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Pelé

por Miguel Bastos, em 30.12.22

gil pele caetano.jpg 

Pelé morreu. Na rádio, na televisão, nos jornais, lembram o epíteto: "rei". O rei Pelé. O meu coração republicano lembrou-se, no entanto e de imediato, que Pelé foi ministro do desporto, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Um homem negro, pouco escolarizado, vindo da pobreza, catapultado (pelo futebol) para o estrelato mundial, era, agora, ministro. Poucos anos depois, outro negro famoso tomou posse como ministro (desta vez, da cultura): Gilberto Gil. Não faço ideia se foram bons ministros, mas não posso deixar de pensar o quão inspirador terá sido, para tantos jovens negros e pobres, ver dois dos seus serem empossados no cargo de ministros. Aqui, os dois posam para a fotografia. Há um terceiro, na fotografia: Caetano Veloso. Um "negro quase branco", que nunca foi ministro, mas que, há muito, reina no meu coração republicano.

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A democracia

por Miguel Bastos, em 29.12.22

pns.jpg 

Há uns anos, uma jornalista muito habituada a ser notícia queixava-se - em direto, na televisão - de ser alvo de censura e de haver falta de liberdade de expressão, em Portugal. Apresentou argumentos, vitimizou-se, apontou o dedo a vários políticos, atacou. Um comentador, em estúdio, discordou. Se havia censura, como é que a jornalista estava a ter tantos minutos de "tempo de antena", num jornal televisivo, em horário nobre? É preciso usar as palavras, com cuidado. A democracia faz-se com palavras. Que as palavras sejam usadas: para elogiar, para criticar. E, "com cuidado" não significa "com cuidadinho". Significa ter algum rigor na sua utilização. Ser alvo de censura e falar em direto no telejornal das oito é uma contradição evidente.
 
Os acontecimentos políticos, dos últimos dias, trouxeram os discursos populistas da praxe, com críticas à democracia e alusões, mais veladas ou mais explicitas, a outras formas de regime. Ora, o que está a acontecer é a democracia: com os seus defeitos, com as suas virtudes. Uma secretária de Estado tinha saído da administração da TAP, com uma indeminização que chocou a generalidade das pessoas. O presidente da República fez perguntas e declarações públicas. A oposição pediu responsabilidades e a cabeça de responsáveis. As demissões sucederam-se. Os partidos multiplicam-se em declarações e iniciativas, entre elas, uma moção de censura e o pedido de eleições antecipadas.
 
Os portugueses podem e devem criticar o governo: este governo, qualquer governo. É isso, a democracia. Felisberto Desgraçado, personagem inventado por Herman José, defendeu que “A democracia foi feita para ter um único partido. Se Deus quisesse que a gente tivesse mais partidos tinha-nos feito aos bocados”. Winston Churchill afirmou que "A democracia é o pior dos sistemas, com exceção de todos os outros.” Desculpa, Desgraçado, mas vou pelo segundo.
 
[Fotografia: António Cotrim/LUSA]

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O normal

por Miguel Bastos, em 30.06.22

pedro nuno santos.jpg

Claro que há um dado novo: o primeiro-ministro trava a decisão sobre o novo aeroporto, anunciada pelo ministro da tutela.
Quanto ao resto - a discussão do aeroporto tem 50 anos, com apresentações, contestações, localizações e demissões - nem por isso.
Lembram-se do novo normal? Não vai acontecer. Temos o normal, de novo. [Fotografia: Tiago Petinga/LUSA]

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Dois melómanos

por Miguel Bastos, em 24.03.22
pedro adão e silva.jpg
- Se bem percebi, vai ver os Divine Comedy.
- Vou, hoje à noite.
- Eu vou vê-los amanhã, em Lisboa.
- "Vê-lo". Vai ser um concerto de voz e piano.
- Ai, sim? Não sabia. O que é que achou dos últimos discos?
- Menos bons.
- Para mim, o "Victory For The Comic Muse" foi uma deceção.
- Também achei. Mesmo assim, tem o ...
- "A Lady Of A Certain Age"
- Exato, uma obra-prima.
- Isto, hoje, foi um bocado chato. Não achou?
- Um bocadinho técnico, mas...
- Mas já valeu a pena, para falar um bocadinho de música.
Dois melómanos, à conversa. Um deles, acaba de ser nomeado ministro da Cultura.
 
Canção aqui: https://www.youtube.com/watch?v=7e7tWw00FoM

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Sempre a apreender

por Miguel Bastos, em 05.07.21

O meu primo tem um carro igual ao do senhor ministro. Perguntei-lhe se o tinha comprado, ou se... Reagiu mal e começou a insultar-me. Tive que lhe pedir desculpa e tudo! Mas, acho que apreendi a lição. Sim, apreendi.

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Juventus

por Miguel Bastos, em 10.03.21

pedro nuno santos.jpg

Não percebo nada de futebol. Por isso, peço a vossa ajuda. Conseguem-me explicar porque é que a Juventus foi buscar Pedro Nuno Santos para treinador?

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Quem fala assim não é Gago

por Miguel Bastos, em 06.09.18

justino.jpg

15% dos professores nunca deviam ter entrado no sistema de ensino. 25% são excepcionais. 60% são bons/razoáveis. Quem fala assim não é Gago. Esse já faleceu. Quem fala assim é Justino. O ex-ministro da educação - nos duros tempos de Durão - diz, ainda, que é preciso tratar melhor os professores. Pois... 

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Zap Canal

por Miguel Bastos, em 18.05.18

bruno.jpg

Ontem, dei a volta ao Zap Canal. Mudar de canal, para ver o mesmo tema, com os mesmos protagonistas. O presidente da assembleia geral do Sporting fez o pleno: rodou por todos os canais, na mesma noite. O presidente do Sporting falou à Nação: numa conversa em família, em direto e em sentido único, como convém.

 

Antes, durante e depois, foi comentado pelos comentadores do costume. No canal do Estado, um ex-ministro - que foi, até há pouco tempo, apoiante de Bruno de Carvalho - falou do papel regulador do Estado. “O Estado não vai fazer nada”, responde o outro, “porque os políticos não têm coragem.” Com décadas de política, o político corajoso também foi ministro, num governo liderado por um ex-presidente do Sporting. “Ainda esta semana, um comentador ofereceu pancada a outro”, diz o primeiro. “Eu sei quem é”, diz o outro, “é meu amigo”. Claro que é: trabalharam juntos nos jornais, foram juntos para o governo, pelo mesmo partido. Que é, também, o partido do protagonista no canal ao lado: outro ex-ministro, várias vezes apontado como alternativa ao actual presidente do Sporting.

 

No Zap Canal falou-se de muita coisa. Infelizmente, não se falou de separação de poderes.

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O ex-ministro em funções

por Miguel Bastos, em 03.11.15

calvao da silva.jpg

O futuro ex-ministro da Administração Interna anda cheio de vontade de fazer coisas. Ontem, Calvão da Silva foi a Albufeira falar de Deus e do demónio, a pessoas cobertas de tristeza e de lama e descobertas de seguro. Deve ter saído de lá com a sensação de dever cumprindo. Entretanto, para alegrar o ambiente, mandou marcar duas festas: uma com a GNR, outra com a PSP. Paradas, continências, generais e comandantes. Vai ser linda a festa, pá!

 

Percebe-se a pressa, mas é tudo demasiado “fora da caixa”. Geralmente, os ministros são mais reservados no exercício das suas funções. Depois, quando saem, são mais analíticos, mais explicativos e mais prospectivos: “eu faria isto, eu faria aquilo”.

 

Por isso, as televisões estão cheias de ex. ministros. São todos competentes, do ponto de vista técnico, e brilhantes, do ponto de vista político. O que faz com que, cada vez mais, as pessoas queiram ser ex.ministros. A única chatice é, primeiro, ter que ser ministro. Calvão da Silva não percebeu esta coisa simples: não se pode ser ex-ministro, enquanto se está em funções.

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