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Nuno Pacheco assinala a coincidência, hoje, no Público,: "no mesmo ano em que Manuel Alegre escrevia esta sua trova ['Trova do vento que passa'], 1963, era editada do outro lado do Atlântico mais uma canção a falar do vento, 'Blowin' in the wind'".
A coincidência é destacada no livro "Canções da Liberdade, a Política Cantada em Portugal e no Mundo (1964-1974)". Nuno Pacheco evoca, depois, outros livros que abordam o tema da canção política: entre eles o recente (e excelente) 'A Revolução antes da Revolução', de Luís de Freitas Branco.
Outra coincidência: este texto está nas costa de outro, também no Público, 'À volta da aparelhagem', onde Miguel Esteves Cardoso reflete sobre a falta de discussão dos mais jovens, à volta do prazer de ouvir música e ver televisão, em conjunto, lamentando que já ninguém o faça.
Terceira coincidência: escrevo este texto, enquanto tento adivinhar o que Capicua estará a conversar, no estúdio que fica debaixo dos meus pés, com o autor de um disco que se chama, precisamente, 'Coincidências': Sérgio Godinho.
Coincidências. Que as há, há. Felizmente.
O compositor tinha 94 anos e uma carreira repleta de grandes canções. Colocaram-no na categoria de "easy listening". O pai de Miguel Esteves Cardoso dizia que o que Burt Bacharach fazia era "difficult composing". Era tão bom a compor, que ouvíamos tudo sem esforço.
Bacharach começou, ainda nos anos 50, ao lado de grandes "crooners" como Vic Damone e Perry Como e de grandes divas, como Marlene Dietrich. Na transição para os anos 60, já com a cumplicidade do letrista Hal David, escreveu inúmeros sucessos para a voz de Dionne Warwick como "Walk on by", "Alfie" ou "l'll never fall in love again". Ou, ainda, "I say a little prayer", que voltaria a ser um grande sucesso na voz de Aretha Franklin. O mundo despontava para rock, mas Bacharach gostava do jazz de Dizzy Gillespie e Count Basie. Em 1968, o seu amor pelo jazz foi coorrespondido por Stan Getz. O saxofonista gravou, para a editora Verve, o "songbook" de Bacharach. Vários músicos de jazz juntaram Bacharach ao seu repertório.
O cinema também foi muito importante: Dusty Springfield cantou "The look of love", para a banda sonora de "Casino Royal"; BJ Thomas cantou "Raindrops Keep Fallin' on My Head" para o filme "Dois Homens e Um Destino. A canção foi premiada com Óscar. A conquista viria a ser repetida com a canção que Christopher Cross interpretou no filme "Arthur, o Alegre Conquistador".
Burt estava fora de moda, desde meados dos anos 70, e assim continuou até aos anos 90, quando gravou um disco com Elvis Costello, premiado com um Grammy. Nessa altura, os novos músicos resgatavam a sua música leve e pop, inspirada nos grandes compositores americanos como Gershwin ou Cole Porter, no jazz, na bossa nova ou noutros ritmos latinos. Em 2012, Bacharach e Hal David receberam o prémio Gershwin. Imagino o orgulho que deve ter sentido. Olho agora para ele, na prateleira da minha sala, na letra B. Está com um bom "look". Tem Britten e Bach de um lado, Bryan Ferry do outro. Acho que não está mal acompanhado.
David Ferreira conta, hoje, que Ricardo Camacho começou a produzir discos, com a ideia de semear os Joy Division em Portugal. A primeira experiência foi a canção "Foram cardos, foram prosas": letra de Miguel Esteves Cardoso, música de Ricardo Camacho, voz de Manuel Moura Guedes. Tocam Vítor Rua e Toli, dos GNR. A beleza da coisa é que, apesar de soar a Joy Division, a canção tem uma melancolia, profundamente portuguesa. Ricardo Camacho iria explorar e aperfeiçoar a sonoridade com Né Ladeiras, António Variações e a Sétima Legião. O Ricardo era um génio. Era mesmo.
https://www.rtp.pt/play/p955/e355229/david-ferreira-a-contar
Esta semana, o Sapo Blogs surpreendeu-me com um livro sobre o Independente. O livro sai amanhã, mas os autores já andam a deixar pistas.
Confesso que estou muito curioso para ler o livro. Gostei logo do grafismo: parece uma capa do jornal. E gostei do subtítulo: “A Máquina de Triturar Políticos”. Era isso que faziam. Escolhiam alvos e atiravam a matar, com títulos irreverentes, acutilantes, hilariantes. Usavam trocadilhos, ditados populares e referências da cultura pop. Mas, apesar da juventude, não havia inocência. O Independente tinha objectivos políticos claros: combater a esquerda, o cavaquismo e o PSD, e afirmar uma nova direita. Esta gente “irreverente”, era, afinal, profundamente conservadora. De tal forma, que o PSD e Cavaco eram “de esquerda”. De esquerda, vejam bem!
O Indy acabou porque, afinal, dependia de muitas coisas. Dependia de Cavaco, que saiu do governo; da guerra com o Público e o Expresso, que teimavam em prosperar; do CDS; de Paulo Portas, que, afinal, queria ser político. A sua entrada para a política acabou, simultaneamente, com o jornal e com o CDS, de Manuel Monteiro.
Hoje, Paulo Portas coliga-se com o PSD, vota Cavaco, vai votar Marcelo e adora a Europa. O CDS não cresce. Miguel Esteves Cardoso escreve no Público. O Expresso permanece e lidera.
Não sei porquê, mas lembrei-me dos vencidos da vida...