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Prova de esforço

por Miguel Bastos, em 06.02.24

- Fui ao médico e ele assustou-me.
- Então porquê?
- Tenho as análises todas avariadas. O médico não gostou do eletrocardiograma, nem do raio x, nem do raio que o parta.
- Mas o que é que diziam os exames?
- Colesterol, ácido úrico, diabetes, tensão alta, arritmia...
- Bem, não te falta nada!
- Foi o que o médico me disse.
- E o que é que ele te receitou.
- Uma data de medicamentos, exames e mais exames, e uma dieta rigorosa.
- Pois...
- Nada de fritos, nada de assados, nada de cerveja, nada de digestivos. Só me deixa beber um copo de vinho e fumar dois cigarros por dia.
- Quando é que voltas ao médico?
- Daqui a duas semanas. O médico era para me fazer uma prova de esforço...
- E não fez?
- Não e não me queria dizer porquê.
- Como assim?
- "Ah, deixe lá isso" e tal. E eu "Então, doutor, não vou fazer a prova de esforço". E o tipo "Ah, temos tempo".
- Se calhar, quer ver o resultado dos outros exames e da dieta.
- Foi o que ele me disse, mas eu voltei a insistir.
- E ele?
- Ele, depois de lhe ter perguntado mais duas ou três vezes "porquê", vira-se para mim e disse: "Ó, homem, se você faz uma prova de esforço, agora, fica-me estendido no chão, com um ataque cardíaco". Estás a ver o sacana?!
- Então, tu perguntaste, ele respondeu!
- Eh, pá, mas não precisava de dizer daquela maneira! "Fica-me estendido"?! Sacana do gajo, pá!

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Doutores e engenheiros

por Miguel Bastos, em 23.06.23

bata.jpeg 

- Sabes, os meus alunos...
- Sim...
- ... como é que eu hei de dizer? Não é que não sejam inteligentes..
- Mas, são maus alunos?
- Não, mas são desinteressados.
- Não estudam?
- Estudam e acabam por tirar boas notas. Mas são...
- Mas são...?
- Não há aqui médicos, pois não?
- Não.
- São médicos. É o melhor que eu posso dizer.
- Então, mas os médicos não são muito inteligentes? São bons alunos, as médias são altíssimas...
- Pois, (lá está) e eles estudam, marram aquilo tudo... mas falta-lhes tanta coisa.
- Por exemplo...
- Falta-lhes ciência: física, química, biologia...
- Ah...
- E falta-lhes mundo, pensamento abstrato, falta-lhes filosofia...
- A sério?
- E, a mim, falta-me paciência. E saúde, que não vou para nova. E tenho muitos amigos médicos. Por isso, convém que não me exceda nas considerações.
 
Riu-se, a minha amiga, com o seu riso desconcertante. Rimo-nos todos. Penso nesta conversa, de cada vez que ouço discursos arrogantes, de quem acha que sabe tudo. De médicos, sim, mas de outras profissões que beneficiam de um estatuto social, que outras não têm. E porque há sempre alguém que sabe mais do que nós e que sabe mais do que aqueles que acham que sabem muito. Porque, no fundo, ninguém sabe muito de tudo. Quando muito, uns sabem muito de umas coisas e outros sabem muito de outras coisas. Se percebêssemos isso, talvez passássemos, todos, a saber mais, sobre várias coisas.

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A confiança

por Miguel Bastos, em 07.12.21

tedros.jpg

A pandemia aumentou a confiança dos portugueses na ciência e nos profissionais de saúde, refere um estudo da Universidade do Porto, que indica que a população passou a confiar menos nos políticos e nos jornalistas. Espero não ser corporativista, mas fui ver os alinhamentos dos noticiários que referiam o estudo. Eis alguns exemplos:
 
- o governo português garante que está tudo a postos para vacinar os menores
 
- o segundo voo de repatriamento de portugueses, vindo de Moçambique, chegou a Lisboa
 
- a vacinação obrigatória está em discussão, em vários países
 
Claro que podemos (e devemos) discutir as medidas de combate à pandemia, a sua aplicação e fiscalização ou o tempo de decisão. Mas temo que a generalidade das pessoas tenha ficado com a ideia que "os políticos" andam a discutir as vacinas e os confinamentos, enquanto os médicos andam a trabalhar, o que, manifestamente não é verdade. Não são os médicos que compram vacinas, que abrem centros de vacinação, que fecham escolas. Já têm trabalho que chegue.
 
Evidentemente, há muitos casos em que os políticos falham. A nova variante, por exemplo, veio por a nu uma evidência: África continua arredada do processo de vacinação e, enquanto for assim, não será possível controlar a pandemia. E quem é que denúncia isto? Os médicos e cientistas, mas, também, as Nações Unidas, dos... políticos.
 
E, já agora, como é que isto tudo se sabe? Parece que os jornalistas disseram qualquer coisa sobre o assunto. Os mesmos jornalistas que perdem a confiança das pessoas, por causa de fenómenos como a "desinformação" e as chamadas "'fake news'", que são o oposto do jornalismo.
 
O mundo está confuso e as pessoas têm todo o direito de andarem atentas e desconfiadas. Mas, gritar por gritar, disparar em todas as direções ou deitar tudo para o mesmo caixote do lixo, só vai piorar as coisas.

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