves estar, filho. Ficamos tristes, quando nos morre alguém tão especial.
- E já não volta?
- Não. Mas não te esqueças do plano. Já que, mais cedo ou mais tarde, vamos todos morrer, vamos fazer tudo para que seja... mais tarde.

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Shane MacGowan

por Miguel Bastos, em 01.12.23

Esta foi, talvez, a canção que mais vezes ouvi dos Pogues. Não é um hino, como "Dirty Old Town". Não provoca a exaltação de "Fiesta". Nem nos visita, todos os natais, como "Fairytale of New York" - o "Last Christmas" dos "alternativos". "Summer In Siam" combinava com o meu verão de 1990. Alimentou o meu imaginário, com um cenário de bar de hotel decadente, num oriente longínquo. Na rádio, com o seu piano elegante, a percussão subtil e o saxofone envolvente (credo, tantos clichés!), era a canção ideal para eu passar do Godinho à Aretha Franklin, do Caetano ao Marvin Gaye, do Nick Cave ao Sakamoto. Que canção! Ontem - depois de ter sido conhecida a notícia da morte de Shane MacGowan - celebrou-se a música celta, o espírito punk , a rebeldia e, também, a embriaguez (que sempre me deixou triste). Sim, percebo a homenagem. Mas, a mim, apeteceu-me recato. Apeteceu-me casa. Apeteceu-me "Summer in Siam".

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Sara Tavares

por Miguel Bastos, em 19.11.23

sara.jpeg 

A viagem, de regresso à consciência, foi lenta e dolorosa. Primeiro, ruídos que, afinal, eram vozes. Depois, melodias de vozes, ainda sem palavras. De seguida, palavras desconexas, sem significado. E, finalmente, começaram-me a chegar palavras, palavras mesmo, que eu juntava em frases, mentalmente, dando-lhes sentido. Sara Tavares. Falavam de Sara Tavares. Uma das enfermeiras tinha ido vê-la, ao vivo, e apercebe-se do meu interesses na conversa. "Gosta da Sara Tavares, Miguel?" Digo que sim, com a cabeça. "Já a viu, ao vivo?" Volto a dizer que sim. "Ela é extraordinária". "As pessoas continuam a pensar na Whitney Houston e no Festival da Canção, mas ela está noutra fase. Sentada, com a sua viola, a cantar em criolo..." Sorrio. "Que pena não termos aqui a música dela, senão ouvíamos os dois". Voltei a sorrir. Sentia, de resto, que a vida começava a sorrir-me de novo.

Regressei a casa, depois de quase um mês no hospital. Ouvi Sara Tavares. A cantora que passei a associar ao meu caminho de regresso à vida. Custa-me aceitar que ela, hoje, fez o caminho, na direção contrária.

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Sinéad O'Connor

por Miguel Bastos, em 27.07.23

 

Sinéad O'Connor morreu. Como muita gente, fui (re)ouvir "Nothing Compares 2 U". E gostei muito. Gostei menos da forma como muitos reduziram a sua carreira a essa canção, salientando que era de Prince. Sejamos francos: só conhecemos "Nothing Compares 2 U", por causa de Sinéad O'Connor. Ninguém conhecia a canção de Prince antes dela a ter cantado, poucos a conheceram depois. E é, apenas, uma - entre muitas - de Prince. O disco que acolhia "Nothing Compares 2 U" ("I Do Not Want What I Haven't Got ") foi um sucesso, mas não era um disco fácil. De resto, Sinéad nunca foi fácil - razão pela qual muitos desistiram dela. Estou entre esses, infelizmente. Voei para outras paragens, enquanto ela se afundava na sua própria cabeça: tão bonita por fora, tão atormentada por dentro.

 

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Esquecimento

por Miguel Bastos, em 20.07.23

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Quando um escritor morre, tendemos a voltar à sua obra. A pensar nela e no seu autor. Faz parte de um certo processo de luto. No caso de Milan Kundera, quase toda a gente se lembrou de "A insustentável leveza do ser". Eu também. Acrescentei "A Valsa do Adeus", "A Imortalidade" e "Livro do Riso e do Esquecimento". Detive-me na palavra "esquecimento". Constatei que, para além dos títulos, não me lembrava dos livros de Kundera. Esquecimento. Abri, por acaso, "A Imortalidade".
 
"Estou na cama, mergulhado na doçura de um semi-sono. Às seis horas, depois de um primeiro e leve despertar, estendo a mão para o pequeno transístor poisado perto da minha almofada e carrego no botão. Ouço as notícias da manhã, quase a distinguir as palavras, e adormeço de novo, enquanto as frases que ouço se vão transformando em sonhos. É a fase mais bela do sono, o momento mais delicioso do dia: graças à rádio, saboreio os meus perpétuos despertares e adormecimentos, essa oscilação entre a vigília e o sono, esse movimento que por si só me livra do desgosto de ter nascido."
    
Com que então, rádio?! Como é que não me lembrava? Não sei. Avanço n' "A Imortalidade" e percebo que a rádio veio para ficar no romance. Eu também. Experimento "despertares e adormecimentos" em diferentes camas, sabendo que, daqui, não saio tão cedo.
 

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Jane B

por Miguel Bastos, em 16.07.23

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"Olhos azuis, cabelo castanho, Jane B., inglesa, sexo feminino, idade entre os 20 e os 21". Jane Birkin cantou-se, assim: escrita/descrita por Gainsbourg, deitada sobre um prelúdio de Chopin.
Serge Gainsbourg teria a palavra certa, na medida certa, para falar da morte de Jane. Mas, Serge morreu. Há muito. A exposição "Le mot exact" sobrevive no Centro Pompidou, na cidade que já foi dos dois.

Canção, aqui: https://www.youtube.com/watch?v=nNimEUTmQy8

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Milan Kundera [1929-2023]

por Miguel Bastos, em 12.07.23

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Imortal, há muito tempo.

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Astrud Gilberto

por Miguel Bastos, em 06.06.23

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Durante muito tempo, acreditei que Astrud Gilberto não era brasileira. Nesse tempo, a informação era pouca e chegava devagar. Astrud não soava a nome português/brasileiro. A cantora também não. Tinha uma fragilidade - na voz, no canto, na pronúncia - que parecia denunciar a sua condição de estrangeira. E, isso, dava-lhe um certo encanto. Muito, até. A pouco e pouco, fui sabendo pormenores. A cantora tinha ascendência alemã, mas era brasileira, da Baía. Mudou-se, com os pais, para o Rio de Janeiro, onde se tornou amiga de Nara Leão. Foi Nara quem a apresentou a João Gilberto, com quem se casou. Uns anos depois, foram viver para os Estados Unidos. Foi lá, que João Gilberto gravou uma nova versão da “Garota de Ipanema”, com o saxofonista norte-americano Stan Getz. Astrud cantou por acaso. Ela não era cantora, mas passou a ser a voz de uma das canções mais famosas, de sempre e do mundo inteiro. O casamento acabou pouco depois: João Gilberto voltou para o Brasil, Astrud ficou. Morreu, aos 83 anos. Estrangeira, como a tinha imaginado.

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