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Depeche Mode

por Miguel Bastos, em 22.03.23

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Nem me tinha apercebido, mas este maroto acabou de fazer 30 anos. Os Depeche Mode estavam no pódio das maiores bandas do mundo, quando editaram "Songs of Faith and Devotion". O mundo pop-rock tinha mudado muito, desde o anterior "Violator": grande parte da pop eletrónica virara-se para as pistas de dança e o rock voltava a ser fresco, com os Nirvana e o "grunge". Os U2 refletiram os ares do tempo, na obra-prima "Achtung baby". Para muitos, faltava saber se, depois de "Violator", os Depeche Mode fariam o seu "Achtung baby". Tentaram. Nunca os Depeche Mode tinham ido tão longe. Na verdade, nunca mais foram. "Songs of Faith and Devotion" é um disco ambicioso, grandioso, magistral. A banda carregou, ainda mais, nas guitarras e nas texturas rítmicas (com a forte presença da bateria). Mas, também, nos acordes poderosos e nos refrões orelhudos. Abordaram o rock, os blues, o gospel, a soul, a música ambiental e industrial. As canções são de "fé e devoção", de amor e sexo. Os temas habituais, com o negrume característico da banda. Nessa altura, os Depeche Mode já eram a maior banda alternativa de estádio. Partem para uma digressão que os vai levar ao colapso. Usam e abusam dos clichés do "rock and roll", até se tornarem num. Dave parecia um drogado, porque era um drogado. Martin abusava no álcool. Andrew teve um esgotamento. Alan deixou a banda, no final da digressão. Nunca mais voltou. De resto, a música dos Depeche Mode (que me perdoem os fãs) nunca mais voltou a ser tão relevante. Entrou em queda livre. E "Songs of Faith and Devotion" não chegou a ser "Achtung baby". Que pena.

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Pouca roupa

por Miguel Bastos, em 21.03.23

E eis que chega a primavera. Tempo de amor e poesia. Um casal de adolescentes passa por mim: ele, de calções de moletão e camisola de manga cava; ela, de top e minissaia, muito, muito mini. São ultrapassados, por outro jovem, de passo estugado, sapatilhas de corrida e tronco nu. Calma, malta. Eu sei que está bom tempo e que apetece tirar a roupa. Mas, ainda não chegámos: nem à Madeira, nem aos 20 graus, nem ao verão. Aliás, quando chegarmos ao verão vão tirar o quê? O apêndice?

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Raves

por Miguel Bastos, em 20.03.23

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- Afinal, o que é isso das "raves"? - perguntou-me o Joaquim.

- São festas com música de dança, noite fora.

- Música de dança, como? Danças de salão? Disco? Samba?

- Basicamente, música eletrónica: house, techno.

- Então, é uma noite de discoteca normal.

- Acaba por ser. Mas, muitas vezes, as "raves" são feitas em sítios diferentes. 

- Tipo…

- Zonas industriais, monumentos, praias...

- Ah. E depois, ficam na praia?

- Não, depois as pessoas estão estoiradas e vão para casa dormir.

- Que pena. Quando eu vivia em Angola, também fazíamos festas para dançar a noite toda.

- A sério?

- É. Eu e os meus amigos pretos das cubatas. Depois, íamos comprar pão e ficávamos na praia, a dormir.

O Joaquim viveu em Angola, até 1975. África está-lhe entranhada na pele. De tal forma que, apesar de ser branco, muita gente chama-lhe "preto": o "Quim Preto". Lembrei-me dele, porque fui a uma festa, num teatro, que parecia uma "rave". Parecia, mas não foi. Porque acabou, ao fim de hora e meia. Enfim, coisas de Branko.

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Paris, sempre

por Miguel Bastos, em 14.03.23

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Gosto muito destes dois vizinhos: tão diferentes, tão iguais. Comecemos pelas capas. Parecem daqueles discos baratinhos, que se vendiam nas margens do Sena, a turistas apressados, na cidade dos clichés: "a cidade luz", "a capital do amor". "Ah, Paris!"; "Ah, o Arco do Triunfo!"; "Oh, a Torre Eiffel!". Na realidade, o disco original de Michel Legrand chama-se "I Love Paris" e não tem esta capa. Começa com o tema-título, o clássico de Cole Porter, e equilibra-se, ao longo do disco, entre visões "de fora" e "de dentro" sobre Paris. Os compositores vão de Jerome Kern a Offenbach. As orquestrações, de Legrand, respiram "jazz" e "chanson", em doses generosas.
 
Se a Paris, de Legrand, é moderna e cosmopolita, a Paris, de Dimitri from Paris, é pós-moderna. Não rejeita um só cliché. Pelo contrário, assume-os todos: absorve-os, acentua-os e devolve-nos os clichés, de forma diletante e divertida. Inventa um personagem: o sargento Bill T. Hawthorne que terá desembarcado na Normandia, para libertar Paris, onde uma tal Monique lhe prendeu o coração, em Montmartre. Mostra o "Monsieur Dimitri", na sua "pied à terre", na Riviera francesa. A música, entrecortada por vários interlúdios, mistura rimos latinos, "house" e "funk", com música de bar de hotel e filmes de espiões. Uma delícia. No final, ouve-se alguém a dizer: "Ah, Paris sera toujours Paris". Será. Paris será o que cada criador quiser. Será o que cada um de nós quiser.

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Um urso para Canijo

por Miguel Bastos, em 28.02.23

 canijo.jpg

Este fim de semana, o cinema de João Canijo foi premiado, em Berlim. Hoje, tropecei com este texto, no meu computador.
 
2002 era futuro. 1999 e 2001 também foram. É estranho falar do futuro, com tempos verbais do passado. Mas, de facto, no passado, falava-se mais do futuro. Nos anos 70 e 80 vivemos o futuro com o “Espaço: 1999” ou o “2001: Odisseia no Espaço”. Eu escolhi o 2002, para a minha odisseia: ver o meu primeiro filme no cinema. O Estúdio 2002 tinha aberto, há pouco tempo. Na altura, os cinemas-estúdio eram o futuro. Eram mais pequenos, mais confortáveis, mais modernos. O Estúdio 2002 tinha espelhos no tecto, paredes pretas, carpetes vermelhas, cadeiras brancas. Era o local ideia para ver um filme do James Bond.
 
A cortina (vermelha) abriu-se e os meus olhos deslumbraram-se com o genérico do senhor Bond: tons escuros, ambiente de mistério e uma luz (vermelha) a sair de uma pistola, com o nome dos artistas. O cinema e o filme pareciam maravilhosamente unidos aos meus olhos. A simbiose era perfeita: luxo, charme, elegância e sedução - na tela e fora dela. De tal modo, que tive esperança de encontrar James Bond, ao intervalo, a beber um Martini, ao balcão - “shaken, not stirred”. O 2002 era um local suficientemente requintado para receber o agente secreto mais elegante do mundo. Infelizmente, o senhor Bond não estava no bar e, também, não o vi à saída. Olhei o cartaz de “Octopussy - 007 Operação Tentáculo” e pensei que tinha escolhido o melhor local para ver o filme.
 
Numa das últimas vezes que voltei ao Estúdio 2002, o filme era bem diferente: “Sapatos Pretos”, de João Canijo. O filme conta a história de uma mulher, presa a um homem machista e violento. Canijo já estava especializado em retratos de Portugal. Um Portugal de “faca e alguidar”, em oposição ao “país de brandos costumes”. Um Portugal feio e sórdido, que contraria o “jardim à beira mar plantado”. No filme, a protagonista tenta mudar de imagem: pinta o cabelo, compra roupas novas, aumenta o peito, arranja um amante. Quer mudar de vida e, para isso, pensa matar o marido. Assim contado, podia ser uma história de telenovela ou uma comédia, mas o filme é tudo menos isso. A dada altura, há uma cena particularmente violenta, que chocou muitas pessoas da plateia - ao ponto de ter sido necessário chamar uma ambulância para socorrer uma senhora. Antes da projecção, tinha falado sobre essa cena numa entrevista com o realizador, que, agora, olhava para mim, atónito, surpreendido com as sirenes, os bombeiros e a aflição da senhora.
 
Não sei se foi por influência do filme, mas olhei à volta e o meu 2002 também me parecia velho e gasto. No filme não havia nada de glamoroso na transformação física da personagem principal: aquele louro era de actriz de novela mexicana, as roupas eram mau gosto, o amante era um galã de pacotilha. O Estúdio 2002 estava parecido: as carpetes estavam gastas, as cadeiras encardidas, os espelhos fora de moda. Voltei a sentir uma estranha união entre o cinema e um filme, mas desta vez pelas piores razões. 2002 já era passado.
 

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Mudança de tempo

por Miguel Bastos, em 23.02.23

Ontem, fugi às poeiras do deserto africano.
Hoje, enfrentei uma massa de ar polar.
Uau, a minha vida parece um filme do James Bond.

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Paisagem do dia

por Miguel Bastos, em 20.02.23

cabeceira.jpg 

Cabeceira de Bastos

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Morreu Burt Bacharach

por Miguel Bastos, em 09.02.23

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O compositor tinha 94 anos e uma carreira repleta de grandes canções. Colocaram-no na categoria de "easy listening". O pai de Miguel Esteves Cardoso dizia que o que Burt Bacharach fazia era "difficult composing". Era tão bom a compor, que ouvíamos tudo sem esforço.


Bacharach começou, ainda nos anos 50, ao lado de grandes "crooners" como Vic Damone e Perry Como e de grandes divas, como Marlene Dietrich. Na transição para os anos 60, já com a cumplicidade do letrista Hal David, escreveu inúmeros sucessos para a voz de Dionne Warwick como "Walk on by", "Alfie" ou "l'll never fall in love again". Ou, ainda, "I say a little prayer", que voltaria a ser um grande sucesso na voz de Aretha Franklin. O mundo despontava para rock, mas Bacharach gostava do jazz de Dizzy Gillespie e Count Basie. Em 1968, o seu amor pelo jazz foi coorrespondido por Stan Getz. O saxofonista gravou, para a editora Verve, o "songbook" de Bacharach. Vários músicos de jazz juntaram Bacharach ao seu repertório.

O cinema também foi muito importante: Dusty Springfield cantou "The look of love", para a banda sonora de "Casino Royal"; BJ Thomas cantou "Raindrops Keep Fallin' on My Head" para o filme "Dois Homens e Um Destino. A canção foi premiada com Óscar. A conquista viria a ser repetida com a canção que Christopher Cross interpretou no filme "Arthur, o Alegre Conquistador".


Burt estava fora de moda, desde meados dos anos 70, e assim continuou até aos anos 90, quando gravou um disco com Elvis Costello, premiado com um Grammy. Nessa altura, os novos músicos resgatavam a sua música leve e pop, inspirada nos grandes compositores americanos como Gershwin ou Cole Porter, no jazz, na bossa nova ou noutros ritmos latinos. Em 2012, Bacharach e Hal David receberam o prémio Gershwin. Imagino o orgulho que deve ter sentido. Olho agora para ele, na prateleira da minha sala, na letra B. Está com um bom "look". Tem Britten e Bach de um lado, Bryan Ferry do outro. Acho que não está mal acompanhado.

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Pijama

por Miguel Bastos, em 08.02.23

pijama.jpg 

- Gosto muito desse pijama.
- Eu também.
- Sabes o que é que diz aí?
- Não, pai.
- "Le premier à aller se coucher".
- Ah...
- Sabes o que quer dizer?
- Sei: "o primeiro gajo é coxo".

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Shakira, Shakira!

por Miguel Bastos, em 30.01.23

"Shakira, Shakira!", dizia o rapper de gosto questionável, num tema de gosto questionável. "Devem ser duas", pensei. São duas. A primeira, conhecia-a algures nos anos 90 e achei-lhe graça. A segunda, não gostei nem um bocadinho. Era a cantora de "Whenever, Wherever". A canção pingava, várias vezes por dia, numa rádio inundada de azeite - que eu era obrigado a ouvir, por motivos profissionais. Uma dessas Shakira entrou, depois, na banda sonora do filme "O Amor nos Tempos de Cólera". Terá sido uma proposta do próprio Gabriel García Márquez. Na altura, o escritor afirmou que Shakira era uma das grandes cantoras da atualidade e um símbolo da nova sensualidade colombiana. "Coitado", pensei, "está velhinho"! Fui ouvir a banda sonora e... o velhinho tinha razão. Esta Shakira, é maravilhosa. A outra, não me interessa. Terá sido essa, que se separou do jogador de futebol e fez uma música sobre isso ("Fraquinha, fraquinha!"). Não gosto dessa, gosto desta. Ele há gostos... e Hay amores.

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