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Candidatos “independentes”, filiados num partido. Candidatos “independentes”, sem partido, mas com várias décadas de partido. Candidatos “do partido”, sem o apoio do partido. Candidatos “sem partido”, com o apoio do partido. Estas presidenciais têm de tudo. Até candidatos “independentes”, com partido, sem o apoio do partido, mas com “recomendação” de mais do que um partido.
A velha discussão sobre a mulher de César (que “não basta ser séria, tem que parecer”) na política, não se aplica às eleições presidenciais. Porque há muitas variáveis a introduzir. Por exemplo: “quem é a mulher de César?”; “ela é (mesmo) casada com o César?”; “ele reconhece o casamento?”; “e ela?”, etc. Todas estas questões confundem o eleitorado, os partidos, os apoiantes, os comentadores e os próprios candidatos.
Poderíamos complicar (ainda mais) e perguntar “quem é César?”. Eu só conheço um. É de um partido e apoia um “candidato independente, sem partido”. Outros, do mesmo partido, não gostaram e apoiam outro candidato, que também é “independente”, mas do partido.
Esta é a campanha mais "independente" de sempre. E a mais aborrecida. No domingo, teremos um "independente" em Belém.
Estamos na campanha para as presidenciais. Tenho tentado seguir os debates na televisão. É difícil. São mais de 20. Ontem, até ouvi o debate, na rádio, com 10 candidatos. Isso mesmo, dez. Enchiam o estúdio da Antena 1. Falou-se do cargo de presidente, de governação, de demitir governos, do Banif. Tino de Rans adaptou António Variações para dizer que “quando os bancos não têm juízo, o povo é que paga”. Foi um debate e pêras!
À noite, Miguel Sousa Tavares considerava que há candidatos que procuram, apenas, publicidade. São as presidenciais ao serviço dos 15 minutos de fama, de Andy Warhol. Freitas do Amaral reforçou o óbvio: ninguém deve começar uma carreira política pela Presidência da República. Maria de Belém já tinha dito o mesmo. Mas Maria é candidata a Belém. Freitas já foi e não volta a ser.
A democracia é de todos e para todos. Mas, ao ver tantos e tão estranhos candidatos, pergunto-me se deve ser um albergue espanhol. Com todo o respeito pelo setor hoteleiro e pelos espanhóis.
Pacheco Pereira tem razão: Marcelo Rebelo de Sousa conseguiu condicionar o tema das eleições presidenciais. Nos últimos anos, não se falou de outra coisa. Quando se falou de eleições legislativas antecipadas, falou-se, também, de presidenciais. Quando se marcaram as legislativas, falou-se de presidenciais. Quando começou a campanha das legislativas, falou-se de presidenciais. Agora, que devíamos estar a discutir presidenciais, falamos de outra coisa qualquer.
Marcelo não condicionou só os media e os outros candidatos da direita. Também condicionou o próprio Partido Socialista. António Costa tem mais estima por ele, do que por Maria de Belém - e não vai mexer uma palha. Manuel Alegre e José Sócrates já chamaram a atenção para os custos que isso vai ter para o PS. Mas já é tarde demais. A “criação” de Sampaio da Nóvoa foi um fiasco; Guterres não estava mesmo interessado; Maria dividiu o caminho para Bélem. O PS vai perder, por falta de comparência. E Marcelo vai mesmo ser entronizado. As eleições serão, apenas, uma formalidade democrática.
O rapper Kanye West anda com ideias de se candidatar à presidência dos Estados Unidos. Obama já ironizou dizendo que ninguém votará num negro com um nome engraçado. Ele já se tinha referido, a si próprio, nesses termos.
Na Europa, olhamos, muitas vezes, com sobranceria para os Estados Unidos. Achamo-nos mais cultos, mais abertos, mais multiculturais. Mas, a verdade é que foram eles que elegeram um presidente negro e podem estar à beira de eleger uma Presidente. Ou uma Presidenta, como diz Dilma Rousseff.
E em Portugal, estaremos prontos a ter uma Presidenta? Ainda não deve ser desta. Mas, é muito curioso que estejamos, pela primeira vez, com várias mulheres a apresentar candidaturas. Vivemos muitos anos com excepções: Maria de Lurdes Pintassilgo foi candidata, há quase 30 anos; Leonor Beleza teve que pedir para a tratarem por “Ministra”.
Os tempos mudaram? Com certeza. Mas não mudam sozinhos. O nosso meio político continua muito fechado sobre si próprio. Mas vai-se abrindo. As Presidentas são um bom exemplo.
Rui Rio não avança para Belém. Porquê? O ex. futuro candidato explica tudo, no JN. Como sempre, explica bem. Os outros é que percebem mal. Ele seria a garantia de estabilidade. Mas não avança, porque a sua candidatura seria vista como desestabilizadora. Ele quer democratizar a vida nacional. Mas não avança, porque o seu partido não obriga toda a gente a votar nele. Ele tem vantagens sobre os outros, para renovar o regime. Mas, nas circunstancias actuais, os outros candidatos têm aptidões mais adequadas.
Confusos? Rui Rio explica melhor o problema. Ele queria reformar o sistema político, o sistema judicial e até na comunicação social (ó ironia!). E acha que pessoa indicada para o fazer. Ele é o melhor, só que descobriu que os outros não acham o mesmo.
Como, mesmo assim, estamos confusos, vou socorrer-me de Maria de Belém. A candidata apresentou-se, esta semana, e lembrou que o presidente da República não é coroado, é eleito. A mensagem tinha um alvo: Marcelo Rebelo de Sousa. Mas, pelo vistos, acertou em Rui Rio.