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"És lindo", grito-lhe, do outro lado da rua. "Tu é que és!", responde-me o Arsénio, com um sorriso de orelha a orelha. Sempre lhe invejei o sorriso, e não só: o porte, o estilo, a elegância, a pinta, a ginga. O Arsénio tinha o ar de quem conseguiria sacar as miúdas mais jeitosas do liceu. Era só querer. Mas não quis. Tanso. Sacou uma e casou com ela. Sempre na moda, começou a usar fatos de estilista, de bom corte, que combinava, impecavelmente, com peças mais descontraídas, de bom gosto. Mais tarde, começou a descobrir a sua negritude e a usar, também, peças de inspiração africana. Chamávamos-lhe o Arsénio Sexual e brincávamos com a sua boa figura: "Nunca te acusaram de Arsénio Sexual?" "Não, que eu sou um rapaz bem-comportado", respondia, sempre a sorrir. O Arsénio é uma figura. É tipo eu: só que mais alto, mais negro, mais musculado, mais charmoso, mais tudo. Fora isso, quase que somos parecidos. Ah, ele é parecido com o Jorge Fonseca.
[Foto: Jeon Heon Kyun-Epa]