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No meio de um ambiente cinzento, havia o tio Jorge. Otelo e a irmã gostavam de imitar o tio. Chamavam-lhe a brincadeira dos “pás”. “Eh pá, vamos comprar cigarros”, dizia um. “Eh pá, vamos ao café”, dizia outro. Quando li isto, na biografia de Otelo Saraiva de Carvalho, de Paulo Moura, sorri.
Eu também brinquei aos “pás”, com os meus irmãos. Nós dizíamos “brincar aos jovens”. Falávamos ao telefone, íamos à praia, passeávamos de carro, bebíamos “cocktails”, íamos ao cinema e à discoteca. Os exemplos, vinham das novelas. Nós não tínhamos um tio Jorge, cosmopolita e “bon vivant”, que trabalhava numa companhia aérea. Mas dizíamos “pá”.
Em 1974, Otelo brincou, de novo, “aos pás”. Foi no 25 de Abril. O estilo manteve-se: “Mónaco e México já caíram nas nossas mãos.”; “Eh pá, palavra de honra? Isso é porreiro, pá”; “Desculpe, lá, qual é o seu nome?”; “Otelo Saraiva de Carvalho”; “Eh, pá!”.
Francisco Buarque de Holanda imortalizou a brincadeira numa canção: “Sei que estás em festa, pá”; “Eu queria estar na festa, pá”; “Lá faz primavera, pá”. O Chico, pá, a falar como o Otelo!
[Texto publicado, originalmente, em 22 de Junho de 2015]
O telefone tocou. Do outro lado, a pergunta: "Sabes quem é que é o Luís Filipe Costa?" "Que Luís Filipe Costa?", perguntei, "O jornalista, o homem do comunicados do MFA?". "Esse mesmo", respondeu o meu chefe de então, "Preciso que me faças um perfil alargado, sobre ele, para um programa de homenagem que vamos fazer este fim de semana". "Mas, porque eu?", continuei a perguntar. "Porque, até agora, foste o único que soube logo de quem é que estamos a falar". Foi por essa altura, que fiquei a saber que o jornalista não foi "só" a voz da revolução na rádio, ele já tinha revolucionado a própria rádio. Luís Filipe Costa morreu, hoje, tinha 84 anos.