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Hoje, mergulhei, a fundo, nos anos 90. Fui ao hipermercado, em calças de fato de treino. Comprei o jornal, em papel. Paguei, em dinheiro.
Se não fosse o senhor reformado, a jogar “online” com o vizinho do lado, e a avó modernaça, a falar alto no “whatsapp”, tinha sido uma experiência e pêras.
Bem, vamos lá regressar ao futuro. Enter.
"Como está a carteira dos portugueses?", pergunta a Antena 1. A minha está assim: velhinha. Sei que vou ter de a trocar, mas custa-me. Custa-me sempre, mas, desta vez, custa-me ainda mais. Aquele autocolante, colado no lado esquerdo da minha velha carteira, é do mais novo, quando era mais novo. Quando era tão novo, tão novo, que ainda não era nascido. Nesse dia, em que se preparava para nascer, colei o mais novo na carteira. É onde está, até hoje. Na velha carteira, do mais velho. Eu.
Abriu uma pastelaria nova, daquelas disfarçadas de bolo de noiva. Preparava-me para ir espreitar os pastéis, quando dei de caras com um porteiro. Sim, a pastelaria tem um porteiro, um tapete vermelho e um cordão dourado. "Vai ter que aguardar", diz-me ele. Sorrio e agradeço: "Não vou, não". E ele: "Não vai?". E eu: "Para espreitar os bolos? Não!" Mas o porteiro insistiu que "Isto é um conceito" e "uma experiência" e mais não-sei-quê, com palavras estrangeiras, que vêm em livros de marketing ou de autoajuda. Já nem sei. Resolvi devolver a erudição e citar um autor estrangeiro - Hermann von Krippahl - que a maioria das pessoas conhece como Herman José: "Eu é mais bolos". E segui em frente. Experiências... a esta hora...
Hoje é Dia da Música e eu lembrei-me de José Cid, na festa da aldeia da minha mãe, a cantar "Música, eu nasci prá música" - em cima do palco, frente a uma multidão. Eu também estava em cima do palco. Pensaram que eu era filho do artista e deixaram-me ficar: olhos abertos de encantamento, ouvidos pasmados com o "Zé da Anita", a "cabana junto à praia" e a canção do "dia em que o rei faz anos" - que era a que mais se adequava a esse dia de "arraial e foguetes no ar". Mas, "A minha música" - a tal do "música, eu nasci prá música" - era a minha preferida. E, ali, estava eu, a ouvi-la: em cima do palco, confundido com um filho de artista, num elegante fato azul "dégradé", camisa branca e laçarote. Uma criação do meu pai, alfaiate, feita para a criação lá de casa: eu e dois irmãos. Foi estreado para o casamento de uma prima e repetido em dias especiais, como a festa da terra da minha mãe, perto da terra de José Cid. Como eramos três, vestido de igual - de fato e de laço - começaram a chamara-nos Trio Odemira. Que disparate! Nós que até passávamos por filhos de Cid; nós, que não nos identificávamos com a música do Trio, nem usámos bigode. De resto, continuamos a não usar - nem mesmo a minha irmã, apesar de, entretanto, ter desenvolvido, uma estranha fixação por Frida Kahlo. Hoje, é Dia da Música. "A minha música" escolheu-me, pela manhã. E eu fique com vontade de vestir o fato azul, em "dégradé".
Ontem, foi Dia da Dança. Hoje, é Dia do Jazz. Em vez de estar a fazer dias às pinguinhas, devíamos apostar em grande e fazer tudo num só dia. O Dia da Dança Jazz. Fica a sugestão.