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Annie era filha única, do último diretor da PIDE. José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz chamaram-lhe "A filha rebelde". Um exagero, decerto. Annie era, apenas, uma rapariga do seu tempo. Que não gostava assim lá muito dos chefes reacionários de Portugal. E que gostava um bocadinho lá muito dos chefes revolucionários de Cuba. Apaixonou-se, fugazmente, pelo guerrilheiro Che Guevara. Namorou, prolongadamente, com um ministro do Interior chamado Abrantes. Fora isso, tudo como dantes? Não. Porque, entretanto, também houve uma revolução em Portugal. E os filhos da revolução mandaram o pai, Silva Pais, para uma prisão que ele bem conhecia: Peniche. A vida de Annie dava um filme. Dava. Para já, deu um livro (um excelentíssimo livro!) e uma série (que começa, hoje, na RTP).
Quando um livro é adaptado para um filme, no cinema, ou para uma série, na televisão, é costume ouvir-se dizer que se gostou mais do livro. Neste caso, antes de ser livro, este conjunto de entrevistas, da Anabela Mota Ribeiro, foi um programa na RTP. Tenho as entrevistas gravadas, mas, confesso, não as vi. Muitas vezes, chego mais depressa aos livros do que aos ecrãs. Foi, uma vez mais, o caso. Os "Filhos da Madrugada" são 25 entrevistas com 25 pessoas nascidas depois da "manhã clara", procurada por José Afonso, e confirmada no "O dia inicial inteiro e limpo", descrito por Sophia de Mello Breyner Andresen. São homens e mulheres, de esquerda e de direita, e de idades, origens, profissões e convicções muito diversas. É possível, no entanto, identificar um chão comum, neste caleidoscópio que concretiza e enriquece a história e as conquistas de Abril: o da liberdade e da democracia. A adaptação para livro é maravilhosa. Qualquer dia, vejo a série original. Depois comparo.
Depois do discurso sobre a "democracia amordaçada" e o "cinquentenário da Revolução de Abril", resolvi regressar às páginas deste livro de Cavaco Silva. É, sem dúvida, o seu livro mais interessante.
16 de março de 1974. Foi uma tentativa de acabar com a ditadura. Mas, quando penso no Levantamento das Caldas, dá-me sempre vontade de rir. Não é pela questão política. É porque penso noutras coisas. Deve ser da louça. Ou, então, da minha imaturidade.
Passo Coelho disse o óbvio: Marcelo é um presidente feliz. “Pois sou” responde Marcelo, em Itália, antes de regressar a Portugal, para embarcar rumo a Moçambique. Já tínhamos reparado. Marcelo fez uma campanha onde se via que estava feliz. Depois “irradiou felicidade” na tomada de posse; no Conselho de Estado; na ida a Bruxelas; no 25 de Abril. Marcelo está feliz porque está onde sempre quis estar.
Na (excelente) biografia de Marcelo, o jornalista Vítor Matos descreve a forma como a família, os amigos, ele próprio, viam o futuro de Marcelo. Ele chegaria a Presidente do Conselho, como Salazar, mas (sobretudo) como Marcelo Caetano. Marcelo Nuno (era assim que Caetano o tratava) não herdou apenas o nome do líder político, que governou Portugal até ao 25 de Abril. Herdou (e cultivou) o gosto pela academia, pelos livros, pela política, pela comunicação.
O livro de Matos começa com as lágrimas do amigo Eduardo Barroso ao ouvir a demissão de Marcelo da presidência do PSD e termina com a actividade de Marcelo, republicano, a dirigir uma fundação monárquica. Ao longo do livro, o autor explora as inúmeras contradições e mudanças de rumo de Marcelo. Mas há uma constante: ele sempre quis estar à frente do país. Que é onde ele está agora. Feliz.