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"Celebrar o quê? Não há planeta B!", disseram os jovens que mostraram as nádegas (bué original!) escritas com a palavra "ocupa". Ocupa, quem? Ocupa o quê? Ocupemo-nos da rima. Formalmente, é melhor do que a chamada rima pobre - com verbos, no infinitivo, a acabar em "ar" ou "ir". Mas não resiste à análise de conteúdo. "Celebrar o quê?", perguntam. "A democracia", respondemos. "Não há planeta B!", exclamam. "Nem democracia B", afirmamos. Em rima: "A alternativa existente, não dá bom ambiente" ou, ainda, "Calças para cima, em nome do bom clima". Não são rimas excecionais, mas é um começo...
As imagens das manifestações contra as medidas restritivas, decretadas por vários governos europeus para travar a COVID, são assustadoras. Este fim de semana, milhares de pessoas saíram à rua, em várias cidades de vários países, para pedirem "liberdade". Saíram aos milhares, a maioria sem máscara, exigindo que a sua opinião seja ouvida enquanto se contagiam uns aos outros, alguns acompanhados pelos filhos, no meio de petardos, bombas incendiárias, canhões de água e gás lacrimogénio. Às vezes, a Europa "civilizada" é, mesmo, assustadora.
A manifestação vai no adro. Um homem, ainda jovem, destaca-se na multidão. Grita palavras de ordem. Ergue o punho, furiosamente. Coluna direita, ombros largos, peito para fora, braços e pernas arqueadas. A cabeça é rapada. A passada firme. Parece que marcha, nas suas botas de estilo militar. Veste de preto: calças justas, camisa, suspensórios, casaco tipo bomber.
O jovem de cabeça rapada e pose militar, sai do núcleo da manifestação e começa a distribuir panfletos: consigo ler, de soslaio, as palavras “luta", "apartidário", "movimento", "organização." Aborda um rapaz, perto de mim. Terá uns 13, 14 anos. Pergunta-lhe a idade. Aperta-lhe o braço. Fala-lhe da causa e da luta. Estranho o tom de voz. Não é marcial. Estende-me um panfleto. Preparo-me para o rejeitar. Olho para a mensagem, estupefacto. Fala da defesa da igualdade racial e de género. Da rejeição da violência e da descriminação. Da protecção dos animais. Guardei o papel no bolso. Tirei-o agora.
Não se deve julgar o livro pela capa. Eu sei. Mas, também, não se deve escolher uma capa aleatoriamente. Acho eu. Ou achava...
Os taxistas são brutos. Os motoristas da Uber são cultos. Os táxis estão imundos. Os Uber brilham. Os taxis dão musica pimba. Os Uber oferecem jazz. Os táxis são passado. A Uber é o futuro. Os táxis são caros. A Uber é barata. Desculpem, mas não acredito. A discussão taxis versus Uber, não se pode colocar sobre estereótipos. Nem sobre preços. Vejo, à minha volta, uma quase unanimidade de gente a apoiar a Uber. E, no entanto, a UBER não existe. É só uma aplicação, detida por empresas multinacionais de capitais de risco. Dessas, que se gosta de apontar o dedo. O que temos, depois, são motoristas “freelance”, sem qualquer tipo de regulamentação.
É mais barato? Poderá ser. Mas o tabaco de contrabando também é e não vejo ninguém a defender que é assim que deve ser. A Uber deve ter regras, como qualquer outra actividade. Deve ter motoristas com formação, seguros adequados, pagar licenças, pagar impostos. As empresas devem concorrer, num quadro de igualdade. E isso, não tem acontecido. O que tem acontecido é um setor que tem regras e obrigações, ameaçado por um novo negócio que não tem regras nenhumas. Se os taxistas perderem o emprego, ficam sem vida de gente. Se a Uber falhar, a Goldman Sachs investe noutro negócio qualquer.